19

7.6K 929 111
                                    

Quem se importa se mais uma luz se apagar?
Bem, eu me importo.
(One More Light - Linkin Park)
Noelle

Algumas coisas que desejamos muito acabam por nos prejudicar mais que imaginamos. Tentar entrar na faculdade, enquanto estudo na comunitária, está sendo assim. Estudar para os testes está me deixando maluca, e eu tento não demonstrar isso quando o Peter está aqui, mas quando estou sozinha choro só de tentar ler o livro.

A minha sanidade restou somente para que eu possa não demonstrar o quão destruída estou. Saio para caminhar e espairecer um dia, e me pego encarando a água que corre abaixo de uma ponte, pensando em tantas coisas ruins que saio correndo e quase derrubo uma senhora, que aponta a bengala para mim e me ameaça. Só paro de correr quando entro no restaurante da minha mãe. Ela percebe que não estou bem e me faz companhia na mesa, a roupa de chef atraindo olhares.

— Posso saber a razão para você estar encarando este livro com tanta raiva?

— Este livro me odeia. — empurro ele.

— Se ele te odeia, para quê você está lendo?

— Estudos, mãe. Estudos. A matéria de química não era tão difícil na escola, mas eu posso lidar com isso.

— Ok então. Hoje o Peter passou no restaurante com aquela menininha adorável e um cachorro, estava atrás do seu pai. Há alguma chance dele deixar o cachorro comigo um pouco, algum dia? Ouvi que ele vai trabalhar para o Maurice, e isso vai fazer com que o cachorro fique sozinho.

Sorrio.

— Mãe, você não conhece a Amigão. Na semana passada ela mastigou o controle da televisão do Peter e enterrou o que sobrou no quintal, para que ele não descobrisse. É um cachorro e tanto, mas cada vez que vou visitar ele há uma bagunça nova causada pelo cachorro. Você terá que ser firme, sem ceder.

— Eu posso fazer isso. Ei Noelle, o que é isso no seu rosto? Mon Seignur Jésus, são as olheiras mais escuras que já vi, e olhe que fui maquiadora. Você está dormindo direito?

— Sim. Eu durmo muito bem. — minto.

— Certo, e essa coisa roxa debaixo dos seus olhos é maquiagem. Entendido.

Levanto os olhos do livro, encarando ela. Abaixo o livro e encosto o rosto nas mãos.

— Estou ótima.

Ela pega as cápsulas de café que tomei nas últimas horas e coloca no pote de coleta das cápsulas. Encara o meu estado lastimável, e ao meu rosto em seguida.

— Noelle Tulipe Bertrand, quando foi a última vez que você dormiu?

— De noite. — digo, mas não lembro qual noite exatamente.

— Sei. Você está indo se consultar? Teve uma hora ontem.

Comprimo os lábios, sem dar uma resposta.

— Filha, o que está acontecendo? 

— Não achei que as provas da faculdade fossem tão difíceis, mãe. Eu preciso passar, mas tentar entender essa matéria é impossível. — reclamo.

— E você acha que acabar no hospital vai te ajudar a passar? Sanidade, Noelle, não é água. Você não abre a torneira e toma um gole de sanidade. É muito mais fácil se perder no meio de horas sem sono com muito estudo que se encontrar em um sono normal com uma quantidade saudável de estudo. Você acha que deixar de dormir vai te ajudar, não vai, só vai te deixar exausta e sem memória.

Provocando Amor - Série Endzone - Livro 4Where stories live. Discover now