Como um navio afundando lá fora,
Eu vou alcançar você antes que eu afunde também.
(Sinking Ship - Seafret)
Peter

Eu cometi alguns erros na vida. Alguns mais graves, outros nem tanto. Faz parte de ser humano, eu sei, e alguns geram consequências, também sei. O arrependimento é, talvez, uma das partes mais saudáveis do erro. Mas às vezes este vira remorso, e é tão maléfico quanto repetir o erro, que é o meu caso.

Por exemplo, eu deveria ter deixado a Vivian se ferrar até o final das burradas que faz uma única vez, para ter a mínima noção do quanto aquilo afeta a nossa filha, ao ponto dela pedir outra mama. Mas não, lá estava eu, sempre atrás dela, limpando a sujeira e a colocando para dormir. É fácil achar que só por ela possuir a guarda da Gwen é a mais responsável de nós dois.

Não é.

Comparo ela a um cachorro que cresceu podendo fazer o que quisesse, mordendo quem interessasse e correndo atrás da visita que fosse, em um ambiente sujo, sem luz e deficiente de amor. Então, um dia, salvaram-o e levaram para um abrigo, onde havia tudo que um ser vivo precisa, comida, calor, luz, água e liberdade, mas com os limites saudáveis; mas ela não gostou de não poder continuar mordendo quem interessasse e fugiu para onde pudesse.

Eu sou aquele que tenta levá-la de volta. A única diferença dessa comparação com a vida real é que cachorros dão muito menos trabalho que ela, e olha que resgatei o Amigão, meu companheiro canino, de um lugar bem ruim.

— Ei garoto, você precisa de um banho. — digo ao entrar em casa, encontrando-o imundo.

A palavra "banho" o faz correr para debaixo da mesa da cozinha, onde acha que se esconde. Me agacho na frente dele.

— Amigão, já falei que para você se esconder, não basta só algo acima.

Puxo ele de lá, e vejo que há algo escondido abaixo do corpo pesado dele. Uma carta. Uma intimação para depor o caso do Anthony, porque acham que posso ser o culpado. Respiro fundo e trago ele para onde posso colocá-lo sobre as quatro patas.

— Sabe garoto, às vezes desejo ter ficado na Alemanha. Não conheceria a Heaven ou você, mas estaria livre deste fantasma. Esse cara assombra meus sonhos, agora assombrará a realidade também, e eu nem conheço ele!

Ele lambe meu rosto, o bafo de carne indicando que o vizinho andou alimentando-o novamente. No banheiro, tento fazê-lo entrar debaixo do chuveiro, mas ele me derruba no chão e corre para o meu quarto. Vou atrás e o encontro "escondido" atrás da cortina, com metade do corpo para fora. Carrego ele de volta para o chuveiro, sofrendo com o peso do pitbull agitado, e no momento que se molha desiste de correr.

— Amigão, não me faça mudar seu nome para Zack. — digo quando ele tenta fugir do xampu.

Meu ex-amigo era um fugitivo de banhos certificado. Há boatos que ele já foi até para a rua de cueca fugindo da irmã e a ameaça do banho, quando criança. Depois que está limpo e seco, ele dorme, não acordando nem com o toque estridente que coloquei para a Vivian no celular. Antes de atender faço uma oração para que ela tenha apertado errado, já que meu dinheiro da semana acabou ontem.

— O que você quer agora?

— Venha tirar a sua filha daqui, ela está me atrapalhando. — a voz dela soa embolada,  como se estivesse... como se estivesse usando coisas proibidas novamente.

— Vivian, já te falei que não posso fazer o que você quer na hora que desejar. Você possui a guarda total da nossa filha, então é quem deve tomar conta de onde ela está.

Provocando Amor - Série Endzone - Livro 4Onde as histórias ganham vida. Descobre agora