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Noelle

Tudo que fiz desde que a escola acabou, cinco meses atrás, foi comer e estudar bastante para tentar entrar na universidade comunitária. Por isso, aproveitando o fim definitivo do verão, usufruo do calor que resta de novembro para correr um pouco e respirar algo que não sejam palavras. Faço isso toda vez que algo me lembra que não estou na faculdade hoje por um ato meu, e às vezes meu pai me acompanha. Hoje ele disse que vai me acompanhar, então espero no hall de entrada da casa deles, enquanto me encaro no espelho.

A líder de torcida animada com o último ano escolar de um ano atrás foi enterrada em um lugar perdido do meu cérebro. Olho para o meu cabelo, o único indício da infância que pode ter causado o trauma que gerou o cataclismo da minha vida. A cor é igual a do progenitor, alguém que fez a minha progenitora querer me vender a preço de banana.

Lembro perfeitamente do dia em que ela encontrou minha mãe, que estava de mudança para os Estados Unidos para fazer um tratamento para engravidar e colocou um preço em mim. Ela queria, com o dinheiro que receberia, mudar de país, deixando para trás o progenitor, que a havia traído com a prima. Minha mãe disse algo que nunca esquecerei. "Você pode vender tudo que seu marido te deu, mas uma criança não. Uma criança não tem preço, e sabe por quê? Porque essa mesma criança pode te salvar ou te matar." Como eu era uma despesa, ela me colocou na adoção então, e aí fui adotada pela minha mãe assim que ela soube. Lembrar da minha chegada na casa nova faz meus olhos marejarem, mas o choro é interrompido pelo meu pai.

— Vamos lá, criança. — ele se aproxima, alongando.

— Pai, tenho dezoito anos, use outro apelido.

— Querida, chamo sua mãe de bebê o tempo todo. Não é pessoal. — sorri.

Reviro os olhos e abro a porta. Saímos para o clima outonal, e corremos por três quilômetros antes que precisemos parar para comprar um suco. Na lanchonete, a manchete da televisão me assusta. O garoto que encontrei no consultório do terapeuta, Peter, se não me engano, foi preso.

— Você conhece este garoto? — meu pai pergunta para a minha expressão.

— Não muito, só conversamos uma vez. Ele não parecia alguém que sequestraria a filha.

— As aparências enganam, cher.

Balanço a cabeça, incrédula.

— Devem enganar muito mesmo.

Peter

Eu estou preso. Repeti isso para mim toda vez que acordava e estranhava a dor na coluna, ou que parecia estar em uma realidade paralela quando o delegado levava outra pessoa para um dos cubículos vizinhos. Só pude encarar a realidade quando conversei com o advogado que vai me defender, que não é dos melhores, mas é o que veio para mim porque é o que posso pagar.

— O seu caso não tem defesa. — afirma.

— Eu sou inocente, como não tem defesa?

— A sua inocência é algo em que só você acredita, Peterson. As provas contra você são fortes demais. Os testemunhos são verídicos. Tem certeza que você não inventou sua inocência? Porque já defendi presos que começaram a acreditar nela em um ponto de mentir no tribunal.

Tenho vontade de bater naquele cara. Não sou uma pessoa violenta, mas que saco, eu pago ele para me defender com a verdade e ele diz que não é possível por causa das mentiras? Não é exatamente o trabalho dele mostrar quais são as mentiras e as verdades?

Provocando Amor - Série Endzone - Livro 4Where stories live. Discover now