13

7.6K 963 283
                                    

Noelle

O retorno para casa não foi como pensei semanas atrás. Nada como a viagem tranquila e musical que imaginei. Meu rádio pifou ainda no sítio e eis uma coisa que não sei consertar. O Peter já havia saído, então sem chances de uma ajudinha. No meio da interestadual, a caminho de Lincoln, parei para comer e quem encontrei lá?

— Graças a Deus. Oi Gwen. Você precisa dar uma olhada no meu rádio. — digo ao alemão.

— O papai não sabe consertar rádios... — a Gwen começou, mas parou ao olhar para o pai.

— Eu posso tentar. Deixa só acabarmos o lanche aqui.

Aproveito para pedir o meu lanche, mas ele acaba antes que fique pronto, então sento sozinha enquanto observo ele apontar partes do carro explicando para a menina. Ela parece interessada, mas finjo desinteresse quando os dois rabinhos estão balançando ao meu lado, as mãozinhas sujas.

— O papai fala seu nome enquanto dorme, tia.

Um pedaço de fruta fica preso na minha garganta ao ouvir isso. Bebo toda a água do copo para desentalar minhas vias respiratórias, mas não tenho tempo de limpar as lágrimas quando ele volta, vê minha cara e suspira.

— Gwyneth, você não pode falar o que pensa das pessoas, tudo bem? Além do mais, a Noelle é linda.

Ele me acha linda?

— Eu não falei que ela é feia, papai. Ela não é, só tem essa cor estranha de cabelo, mas acho legal. Falei que você fala o nome dela enquanto dorme, só isso. — sorri orgulhosa de si mesma.

— Isso é muito, muito pior. — murmura e levanta — Era um mau-contato. Só apertar o cabo. Vamos, Schatz.

O nível de vermelhidão do rosto dele me faz levantar, arrastando a cadeira e chamando atenção de todo o local. Me asseguro de manter a voz baixa ao dizer.

— Não é culpa dela. Não faça nada com ela.

Ele inclina a cabeça.

— Eu não faria. Só estamos indo para casa, estamos atrasados. — ah — Você pode soltar o copo agora, não é como se acertar minha cabeça fosse muito agradável. — continua falando no mesmo tom tranquilo com que falava com a filha.

— Oui. Quero dizer, sim. — largo um copo que peguei sem ver e o dono resmunga que sou doida.

Só respiro fundo e saio do local, recebendo um olhar do gerente atrás do balcão que significa que este é o vigésimo lugar onde estou banida, e nem quebrei nada. Sentada atrás do volante e imersa em culpa, me assusto quando alguém bate na janela. Abaixo ao ver as roupas pretas daquele homem que ri na cara do calor.

— Se você precisar de alguma coisa, uma carona para algum lugar para gritar ou para o terapeuta, é só me ligar. Sou o único dos que você conhece que ainda mora em Lincoln.

— Eu não tenho seu número, Peter.

— Pedirei para algum dos seus amigos mandar. Ei, você é muito forte por conseguir vencer essas batalhas, não deixe a única vez que a luta te venceu parecer o que te define.

Ligo o carro sem responder, mas não saio enquanto ele não entra no carro. Quando chego em casa, minha mãe me intercepta na saída para a piscina, e me convida para o jantar. Não recuso porque estou faminta, e fico feliz ao ver que não há filhos de clientes deles ali.

— Como foi a viagem, filha? — meu pai pergunta.

— Boa. Rever meus amigos foi bom. Eu também conheci alguém.

Provocando Amor - Série Endzone - Livro 4Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt