Adeus - Parte 2

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Sebastian

Entro em casa depois de ter deixado Mellory em frente à sua. Jogo as chaves na mesa fazendo um dos porta retrato da estante cair. Era uma foto nossa no dia de ação de graças, lembro do papai a tirando e de como estavamos irritados com ele por que queria tanto aquela foto.

flashback on

- Vamos Clarissa, vem Bash, sente no colo da mamãe, vamos tirar uma foto.- ele insistia.

- Eu quero brincar, papai!- resmungo.

- Deixa ele, Antony.- minha mãe sorri.

- Não.- ele brinca.- vem logo, bash. Te pago um sorvete.

Corro em direção a mamãe e pulo em seu colo, ela começa a fazer cócegas para que eu desse risada para foto.

- Isso.- meu pai se posiciona.- perfeita!- ouvimos o barulho da máquina.

Corremos até o papai para ver a foto e sorrimos ao ver o resultado, ele então beijou minha testa e abraçou minha mãe.

- Eu amo vocês, nunca se esqueçam disso.- ele diz nos abraçados.

fqlashback off

- MENTIROSO!- arremesso o porta retrato no chão.- VOCÊ QUEM SE ESQUECEU DISSO, VOCÊ NOS DEIXOU, SEU COVARDE!- pisoteio o porta retrato enquanto deixo a raiva me dominar, mal sabia que ela estava acompanhada das lágrimas.- você fez eu crescer sem um pai.- choro enquanto me lembro de cada brincadeira e dias felizes.- OLHA O QUE VOCÊ FEZ COM ELA! EU TE ODEIO!- grito batendo as costas na parede enquanto me descontrolava entre as lágrimas e soluções.

Eu o odeio tanto, por que ele fez isso comigo? Porque ele fez isso com a gente?
Ando até o quarto e abro o armário, eu precisava me acalmar, e só tinha um jeito. Pego o saquinho em cima do armário e abro na mesa deixando o pó cair, sugo tudo o que caiu pelo nariz e sinto meu corpo queimar, eu odeio tudo isso. Meu celular toca, ela piorou, era melhor eu voltar, foi o que a recepcionista disse ao telefone. Ando até o banheiro e limpo o rosto, arrumo o cabelo e vou paro o carro. Dou partida e corro ao máximo que consigo. Meu coração estava acelarado, minha respiração ofegante e meus olhos provavelmente vermelhos ainda. Adentro o hospital e me deparo com dr. Shepard no quarto. Ele se vira e me olha com aquela cara de quem iria dizer "fizemos tudo o que podiamos".

- Essa é a hora, garoto!- ele vem até mim.- ela já não fala mais, apenas mexe os olhos.

- Mas como assim? Algumas horas atrás...

- Ela estava instável, tudo podia acontecer, a qualquer momento.- ele diz.- seu nome foi a última coisa que ela conseguiu dizer. Vou deixa-los à sós.

Meu corpo já tremia, eu sabia que iria desabar ali, mas antes precisava fazer uma coisa. Sentei ao lado dela e a olhei. Peguei um papel amassado atrás do bolso da calça e a encarei.

- Eu escrevi isso da última vez que o dr. Shepard falou que você iria embora.- disse segurando o choro.- Eu nunca acreditei nas coisas que ele dizia, mas agora é diferente...- aperto os olhos, e deixo as lágrimas escorrerem um pouco para que eu enxergue o que está escrito.- acho que tá na hora de ler ela para você, mamãe.- digo e abro a folha enquanto seguro sua mão.

"Mamãe, eu sei que eu não sou o filho do ano, eu sei que não sou um ser humano perfeito, e eu to bem longe disso, sei que você descobriu sobre as drogas à alguns tempos atrás, e eu sei que te decepcionei, eu sei que errei com você todas as vezes que gritava com você ou te xingava por ainda querer o papai, mas sabe todas as vezes que desejei sua morte? não foram porque eu não te amava, ou porque eu tava cansado de você, foi porque te ver na cama, gemendo de dor pelas manhãs, era a coisa mais dolorosa que eu podia ver, te ver ali e não poder pegar a sua dor para mim, era insuportável, e eu sim, preferia a morte do que a dor em você, mas antes de pedir todos os perdões que eu tenho que pedir à você, eu preciso te falar, que você é o meu maior exemplo de amor, e que amar você foi a melhor coisa que eu pude sentir desde quando aprendi a respirar, eu sou grato, eu realmente sou grato por ter você e eu não imagino viver sem ter você ao meu lado, porque você é a minha maior prova de amor, de coragem e de bondade, você é o meu exemplo de ser humano."

Às lagrimas em meus olhos já embaçavam tudo e o papel estava encharcado, e foi então que a pressão entre nossas mãos se foi, eu à olhei, e a última coisa que eu vi foi seu sorriso leve e seus olhos verdes vivos e então aquela foi a forma dela me dizer adeus, foi naquele momento que eu perdi quem eu mais amava.
Cenas de quando eu era pequeno passavam como filme na minha cabeça, enquanto isso, eu chorava sobre seu peito implorando que acordasse. Vejo a muvuca de enfermeiros correndo em nossa direção, ela tinha ido e eu não podia fazer mais nada, minha mãe, única pessoa que esteve ao meu lado até o fim, se foi e a única coisa que consegui pedir foram estúpidas desculpas por erros em que eu cometi e aindo cometo.
Saio do quarto totalmente sem rumo, vejo Jonathan na sala de espera e Antony junto à ele, ignoro totalmente ambos e vou para o estacionamento. A chuva que estava fraca, agora caía como pedras em meu corpo. Talvez o céu estivesse em festa pelo novo anjo que ganharam. Sinto a chuva e vejo que ela se foi, para sempre, minha mãe, ela se foi, e eu nem pude trocar de lugar com ela. Sinto meu corpo fever e tudo pegar fogo.

- NÃO!- grito, enquanto caio de joelhos no meio do estacionamento chorando.

Ouço um carro chegar e ignoro-o totalmente, e então ele para na vaga e só ouço os passos rápidos e barulhentos de alguém correndo, sinto o impacto, o impacto dos braços de Mellory sobre mim. Ela está aqui, sorrio ao pensar isso. Seguro seu braço sobre meu pescoço e então me conforto entre eles deixando todas às lágrimas cairem.

- Ela se foi.- eu digo.

- Eu sei.- ela diz entre lágrimas também.

E lá estava eu e ela, jogados no chão de um estacionamento lamentando a morte da minha mãe. Eu apertava os olhos para tentar acordar do pesadelo, mas não dava, não dava pra sair dele, porque aquilo era real, ela partiu.

Não me deixe irWhere stories live. Discover now