Capítulo 1

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A minha vida sempre foi planejada pelos meus pais, eles sabiam exatamente onde eu deveria colocar os meus pés, desde pequena eu já tinha a consciência do que deveria fazer, o plano era bem simples: Estudar, estudar, estudar e estudar mais um pouco, tudo visando a tão sonhada faculdade de medicina. Quem vê por fora até pensa que eu fazia tudo isso por obrigação, mas não, na verdade eu nunca me senti pressionada, eu gostava de estudar, isso ocupava a maior parte do meu tempo, e o objetivo dos meus pais era o meu objetivo, a medicina também era sonhada por mim.

Em vista desse plano maravilhoso que meus pais elaboraram pra mim eu tive que abdicar de algumas coisinhas, como sair com os amigos, ir para algumas festinhas, que eram rotineiras na minha cidade, o meu contato com os seres sociáveis se dava apenas na escola, e com minha Sis Bárbara que praticamente morava lá em casa e me contava com detalhes o que acontecia nas redondezas, praticamente só o que fazia eu sair da frente dos meus livros era um instrumento branco que estava sempre do meu lado, aquele violão me transportava pra um lugar impossível de descrever, se eu estivesse estressada era como mágica, eu tocava algumas notas e tudo sumia, vez ou outra eu arriscava alguma letra, até porque um tempinho sozinha faz a gente pensar...

Com o final do 3º ano veio a grande notícia, sim, eu havia passado pra medicina. Puta Merda! Eu era muito foda, a festa na minha casa foi enorme, e nesse dia eu festejei tudo o que eu não tinha festejado nos últimos anos, eu era só felicidade, o primeiro passo eu já tinha dado, o meu plano já estava começando, e logo o meu bolo sairia perfeitinho do forno.

1º Choque de realidade: A faculdade não era na minha cidade, logo teria que sair da casa dos meus pais, isso já estava no plano, eu já tinha consciência que isso iria acontecer, mas o dia em que eu sai da minha casa em direção ao aeroporto eu quase morri, na verdade já tinha começado esse processo no dia anterior enquanto tentava organizar as minhas coisas para levar e minha mãe se encarregava de me dar alguns conselhos.

- Filha não esquece, todos os sábados leva as suas roupas para lavar.

- Mãe você já falou isso um milhão de vezes, eu já entendi, não vou andar com a roupa podre pela faculdade não.

- É sempre bom reforçar, outra coisa, vê se come direito, você não vai ter eu lá toda hora te lembrando que é hora de comer, e suas vitaminas não esquece de tomar, coloca um alarme no seu celular, não quero filha minha doente longe de mim não.

Nessa hora eu só consegui abraçar ela.

- Mãe não se preocupa vou fazer tudo direitinho, Araguari é logo ali na esquina se eu ficar doente é só você correr até lá - falei com lágrimas nos olhos, enquanto minha mãe dava um riso preocupado.

- Não sei porque tanta melação, até parece que Ana tá indo para a guerra - Luana entrou no meu quarto falando e pulando na minha cama bagunçando tudo que eu estava tentando arrumar.

Pegar o avião foi a parte mais difícil, eu não queria sair do abraço da minha mãe de jeito nenhum, meu pai mesmo com o seu jeito durão já estava com lágrimas nos olhos, minha irmã não quis me acompanhar até o aeroporto no fundo eu sabia que ela estava sofrendo tanto quanto eu, sair do abraço da minha mãe foi como se cortasse o meu cordão umbilical pela segunda vez, mas era necessário então eu me despedi e entrei naquele bendito avião, ali eu já não tinha tanta certeza quanto ao meu plano.

***

A minha universidade é dividida em quatro campus, sendo que o meu é o principal, não pelo curso, mas é porque lá está concentrado as pró-reitorias, assim como a prefeitura, o restaurante universitário, e a residência, os outros campus são divididos de acordo com as áreas, exatas, humanas, biológicas, e o meu, o da saúde, na qual estava medicina, odontologia, fisioterapia, nutrição, dentre outros. Para as turmas deste último tudo era bem mais fácil, pois não era necessário se deslocar de um campus para o outro, ao contrário dos discentes das outras áreas, em outras palavras, eu não precisava me deslocar para praticamente nada, morava no campus, me alimentava e estudava, afinal era tudo que eu precisava fazer de acordo com os meus pais, porém eu, uma jovem, no auge da adolescência, em um lugar novo, sem ninguém para me impedir, queria fazer coisas, coisas essas que eram necessário sair da universidade, mas isso não vem ao caso no momento, enfim...

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