Capítulo 12

778 38 3
                                    

Existem pequenos momentos de felicidade durante a nossa vida, tão pequenos que são difíceis de lembrar. Não estou sendo pessimista ou algo do tipo, muito pelo contrário, estou grata por esses pequenos momentos, grata por aquela música que me transporta para momentos assim, grata pelo cheiro de pipoca em dias de chuva, grata pela aquela foto espontânea que na hora eu tinha achado horrível. Grata pelas lembranças, e essa aqui.... ahh, essa aqui nunca vai ser esquecida. Meu pai me olhava sorrindo enquanto tocava violão, estávamos todos sentados no chão e minha mãe no piano, eu e Luana competíamos para saber quem cantava mais alto sem sair do tom.

Esses momentos são tão bons que não deveriam acabar nunca.

Mas acabam e a vida tem que seguir em seus altos e baixos.

Passei exatamente 10 dias na minha casinha, Báh sempre que podia estava comigo, incluindo na hora de dormir, ela adorava dormir em cima de mim não sei o porquê, só sou osso.

No terceiro dia em Araguaína descobri que meu pai estava com câncer.

No momento senti o chão desabando e eu só flutuava em lugar nenhum, todos os problemas que eu achei que tinha sumiram em um instante só, eu tentava organizar meus pensamentos, tentava achar uma luzinha no final do túnel, mas eu não via nada, eu só ouvia barulhos em minha direção. Sentia os braços de minha mãe ao meu redor, eu podia sentir suas lágrimas junto as minhas.

E alí eu tentava buscar na minha mente uma pequena lembrança de felicidade, mas tudo estava um borrão. E então um "minha boneca" me atingiu em cheio - meu pai tem mania de me chamar assim – e senti umas mãos geladas me puxando para o seu colo.

Foi terrível, está sendo ruim. Mas esses pequenos momentos de felicidade me transportam para um mundo perfeito. Que infelizmente tem seus dias contados.

Estava mais uma vez naquele bendito aeroporto que eu não sabia se amava ou odiava, dependia da situação. Eu não queria ir embora, eu não queria deixar meus pais alí.

- Mãe qualquer coisa só me liga por favor – eu pedia pela vigésima vez.

- Olha os papéis se invertendo aí – Luana sempre se intrometendo.

- E tu também pirralha – abracei minha irmã – cuida deles tá bom? – falei baixinho em seu ouvido e mais uma lágrima caiu.

- Ana seu voo já está sendo chamado – ouço meu pai falar, me viro pra ele.

- E você senhor teimoso, se cuide – abracei-o novamente – te amo.

- Também te amo filha.

Me despedi da minha mãe ouvindo sempre as mesmas recomendações e segui para a fila de embarque, meus olhos estavam inchados e vermelhos e a única solução foi meu melhor amigo óculos escuro.

Procurava a todo custo a passagem que ainda estava dentro da minha carteira no amontoado de coisas da minha bolsa, definitivamente eu não deveria ter deixado tudo para a última hora. Eu já estava quase desistindo e voltando para perguntar se tava com minha mãe mas me deu lapso de memória e lembrei que estava na minha outra bolsa, abri rápido e avistei a bichinha lá, bem quietinha.

- Achei! – falei mais alto do que deveria.

- O quê mulher?

PUTA MERDA

A voz. A bendita voz. Eu nunca que esqueceria o rouco daquela voz.

- Num te interessa – Deus me ajude que realmente seja a pessoa que estou pensando.

- Te conheci mais educada – a risada no final da frase era inconfundível, eu ainda não tinha me virado, só seguia a fila.

- É que não falo com estranhos – me virei e encontrei o maior sorriso daquele aeroporto, Vitória estava lá, com o cabelo de sempre, o olho de sempre e os braços prontinhos para me acolher.

OTHER WORLDWhere stories live. Discover now