Capítulo 5

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POV Ana Clara

O endereço que Vitória me mandou dava em um barzinho próximo a universidade, tentei ao máximo convencer Letícia a ir comigo afinal era um bar que ela costumava frequentar mas minha amiga disse que precisava estudar, então lá estava eu em um lugar estranho sem ninguém conhecido rezando para que Vitória chegasse logo. O ambiente não era nada ruim, remetia a algo mais rústico intercalando com algumas pinturas de cantores e grupos famosos presente em algumas paredes, a música que tocava me lembrava muito Sleeping At Last, mas não consegui identificar a letra, algo me dizia que isso logo iria mudar e as músicas seriam altas e agitadas.

Fui em direção ao balcão, não estava à vontade pra ficar sozinha em uma mesa, estava mexendo no canudo da minha caipirinha quando senti uma mão em meu ombro.

- Eu quase acreditei que você não viria - a voz rouca ditou as palavras bem próxima ao meu ouvido e um arrepio correu o meu corpo, virei calmamente e percebi o quão próxima Vitória estava de mim.

- Eu costumo surpreender - falei tão perto quanto.

O sorriso dela se alargou mais ainda, se é que é possível.

- Vem cá, vou te apresentar o pessoal - me puxou praticamente correndo pelo bar indo em direção a uma mesa com algumas meninas.

- Gentes essa aqui é Naclara e Naclara aqui é Gabi que apresentou TCC junto comigo - apontou para uma menina no canto da mesa - Essa é Flavia que mora comigo, Julia e Mirela do lab, o restante ainda vai chegar.

Cada pessoa me cumprimentou com um sorriso e me senti um pouco mais à vontade, Vitória sentou à minha frente favorecendo minha visão.

- Lab? Você trabalha em uma laboratório é isso? - perguntei curiosa.

- Enquanto estava na graduação sim, agora estou desempregada mesmo - Dessa vez o sorriso foi fechado demais.

- Hum, e minha filha é o que mesmo?

- Eu sou Bióloga, prazer! - E o sorriso voltou para os lábios dela.

- Ei vocês não estão sozinhas aqui, só pra avisar. - Ouvi uma voz que identifiquei ser de Gabi. - Ana Clara o que você tá tomando?

- Caipirinha- falei levantando o copo.

- Fraquíssima ela gente, bora de tequila!

Com o tempo foi chegando mais pessoas na mesa em que estávamos, um tal de Lucas que veio com um Felipe que nunca vi na vida, uma Amanda e por último Cecília, essa eu já havia trombado pela faculdade mas nunca havíamos conversado, descobri que fazia nutrição, bem, ela tem cara de nutricionista mesmo.

- Tava esperando todo mundo chegar pra eu falar uma coisinha - Vitória praticamente gritava tentando chamar a atenção de todos em meio a música alta. - Gente! - e todo mundo se calou em um segundo.

- Calma cabeluda, pode falar - Lucas respondeu e eu ri pelo apelido, ela no entanto levantou uma sobrancelha e cerrou os olhos.

- Eu soube faz algumas horas - ela começou a se pronunciar enquanto todos ouviam atentamente - acho que as meninas lembram de quando tive que viajar pra São Paulo.

- MENTIRA VI! EU NÃO ACREDITO! - Flavia gritou me assustando.

Olhei para Vitória instintivamente para ouvir sua resposta e só vi um balançar de cabeça concordando com Flavia. Fiquei parada sem entender nada enquanto Flavia corria para abraçar Vitória, seguida por Gabi e Júlia.

- Meninas é realmente lindo ver vocês demonstrando tanto amor pela Vi mas eu não tô entendendo nada - Felipe se pronunciou em meio aqueles abraços e eu agradeci silenciosamente pela pergunta.

- TEMOS UMA MESTRANDA NO GRUPO! - Gabi praticamente gritou.

Aí sim, todos levantaram e envolveram Vitória em um abraço gigantesco, eu fiquei por fora pois não me senti tão intima do grupo mas foi por pouco tempo, Amanda me puxou e quando vi já estava abraçada em Vitória. Aos poucos o abraço foi se desfazendo e por uns cinco segundos tive Vitória só pra mim, só o tempo de dizer um parabéns próximo ao seu ouvido.

- Temos mais dois motivos pra comemorar, Vitória mestranda e eu vou ter o ap só pra mim, tragam mais cachaça por favor! - Flavia gritava um pouco alta demais por conta da bebida.

- Flavia por favor né! Sabemos que tu vai morrer de chorar - Vitória brincou e todos riram voltando ao clima de antes.

Senti uma arrepio quando uma mão gelada tocou em meu braço, ergui o olhar e percebi que era Amanda.

-Tu é daqui mesmo? É que não lembro de já ter te visto.

- Sou sim, não costumo sair muito de casa - respondi com um sorriso sem dentes, senti uma pessoa me puxando e me virei assustada.

- Ana vem dançar comigo - Vitória não perguntou, simplesmente me puxou para o meio de uma pista que tinha até um mine palco para Karaokê.

- Eu não sei dançar mulher.

- Eu também não, só se mexer - e ali estava eu me mexendo tentando não esbarrar nas pessoas que dançavam de verdade.

A música era dançante mas não consegui identificar, Vitória era só sorrisos enquanto cantava e jogava os braços para cima. No começo foi um pouco constrangedor constatar que ela sabia dançar sim e eu só me balançava, mas o auge foi quando ela segurou minha cintura e começou a rebolar até o chão mais especificamente e naquele momento eu tenho quase certeza que virei um tomate de tão quente e consequentemente vermelha.

Dançamos ao todo quatro músicas e eu tinha uma necessidade urgente de ir até o banheiro, enfrentei uma fila enorme e quando voltei Vitória ainda estava lá na pista, pensei em voltar e fazê-la companhia mas percebi que ela estava no meio de uma rodinha feita pelos amigos, é claro, mas achei melhor pedir uma água já estava tarde e precisava voltar para casa.

- Ei, tava te esperando, porque não voltou? - Vitória falou próximo ao meu ouvido enquanto eu estava alheia situação só ouvindo a música.

- Ai meu Deus! Assim tu me mata mulher - automaticamente coloquei a mão no peito. - E eu tava aqui só te esperando pra me despedir, preciso ir pra casa.

- Tá cedo Naclara, espera um pouco - e saiu sem me dar oportunidade de resposta, mas sem demora ela voltou ao meu encontro - Vem, vou te levar em casa.

- Mas tu tá bêbada mulher.

- Eu não tô bêbada não, mas vamos de uber.

- E a sua amiga?

- Vai com um amigo - falou olhando para o celular - você mora no campus é? - ela me olhou e eu só assenti com a cabeça, depois voltou o olhar para o visor do celular - dois minutos, vamos!

***

- Vitória não precisava disso - disse já fora do uber em frente ao meu prédio.

- Eu moro aqui perto - e me abraçou - gostei de tu ter ido, obrigada!

- Parabéns Vi - disse ainda dentro do abraço - obrigada também.

E a gente se soltou... O olho abriu e eu me perdi naquela imensidão, segurei o rosto dela e sabe aqueles cinco segundos de coragem insana? Eu usei para colar os meus lábios naqueles lábios tão convidativos. Foi como mergulhar e um mar e sem nenhuma resistência me deixei afogar, meu subconsciente gritava na tentativa de me fazer afastar mas os lábios eram tão macios e o gosto era bom demais, a eletricidade envolvida ali era palpável e desgrudar dela parecia um pecado condenável, eu não queria sair dali e ela também não se mostrou resistente, mas como um flash a minha sanidade voltou e me retirou daquela bolha.

- Ai-ai meu Deus... Ai meu Deus Vitória - minhas mãos foram parar no meu rosto na tentativa de diminuir a vergonha - me desculpa por favor - descobri meu rosto e comecei a gesticular rápido demais enquanto ela me olhava ainda absorta pelo momento.

- Eu não esperava - Vitória falou baixo depois de um tempo quase em um sussurro mas ao final da frase vi um sorriso se formar no canto da boca - eu preciso ir agora, o homem deve estar com raiva já - se aproximou e me deu um beijo na bochecha - Boa noite Naclara.

E eu acho que respondi um "boa noite" mas não tenho tanta certeza.

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