Capítulo 10

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Eu não esqueci, mas acho que Vitória sim.

Depois do nosso dia quase proveitoso, com direito a música, almoço e uma mine conversa/discussão Vitória saiu correndo por conta de uma emergência, emergência que durou a semana toda.

Ela me fez querer um beijo e sumiu. Por acaso isso se faz com algum ser humano?

No fim daquele dia eu mandei uma mensagem perguntando se estava tudo bem, mas não veio nenhuma em resposta, no outro dia eu mandei um "Bom dia flor do dia", mas continuei sendo ignorada, no terceiro dia eu liguei mas nem chamava, no quarto mandei mensagens em todas redes socais dela que eu consegui encontrar, eu já estava preocupada, mas depois de tantos dias sem respostas eu desisti.

Vitória fugiu e levou meu beijo junto!

Depois de pensar que ela já estava morta encontrei Cecília, a menina da nutrição amiga de Vitória. E então ela me atualizou. A emergência com Flavia foi um pouco séria e ela teve que adiantar a viagem para Araguaína com a amiga. Certo, mas custa avisar? Cecília me falou ainda que Vitória está na casa de Flávia e lá é um pouco afastado da cidade, o que faz que a localidade não tenha área de serviço de celular, internet e nem fumaça para mandar um sinal.

Eu fiquei aliviada e preocupada com o que poderia ter acontecido com Flavia, mas não vou negar que a raiva de Vitória começou a se formar no íntimo do meu ser. "É só fingir que nada aconteceu, aqueles três dias nunca aconteceram" tentei mentalizar isso, falhando as vezes, mas consegui terminar a semana restante do meu semestre.

***

Voltar para Araguaína é sempre maravilhoso, só de me imaginar naquela terrinha o meu olho fecha de tão grande que é o meu sorriso, sei que só são 10 dias contados, mas eu sei também que nesses 10 dias será só felicidade. Já consigo imaginar meu pai fazendo um churrasco, minha mãe chamando a vizinhança e minha irmã me atormentando, têm coisa melhor que isso? Pra mim não tem não.

Minha mala estava pronta a uns três dias só aguardando o lançamento das notas no sistema para eu poder viajar despreocupada, a minha mente estava em Araguaína desde o começo da semana, não só pelo fato do meu recesso estar perto. Vitória também estava no meio disso tudo.

De acordo com o que ela me falou antes do sumiço, ela só iria passar uma semana em Araguaína e logo em seguida seguiria para Sampa e de acordo com os meus cálculos ela já não estaria por lá, não sei se isso é bom ou ruim. De vez em quando meus pensamentos formam um loop e eu me vejo pensando no que seria se o beijo tivesse acontecido, eu já estava me acostumando com a ideia de beijar pela segunda vez Vitória, que é uma mulher. A minha sexualidade nunca foi uma questão até Vitória aparecer, mas foi rápido e eu fico aliviada quanto a isso.

Mike fez questão de ir me deixar no aeroporto, eu queria saber como seria a minha vida sem esse menino. Ele despachou minha mala e ainda comprou coxinha pra eu comer enquanto esperava o meu voo.

- Mike - ele olhou pra mim - se daqui a 10 anos a gente não tiver ninguém, tu casa comigo?

- Não sei não Ana - ele parecia pensar - aceitar pedido de casamento com 10 anos de antecedência não me parece uma boa.

- Besta! - Bati com meu braço no braço dele - é só aceitar, o que custa?

- Sem nenhum beijinho? Não mesmo.

- Nem mulher tu beija cara - Mike me olhou com uma cara que fez eu me arrepender amargamente por ter falado aquilo - é brincadeira, tu sabe.

- Af Ana, já ta na hora de tu ir pra casa mesmo.

- Vem aqui meu amor - chamei ele com os braços estendidos.

- O que você quer? - ele tentava fingir uma raiva que não existia.

- Tu, ora!

Ele veio e me abraçou mais forte do que eu esperava, eu fiquei um pouco perdida entre os braços dele e um tanto sufocada.

- Desculpa, ta bom? - pedi depois que me soltei.

- Tudo bem Ana, já estou acostumado com tuas besteiras.

- Eii... - Na hora que ia contestar foi anunciado o meu voo.

Me despedi do meu amigo e fui feliz e saltitante até o portão de embarque.

O voo foi um tanto tranquilo, ninguém sentou do meu lado e posso dizer até que cochilei um pouco, voltei para a realidade quando foi anunciado que o avião iria pousar, então guardei meus fones e só aguardei o meu momento de pisar em Araguaína novamente depois de longos 6 meses.

Saí da ala de desembarque e já encontrei as três pessoas que eu mais amava no mundo, eles estavam dispersos falando sobre algo.

- Oi família - o susto dos três foi engraçado mas em questão de segundos eu não conseguia mais respirar sufocada pelo abraço triplo. - Eu viva sou mais legal - falei para eles pegarem leve no aperto.

- Ai meu amor, eu tava com tanta saudade - minha mãe falava com lágrimas nos olhos - você demorou tanto dessa vez, mas agora vai passar uma mês com a gente né? - dei um sorriso sem graça deixando para dar a notícia que só iria passar 10 dias depois.

- Deixa a menina chegar primeiro mulher - meu pai se pronunciou - Aninha não demora tanto assim - e me abraçou de novo.

- E tu? - perguntei para a minha irmã depois do meu pai me largar.

- Há, eu tava com um pouquinho de saudade - Luana falou e cerrei meus olhos. A abracei com toda força que eu tinha.

- Só um pouquinho? - comecei a fazer cócegas nela no meio do aeroporto.

- Ana para! - eu não parei - você ta me fazendo passar vergonha - continuei do mesmo jeito - Bárbara ta lá em casa te esperando - nessa hora eu parei, a vontade de ver minha sis era enorme e eu ainda nem tinha percebido.

- Gente bora pra casa - falei em seguida - lá a gente conversa melhor.

O percurso do aeroporto até minha casa foi barulhento e eu era só sorrisos. Na hora que abri a porta do carro e saí só senti um impacto forte, fazendo com que eu desse alguns passos para trás.

- Viadooooo!!! Eu não acredito que tu tá aqui, como tu esquece da miga aqui tão rápido? Arrumou um boy heim!!! - ela não parava de falar enquanto me abraçava e pude perceber minha mãe olhando estranho pra mim quando Bárbara falou a última frase.

- Não, não e não. A correria que me atrapalha as vezes mulher, só isso. - Tentei me explicar.

- Pois vem que eu tô com fome e tu tem que me atualizar sobre tudo, tenho uns babados pra te contar também - Bárbara ia falando com a mão cobrindo parcialmente a boca e me puxando para dentro de casa.

O susto foi grande quando vi a quantidade de pessoas ao redor da piscina. Automaticamente virei para a minha mãe que vinha atrás de mim.

- Teu pai queria fazer um churrasco - e deu de ombros.

Eu só consegui pensar "Meu Deus".

Corri o olho por todo o ambiente tentando ter uma ideia de quantas pessoas tinham lá, mas parei no exato momento que meus olhos esbarram em uma juba.

OTHER WORLDWhere stories live. Discover now