POV Vitória
Senti um cheiro gostoso assim que entrei na sala e logo identifiquei que vinha da cozinha.
- Esse cheiro me lembra tanta coisa - abracei mainha por trás enquanto ela estava lavando louça.
- Não deu pra fazer no café da manhã mas fiz pro café da tarde - ela se virou me olhando com aqueles olhinhos grandes e cuidadosos.
- Vai embora não mainha - fiz um bico ao final da frase.
- Você que vai embora filha - tive que abraçá-la de novo.
- Só 6 meses mãe, já tô aqui de novo pra comer esse cuscuz maravilhoso - a soltei e fui até o armário pegar duas tigelas.
No comecinho da noite fui deixar mãe no aeroporto com a promessa de que iria para Araguaina quando faltasse três dias para a viagem de Sampa, na qual teria que ir de lá. Ou seja, tinha apenas onze dias para organizar tudo que vou levar e tudo que vou ter que deixar, esse informação sem dúvida alguma era angustiante.
Os três dias seguintes foram voltados somente para organização e doação de algumas roupas e procura de apartamentos próximos a universidade que iria fazer o mestrado, o que não era uma tarefa fácil. Minhas amigas apareceram no sábado com a desculpa de me ajudar, porém no fim acabei descobrindo que estavam apenas tentando me convencer a ir na calourada. Bem, eu não sou de recusar convites como esse mas tudo estava uma loucura na minha vida e no final do dia eu só queria minha caminha.
- Vitória Fernandes Falcão você não vai mesmo? - Gabi insistia na ideia de que ficar até tarde em um ambiente com música alta e bebida seria bem melhor que minha cama aconchegante.
- Não mesmo, estou muito bem aqui.
- Eu não vou mais insistir!
- Mais do que tu já insistiu mulher? Podem ir, quero silêncio.
- Vai trazer quem pra cá?
- O quê? - me virei indignada com a pergunta.
- Nada, nada... Tô saindo, todo mundo já ta lá.
- Vai mulher!
Ela fechou a porta e uma paz me invadiu, liguei a tv, tomei um chá, ouvi música, pensei em sair pra comprar cerveja, espera... mas eu não estava fugindo exatamente disso? As horas se arrastavam e minha ansiedade estava cada vez mais presente.
Menina do pulso - Ei, desculpa o horário... Você nem deve estar em casa, eu só queria saber como você tá, quando você viaja, essas coisas.
Olhei para a notificação já pronta para responder.
Menina do pulso - Mensagem apagada.
Eu - Naclara! - A mensagem foi visualizada no mesmo instante.
Eu - Estou em casa sim, curtindo a solidão de um sábado a noite. Estou bem e ainda tenho uma semana por aqui J
Menina do pulso - Você foi rápida - Eu podia imaginar as bochechas dela corando.
Eu - Sempre Naclara!
Menina do pulso - Sei... Estou bem também.
Eu - Também está curtindo a solidão de um sábado a noite?
Menina do pulso - Não mais. Pensava que você estivesse na calourada.
Eu - não estava afim - nesse momento eu já estava deitada no sofá com as pernas para cima só esperando a resposta que não demorou a vir.
Menina do pulso - há sim, pensava que você gostasse dessas coisas.
Eu - Eu gosto, só não estava afim de ir.
Menina do pulso - Entendo.
Eu - e você? Porque não foi?
Menina do pulso - Preguiça!
Eu - Ata haha, fala a verdade Naclara.
Menina do pulso - é sério, só de pensar em escolher uma roupa já me cansa.
Eu - Meu Deus Naclara, posso te ligar?
Dessa vez a resposta demorou.
Menina do pulso - Claro...
Não esperei mais nada e liguei.
- O-oi - Ouvi o quase sussurrado oi dela e sorri.
- Oi Naclara! Não tá sozinha?
- Estou - ela era monossilábica.
- Porque tá falando assim?
- Nada não, já é tarde.
- Amanhã você vai fazer alguma coisa?
- Como assim?
- Tipo sair de casa, ir para algum lugar.
- Há sim - pude ouvir uma risadinha baixinha - desculpa, sou um pouco lesada as vezes. E não, pretendo passar o dia assistindo Grey's Anatomy.
- Que clichê! - eu gargalhei - logico que você assiste essa série!
- Você não? - a voz dela já estava um pouco mais alta.
- Não mesmo.
- Pois deveria.
- Me convença!
- Vem assistir comigo amanhã?
O silêncio se instaurou por cerca de 10 segundos.
- Claro, só falar as horas!
- Não pensei que toparia, fiquei nervosa agora - ela ria enquanto falava.
- Porque mulher?
- Vai que você não gosta.
- Tu desiste rápido demais - olhei para a tela do celular e já se passavam das 3 horas - Ana já tá um pouquinho tarde, preciso dormir.
- Já? A moça dorme cedo?
- Amanhã tenho um compromisso importante.
- hum, posso imaginar!
- Preciso ir. Foi bom conversar com você.
- Até amanhã Vitória, esteja preparada para conhecer a serie da sua vida - eu sorri.
- Com certeza. Tchau Ana.
Acordei e senti a energia de um novo dia entrar pelos meus poros, levantei e enxerguei um céu multicor pela janela pronto para ser aproveitado, peguei meu celular e vi uma mensagem de Flávia avisando que não voltaria para casa, seguida pela de Felipe falando de uma possível despedida pra mim, só ignorei e fui atrás de um café.
Peguei minha xícara e fiquei paradinha em frente a janela, logo aquela vista mudaria e eu sentiria tanta falta.
A maçaneta da porta começou e mexer e eu me virei, vi uma Flavia entrando de fininho.
- Isso é horas senhorita?
- Eu só quero dormir Vitória - ela falava enquanto tentava ir para o quarto.
- Precisa de ajuda?
- Não, consigo me virar.
- Ok.
Ela fechou a porta e eu continuei na mesma posição esperando ela sair do quarto, mas isso não aconteceu.
Duas horas depois estava na frente do quarto novamente.
- Flavi, to saindo de casa viu.
Não veio nenhuma resposta então mandei mensagem. Aproveitei e mandei uma pra Ana também.
Eu - Tô indo antes da hora, ok?
Não esperei resposta e sai de casa.
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OTHER WORLD
FanfictionQuerendo ou não sempre temos uma tendência a planejar coisas, desde coisas mais simples como um jantar, uma ida ao supermercado, um dia para colocar todas as matérias da escola em dia, uma viajem, um aniversário, até coisas maiores como por exemplo...