Capítulo 7

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POV Vitória

Senti um cheiro gostoso assim que entrei na sala e logo identifiquei que vinha da cozinha.

- Esse cheiro me lembra tanta coisa - abracei mainha por trás enquanto ela estava lavando louça.

- Não deu pra fazer no café da manhã mas fiz pro café da tarde - ela se virou me olhando com aqueles olhinhos grandes e cuidadosos.

- Vai embora não mainha - fiz um bico ao final da frase.

- Você que vai embora filha - tive que abraçá-la de novo.

- Só 6 meses mãe, já tô aqui de novo pra comer esse cuscuz maravilhoso - a soltei e fui até o armário pegar duas tigelas.

No comecinho da noite fui deixar mãe no aeroporto com a promessa de que iria para Araguaina quando faltasse três dias para a viagem de Sampa, na qual teria que ir de lá. Ou seja, tinha apenas onze dias para organizar tudo que vou levar e tudo que vou ter que deixar, esse informação sem dúvida alguma era angustiante.

Os três dias seguintes foram voltados somente para organização e doação de algumas roupas e procura de apartamentos próximos a universidade que iria fazer o mestrado, o que não era uma tarefa fácil. Minhas amigas apareceram no sábado com a desculpa de me ajudar, porém no fim acabei descobrindo que estavam apenas tentando me convencer a ir na calourada. Bem, eu não sou de recusar convites como esse mas tudo estava uma loucura na minha vida e no final do dia eu só queria minha caminha.

- Vitória Fernandes Falcão você não vai mesmo? - Gabi insistia na ideia de que ficar até tarde em um ambiente com música alta e bebida seria bem melhor que minha cama aconchegante.

- Não mesmo, estou muito bem aqui.

- Eu não vou mais insistir!

- Mais do que tu já insistiu mulher? Podem ir, quero silêncio.

- Vai trazer quem pra cá?

- O quê? - me virei indignada com a pergunta.

- Nada, nada... Tô saindo, todo mundo já ta lá.

- Vai mulher!

Ela fechou a porta e uma paz me invadiu, liguei a tv, tomei um chá, ouvi música, pensei em sair pra comprar cerveja, espera... mas eu não estava fugindo exatamente disso? As horas se arrastavam e minha ansiedade estava cada vez mais presente.

Menina do pulso - Ei, desculpa o horário... Você nem deve estar em casa, eu só queria saber como você tá, quando você viaja, essas coisas.

Olhei para a notificação já pronta para responder.

Menina do pulso - Mensagem apagada.

Eu - Naclara! - A mensagem foi visualizada no mesmo instante.

Eu - Estou em casa sim, curtindo a solidão de um sábado a noite. Estou bem e ainda tenho uma semana por aqui J

Menina do pulso - Você foi rápida - Eu podia imaginar as bochechas dela corando.

Eu - Sempre Naclara!

Menina do pulso - Sei... Estou bem também.

Eu - Também está curtindo a solidão de um sábado a noite?

Menina do pulso - Não mais. Pensava que você estivesse na calourada.

Eu - não estava afim - nesse momento eu já estava deitada no sofá com as pernas para cima só esperando a resposta que não demorou a vir.

Menina do pulso - há sim, pensava que você gostasse dessas coisas.

Eu - Eu gosto, só não estava afim de ir.

Menina do pulso - Entendo.

Eu - e você? Porque não foi?

Menina do pulso - Preguiça!

Eu - Ata haha, fala a verdade Naclara.

Menina do pulso - é sério, só de pensar em escolher uma roupa já me cansa.

Eu - Meu Deus Naclara, posso te ligar?

Dessa vez a resposta demorou.

Menina do pulso - Claro...

Não esperei mais nada e liguei.

- O-oi - Ouvi o quase sussurrado oi dela e sorri.

- Oi Naclara! Não tá sozinha?

- Estou - ela era monossilábica.

- Porque tá falando assim?

- Nada não, já é tarde.

- Amanhã você vai fazer alguma coisa?

- Como assim?

- Tipo sair de casa, ir para algum lugar.

- Há sim - pude ouvir uma risadinha baixinha - desculpa, sou um pouco lesada as vezes. E não, pretendo passar o dia assistindo Grey's Anatomy.

- Que clichê! - eu gargalhei - logico que você assiste essa série!

- Você não? - a voz dela já estava um pouco mais alta.

- Não mesmo.

- Pois deveria.

- Me convença!

- Vem assistir comigo amanhã?

O silêncio se instaurou por cerca de 10 segundos.

- Claro, só falar as horas!

- Não pensei que toparia, fiquei nervosa agora - ela ria enquanto falava.

- Porque mulher?

- Vai que você não gosta.

- Tu desiste rápido demais - olhei para a tela do celular e já se passavam das 3 horas - Ana já tá um pouquinho tarde, preciso dormir.

- Já? A moça dorme cedo?

- Amanhã tenho um compromisso importante.

- hum, posso imaginar!

- Preciso ir. Foi bom conversar com você.

- Até amanhã Vitória, esteja preparada para conhecer a serie da sua vida - eu sorri.

- Com certeza. Tchau Ana.

Acordei e senti a energia de um novo dia entrar pelos meus poros, levantei e enxerguei um céu multicor pela janela pronto para ser aproveitado, peguei meu celular e vi uma mensagem de Flávia avisando que não voltaria para casa, seguida pela de Felipe falando de uma possível despedida pra mim, só ignorei e fui atrás de um café.

Peguei minha xícara e fiquei paradinha em frente a janela, logo aquela vista mudaria e eu sentiria tanta falta.

A maçaneta da porta começou e mexer e eu me virei, vi uma Flavia entrando de fininho.

- Isso é horas senhorita?

- Eu só quero dormir Vitória - ela falava enquanto tentava ir para o quarto.

- Precisa de ajuda?

- Não, consigo me virar.

- Ok.

Ela fechou a porta e eu continuei na mesma posição esperando ela sair do quarto, mas isso não aconteceu.

Duas horas depois estava na frente do quarto novamente.

- Flavi, to saindo de casa viu.

Não veio nenhuma resposta então mandei mensagem. Aproveitei e mandei uma pra Ana também.

Eu - Tô indo antes da hora, ok?

Não esperei resposta e sai de casa.

OTHER WORLDWhere stories live. Discover now