Capítulo 2

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- Claro que não, pode sentar - Falei me afastando abrindo espaço para ela sentar.

- A fila tá enorme, e só tinha aqui pra sentar, mas prometo não te atrapalhar viu, vou ficar aqui quietinha, pode voltar a estudar - O sorriso ia de orelha a orelha enquanto ela falava.

Assenti e voltei meu olhar para aquele livro que não estava nenhum pouco interessante, li alguns parágrafos, reli, mas nada entrava na minha cabeça, folheei algumas páginas procurando alguma imagem ou esquema que pudesse me ajudar no entendimento mas foi em vão. Eu estava derrotada a ponto de encostar minha cabeça no banco demonstrando toda a minha chateação, olhei pro lado e lá estava ela, paradinha como disse que ficaria, as pernas cruzadas, olhando fixamente para um ponto em algum lugar, corri meus olhos pela mesma direção do seu e não vi nada.

- Eu acho lindo quando o céu tá assim - Falou sem olhar pra mim.

- Nublado? - Perguntei achando estranho. Naquele dia o céu estava fechado, a qualquer momento iria começar a chover.

- É - Virou o rosto na minha direção - Eu sei que a grande maioria das pessoas preferem o azul do céu e o sol brilhando, eu adoro também, mas esse cinza me traz a sensação de casa, dá vontade de ficar encolhida, tomando um café enquanto olha pra ele - Falou e eu comecei a rir - Que foi?

- Nada não - Falei me segurando para não rir, aquela menina não era muito normal não.

- Qual a tua senha? - Perguntou mudando de assunto

- 38 porquê?

- A minha é 44, e pelo que parece a fila não tá andando, o que tu acha da gente ir almoçar?

- Já? - Peguei o celular para verificar as horas e já passava das 11:00, me assustei quando olhei os números.

- Olha só - olhou para a sala e eu acompanhei seu movimento - a fila não anda, podemos ficar aqui morrendo de fome até mais tarde, ou aproveitar e ir almoçar agora, é bem provável que os atendentes irão almoçar também e vai ficar só uma pessoa atendendo, quando a gente voltar vai estar do mesmo jeito.

Fingi pensar colocando a mão no queixo.

- É, não parece uma má ideia.

O restaurante não era muito longe dali, era no bloco ao lado, só era preciso passar por uma espécie de ponte que ligava os dois blocos, peguei minha bolsa com a mão machucada sem me dar conta e um gemido de dor escapou sem querer.

- O que aconteceu com a tua mão? - Perguntou quando já estávamos no caminho do restaurante.

- Um pequeno acidente de percurso hoje pela manhã, e meu pulso não foi o único afetado - Falei apontando para o meu supercílio.

Ela fez uma careta e começou a rir.

- Parece que temos alguém desastrada por aqui.

- Eu não sou desastrada - falei fingindo estar ofendida- como falei foi um acidente de percurso, sai rolando na escada do prédio.

Ela parou de repente e me olhou assustada, com os olhos quase saindo do rosto.

- E tu tá bem? - Ela parecia preocupada.

- Tô mulher, amanhã talvez eu não esteja tão bem assim - disse temendo pelas dores musculares que tinha certeza que estariam presentes no dia seguinte.

- Mesmo assim, deveria estar em casa, as pessoas morrem quando caem da escada. - Afirmou com muita convicção.

- Onde tu viu isso?

OTHER WORLDWhere stories live. Discover now