Capítulo 7

2.5K 191 32
                                    

A semana de provas foi bem cansativa. Sobretudo porque eram provas práticas, que às vezes demandavam muito da minha disposição física. Mas o mais difícil mesmo durante essa semana foi a resistência psicológica. Não que eu estivesse tão nervosa assim pelas provas. O problema foi mesmo a pressão psicológica de Halima.

— E aí, ansiosa pela F-E-S-T-A? – perguntou Halima, pela terceira vez no dia de hoje, sexta-feira. Durante a semana foram 23 vezes que ela tocou no assunto da festa de Tom. Eu contei.

— Halima. Eu nem estava tão ansiosa assim na segunda-feira. Mas de tanto você me perguntar eu acho que eu vou ter uma crise de pânico antes mesmo de me arrumar pra festa. – disse, por entre os dentes, enquanto tomávamos um chá na cafeteria da escola.

— Não vai não. Você tá parecendo uma pedra, olha pra sua cara! No seu lugar eu estaria pirando! – disse, segurando minha mão e sacudindo-a.

— É que, na real, eu acho que nem caiu a ficha ainda nem sequer que... aquela pessoa... – olho para os lados para me certificar de que não há ninguém me ouvindo – é meu vizinho. Quanto mais que eu vou pra festa dele.

— Então já é bom você ir digerindo essa informação no caminho porque já são 4 e meia da tarde e é bom você se apressar se quiser parecer ter um pouco mais de dignidade do que agora – Halima aponta para minha dólmã, toda manchada.

— Você tá certa, acho melhor eu me apressar... – Me levanto da cadeira e dou um suspiro – Me deseje boa sorte!

— Boa sorte, amiga! Me manda mensagem sempre que tiver tempo, POR FAVOR!

Halima dirigiu um olhar doce para mim, nos abraçamos e nos despedimos. Nos 40 minutos de trem para casa, a ansiedade começou a espremer a minha barriga. Todos os pensamentos que eu consegui evitar durante a semana por conta das provas me acertaram em cheio nesse momento e eu não conseguia parar de pensar em enfrentar novamente um ambiente com tantas pessoas desconhecidas e um possível novo interrogatório de Melissa. Desembarco do trem ainda perdida em pensamentos e logo que viro a esquina da minha rua já avisto ao longe o carro de Tom parado no lugar de sempre e com o porta-malas aberto. Quando me aproximo, vejo Tom e Haz se revezando para levar caixas e mais caixas de cerveja para dentro do apartamento.

— Caramba! Quando você falou para eu vir com o fígado preparado você não estava mesmo brincando! – disse, me encostando no carro de Tom e cruzando os braços – E aí, Haz?! – acenei.

— E você achou que eu estivesse brincando?! – Tom tentava equilibrar três caixas de cerveja de uma vez, com um sorriso largo em seu rosto – Eu não sei as outras pessoas, mas eu levo minhas festas bem a sério! Então, você vem?

— Já estou aqui! – aponto para mim mesma – Só preciso ficar um pouco mais apresentável. Vocês querem ajuda com esse peso todo?

— Não se preocupe, Cecília! – Haz gritou da escada do prédio, descendo os degraus rapidamente – A gente dá conta!

— Então eu vou pra casa me arrumar... a gente se vê às 7, então! – digo, me encaminhando para dentro do prédio.

— Hey, Cecília! – Tom me interrompe quando já estava no topo das escadas – Não precisa de nada muito chique. Hoje é só pra relaxar e se divertir! – Tom apontou para mim e deu uma piscadinha amigável.

— Sim, senhor! – encenei uma batida de continência para Tom, seguido de uma risada, antes de finalmente ir para casa.

Ao fechar a porta de casa, eu sinto como se um iceberg tivesse brotado no meu estômago.

— Meu Deus do céu, por que eu tô tão nervosa assim, de repente?! – gargalho sozinha histericamente, no ápice da ansiedade.

Respirando fundo, começo a agir. Como sempre, chuto meus tênis para o canto da sala, porque é o que eu faço. Seleciono Houdini – Foster the People para eu gastar a energia da minha ansiedade de forma mais produtiva do que arrancando os cabelos e marcho para um banho demorado na esperança da água quente derreter o gelo na minha barriga. Não funciona. Mas meu cheiro tá que é uma maravilha.

— Eu devia ter pensado na porcaria da roupa mais cedo... – penso alto, encarando o armário, de toalha na cabeça e roupão no corpo.

Após vasculhar um pouco, decido por um cropped preto de mangas longas, uma calça skinny cintura alta de lavagem clara e rasgos na altura dos joelhos, uma botinha preta de salto grosso estilo coturno, um colar comprido com pingente metálico prateado e uma camisa de flanela xadrez preta amarrada na cintura para arrematar. Na maquiagem apenas um delineador preto, rímel e um batom marrom-bordô. Enquanto amasso meus cabelos pra modelar minhas ondas, tiro uma foto no espelho e envio para Halima.

Cecília

"Que tal?"

"Acho que AGORA eu tô ansiosa pra essa festa."

Halima

"DAMN, GIRL! Onde você se escondeu esse tempo todo?"

"Só não saia quebrando corações por aí ;)"

Cecília

"Não vou quebrar o coração de ninguém"

"Só vou tentar tomar cuidado pra eu não ser um desastre total"

"Te mantenho atualizada ;)"

Halima

"Por favor!"

Quando meu cabelo parece ondulado e volumoso o bastante, o relógio já marca sete e quinze e já ouço uma música ao longe, que parece vir do apartamento de Tom. Apenas algumas borrifadas de perfume me separam de sair pela porta e encarar essa festa. Ao passar pela sala, dou uma última olhada na casa e meus olhos passam pela minha estante: o mini-bar. Sempre fui ensinada de que não era de bom tom chegar em festas e reuniões de mãos abanando e, por isso, decidi pegar uma garrafa de cachaça envelhecida que trouxe do Brasil. Um pequeno agrado pro anfitrião e pros convidados acho que pode ajudar as coisas a fluírem bem.

— E pra fluir melhor ainda... – abro a garrafa e despejo uma dose no primeiro copo que vejo pela frente e viro, os olhos fechados.

Sinto o álcool descer queimando a minha garganta e, em questão de segundos, a única sensação que sobra na minha boca é a doçura da cana-de-açúcar. E em questão de mais alguns minutos, sinto como se meus músculos finalmente tivessem destravado e como se eu finalmente conseguisse respirar sem hiperventilar. O álcool desceu queimando e derreteu o gelo no meu estômago. Agora eu estou pronta.

Desço as escadas carregando minha garrafa com cautela, e em alguns passos estou diante da porta do apartamento de Tom.

— Lá vamos nós. – digo, colocando meu melhor sorriso no meu rosto e tocando a campainha.

Waiting at your doorstep | Tom HollandWhere stories live. Discover now