Capítulo 35

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Eram cinco e meia da tarde e eu estava terminando de me maquiar. O coquetel para a entrega dos certificados estava marcado para as sete da noite e meu estômago já estava revirando de ansiedade. Confesso que muito mais para meus pais conhecerem Tom do que pela minha própria formatura em si.

— Nossa, filha! Você tá linda! – mamãe parou na porta do meu quarto, seus olhos marejaram.

— Brigada mãe! – sorri, sem graça.

— Ai, vou deixar pra me emocionar depois. – ela respira fundo, antes de prosseguir – Escuta... o Tom não vai com a gente não? Ele não é seu vizinho?

— É sim, mas ele não vai com a gente. – prossegui, enquanto ajeitava meus brincos – Ele tá de mudança e um pouco sobrecarregado com ela... me disse que nos encontraria lá no coquetel mesmo. Falou com o papai?

— Ah, eu falei sim... – ela encostou-se no batente da porta, de braços cruzados – Mas achei melhor contar só a parte de que você vai nos apresentar um amigo seu hoje e que ele precisa maneirar nas brincadeiras...

— Acha que ele não reagiria bem à fama de Tom? – espremi os lábios, apreensiva.

— Pra ser sincera eu não faço a menor ideia, filha... – mamãe suspirou, o olhar perdido – Mas tenho a impressão de que falar tudo de uma vez seria informação demais pra ele processar.

Dou de ombros, confiando na intuição da minha mãe sobre esse assunto. Meu pai costumava ser tranquilo a respeito desses assuntos, mas desde a sua cirurgia cardíaca no ano passado temos tomado todo o cuidado possível com notícias impactantes.

Querida! – a voz do meu pai se aproximava no corredor em direção ao meu quarto, onde estávamos mamãe e eu – Me ajuda aqui, por favor!

Meu pai chegou no quarto afoito, com seus óculos redondos escorregando pela ponta do nariz, enquanto tentava dobrar a manga de sua camisa.

— Cecília, um passarinho me contou que hoje no coquetel vamos conhecer uma pessoa especial. – Papai espichou seu pescoço em minha direção enquanto minha mãe dobrava suas mangas da maneira certa. – É verdade?

— É sim, César! – disse, dando um sorriso cínico. Sempre que queria implicar com o meu pai, o chamava pelo nome. – Dá uma maneirada, tá? O menino já me falou aqui que tá nervoso.

— Eu não tô entendendo vocês duas! – papai acenou negativamente com a cabeça, sorrindo. – Não é como se você nunca tivesse me apresentado namorado ou namorada antes... – ele mesmo se apressa em corrigir – E eu já sei que não é pra falar que ele é seu namorado.

— Querido, só faz o que a sua filha te pediu, tá? – mamãe arregalou os olhos para o meu pai, pressionando-o.

— Bom, não tá mais aqui quem falou... – ele verificou suas mangas, antes de esfregar suas mãos, empolgado – Então, estão prontas? Ouvi dizer que o povo aqui é pontual.

Papai me deu um beijo na testa antes que eu pegasse meu celular para chamar um Uber. Enquanto observo a rua aguardando a chegada do motorista, observo que o carro de Tom ainda estava estacionado no lugar de costume. Eu nada poderia fazer a não ser torcer para que não nos cruzássemos antes do coquetel.

Ao chegarmos no antigo prédio da escola de gastronomia onde eu passei o último ano e meio estudando, sinto um arrepio na espinha: era um ciclo se fechando e logo a vida que eu levava em Londres deixaria de existir como eu a conhecia. Eu já deveria estar acostumada com essa sensação, já que eu havia deixado para trás uma vida relativamente estável e confortável no Brasil, mas a impressão que eu tinha era que minha vida nunca esteve tanto nas minhas próprias mãos quanto hoje. Hoje em dia eu tinha muito mais a perder do que há um ano e meio atrás. No Brasil eu tinha um emprego meia-boca, um relacionamento meia-boca, uma vida meia-boca. Aqui eu passei a trabalhar com algo que eu amava, a ter ao meu lado uma pessoa que eu amava e uma vida mais leve. E daqui para frente manter tudo isso em equilíbrio e de maneira funcional era unicamente responsabilidade minha.

Waiting at your doorstep | Tom HollandWhere stories live. Discover now