Capítulo 17

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Eram 7h20 da noite da minha última sexta-feira de trabalho e eu finalmente estava dispensada da cozinha. O estágio no hotel me ensinou muitas coisas, às quais eu sou muito grata por ter aprendido, mas uma das principais era: o trabalho na cozinha é braçal e cansativo. Tão braçal e cansativo quanto apaixonante. Depois de me despedir dos meus colegas, atravesso a rua e passo alguns instantes observando a fachada do hotel e suspiro de alívio com a sensação de dever cumprido. Aos poucos, todas as metas que tracei antes de me mudar estavam sendo cumpridas e eu finalmente havia mergulhado de cabeça nos meus sonhos. No ápice da minha distração, um rapaz rodeado por malas usando um sobretudo caramelo, óculos escuros e com um cigarro aceso entre os dedos interrompe meus devaneios.

- Voulez vous coucher avec moi ce soir? - ele pergunta, dando um trago em seu cigarro para ter uma crise de tosse no segundo seguinte.

Me pego por alguns segundos sem entender o absurdo dessa situação. E entendo menos ainda quando percebo, depois de olhar mais atentamente, que o "rapaz francês" é, na verdade, Tom. Meu coração acelera em um misto de surpresa, empolgação e felicidade. Sem pensar em mais nada que importasse mais do que a presença dele, me penduro em seu pescoço, beijando-o empolgadamente no rosto.

- Eu não acredito que você tá aqui! - exclamo, alternando cada palavra com um selinho em uma parte diferente de seu rosto, sorrindo de orelha a orelha - A propósito, você faz alguma ideia do que significa "Voulez vous coucher avec moi ce soir"? - gargalhei, os olhos brilhando.

- Nem a mais vaga idéia. - gargalhou - Mas é a única frase que eu sei, por conta daquela música. - admitiu Tom, sorridente.

- Ah, imaginei... Mas saiba que eu gosto da ideia, viu? - arqueio a sobrancelha, tentando parecer despretensiosa - E desde quando você fuma?

- Desde quando eu resolvi encarnar esse personagem francês ridículo pra te pregar essa peça - resmungou Tom antes de jogar o cigarro praticamente intacto fora, segurando a minha cintura - Eu senti muito a sua falta e não quis esperar você voltar pra Londres. Vim de LA direto pra cá.

- E você não faz a menor ideia do quanto eu estou feliz com isso... - sorrio, acariciando seu rosto e olhando seus olhos pelo máximo de tempo que consigo.

Paris pode ser a cidade mais romântica do mundo, mas acho que os parisienses devem estar um pouco enjoados de tanto romance. Nossa bolha rapidamente estourou quando diversos pedestres passavam resmungando ao nosso lado porque nós e as malas de Tom estavam bloqueando toda a passagem.

- É... acho bom eu arranjar um lugar pra ficar. E rápido... - disse Tom, visivelmente constrangido.

- Vem comigo. - puxo duas das malas que Tom carregava, fazendo sinal com a cabeça para que ele me acompanhe - O apartamento que eu aluguei fica a duas quadras daqui.

Aquela era a primeira vez que eu e Tom saíamos juntos pela rua. Acredito que em outro país seja um pouco mais tranquilo para ele, mas ainda pude perceber que algumas pessoas provavelmente o reconheceram, já que alguns olhares seguidos de dedos apontados e cochichos se voltaram para ele. Me pergunto se alguém viu nossos beijos. Mas, honestamente, aquilo, pelo menos naquele momento, era o que menos importava para mim.

Finalmente chegamos no antigo prédio onde estava acomodada pelas semanas que estagiei por aqui. Tom e eu nos esprememos junto com as malas pelas íngremes e estreitas escadas que levavam até o quarto andar, onde ficava o pequeno conjugado que aluguei.

- Meu Deus, pra quê tanta escada?! - Tom chegou ofegante no topo das escadas, enquanto aguardava eu abrir a porta.

- Esse conjugado foi a melhor coisa que eu consegui em cima da hora e por um preço que não equivalesse ao de um rim. Teve que ser no quarto andar mesmo - Empurro a porta, um pouco emperrada, convidando Tom para entrar. - Deixa suas malas em qualquer canto aí... não tem tanto espaço, de qualquer forma...

Waiting at your doorstep | Tom HollandWhere stories live. Discover now