Provavelmente a última vez que eu havia sentido minha cabeça pesar e ficar tão aérea dessa maneira foi no dia seguinte ao famoso porre que eu havia tomado na festa da casa de Tom, meses atrás. Acontece que o motivo desse mal-estar era bem menos empolgante: era por conta da porcaria do remédio para enjôo que eu tinha que tomar a cada vez que eu precisasse ficar por mais de duas horas dentro de um avião. Como é que eu deveria estar empolgada em rever a minha família se eu estava dopada de Dramin por conta das quatorze horas de vôo de Londres ao Rio?
Eu não fazia ideia de quanto tempo todos esses pensamentos demoraram a passar pela minha cabeça enquanto eu olhava através da esteira esperando minha bagagem chegar. Provavelmente ela deve ter dado algumas voltas e eu nem sequer havia prestado atenção. "Eu deveria avisar o Tom de que cheguei e estou bem." - pensei.
Cecília
"Desembarquei! Tô viva!"
Saco a câmera frontal e tiro uma selfie do exato mesmo jeito que estava no momento, fazendo um hangloose e com um sorriso sonolento.
Tom
"Gostei da animação!"
"Contagiante, eu diria."
Cecília
"Se você tivesse sentindo o calor que eu tô, estaria tão animado quanto eu"
Tom
"Você não sabe o que tá falando!"
Em uma fração de segundos depois, recebo em meu celular uma selfie de Tom soterrado em casacos e cobertores, apenas com os olhos de fora.
Cecília
"Frio dá pra resolver com casaco e cobertor"
"Calor nem se eu ficar pelada resolve!"
Tom
"Espero que você não esteja considerando essa opção."
"Mas se estiver, tira foto e manda porque eu tô interessado"
Cecília
"Impressionante como você não perde uma, lol"
"Minha mala!"
"Mais tarde nos falamos!"
Depois de finalmente avistar e buscar a minha mala na esteira, suspirei aliviada: eu estava, oficialmente, de volta em casa. Ao sair do desembarque, avisto ao longe a silhueta da minha mãe e do meu pai, que acenavam animadamente antes que eu saísse correndo para abraçá-los e voltássemos para casa. Era reconfortante demais ver que meu quarto estava exatamente como eu o havia deixado. Até mesmo os lençóis cheiravam a amaciante. Embora eu soubesse que tudo naquele quarto era meu, que eu chamasse aquele lugar de minha casa e tivesse a consciência de que eu sempre poderia contar com a proteção daquelas paredes, algo dentro de mim sabia que desde o momento em que eu pus os pés para fora do país, eu passaria a sempre ser uma visitante quando voltasse.
Coloquei a minha mala no canto do quarto e prontamente me joguei com tudo na minha velha e conhecida cama, fechando os olhos e voltando a reconhecer todos os cheiros, sons e texturas à minha volta. Ao abrir de volta os olhos, vejo minha mãe encostada no batente da porta do meu quarto enquanto me observava, trazendo uma toalha dobrada em suas mãos.
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Waiting at your doorstep | Tom Holland
Fanfiction[CONCLUÍDA] Aos vinte e poucos anos, Cecília decide ir atrás do seu verdadeiro chamado no velho continente em busca de sua paixão profissional. Deixou para trás família, amigos, namorado e a carreira que odiava para investir no seu bem mais precioso...