Capítulo 25

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Provavelmente a última vez que eu havia sentido minha cabeça pesar e ficar tão aérea dessa maneira foi no dia seguinte ao famoso porre que eu havia tomado na festa da casa de Tom, meses atrás. Acontece que o motivo desse mal-estar era bem menos empolgante: era por conta da porcaria do remédio para enjôo que eu tinha que tomar a cada vez que eu precisasse ficar por mais de duas horas dentro de um avião. Como é que eu deveria estar empolgada em rever a minha família se eu estava dopada de Dramin por conta das quatorze horas de vôo de Londres ao Rio?

Eu não fazia ideia de quanto tempo todos esses pensamentos demoraram a passar pela minha cabeça enquanto eu olhava através da esteira esperando minha bagagem chegar. Provavelmente ela deve ter dado algumas voltas e eu nem sequer havia prestado atenção. "Eu deveria avisar o Tom de que cheguei e estou bem." - pensei.

Cecília

"Desembarquei! Tô viva!"

Saco a câmera frontal e tiro uma selfie do exato mesmo jeito que estava no momento, fazendo um hangloose e com um sorriso sonolento.

Tom

"Gostei da animação!"

"Contagiante, eu diria."

Cecília

"Se você tivesse sentindo o calor que eu tô, estaria tão animado quanto eu"

Tom

"Você não sabe o que tá falando!"

Em uma fração de segundos depois, recebo em meu celular uma selfie de Tom soterrado em casacos e cobertores, apenas com os olhos de fora.

Cecília

"Frio dá pra resolver com casaco e cobertor"

"Calor nem se eu ficar pelada resolve!"

Tom

"Espero que você não esteja considerando essa opção."

"Mas se estiver, tira foto e manda porque eu tô interessado"

Cecília

"Impressionante como você não perde uma, lol"

"Minha mala!"

"Mais tarde nos falamos!"

Depois de finalmente avistar e buscar a minha mala na esteira, suspirei aliviada: eu estava, oficialmente, de volta em casa. Ao sair do desembarque, avisto ao longe a silhueta da minha mãe e do meu pai, que acenavam animadamente antes que eu saísse correndo para abraçá-los e voltássemos para casa. Era reconfortante demais ver que meu quarto estava exatamente como eu o havia deixado. Até mesmo os lençóis cheiravam a amaciante. Embora eu soubesse que tudo naquele quarto era meu, que eu chamasse aquele lugar de minha casa e tivesse a consciência de que eu sempre poderia contar com a proteção daquelas paredes, algo dentro de mim sabia que desde o momento em que eu pus os pés para fora do país, eu passaria a sempre ser uma visitante quando voltasse.

Coloquei a minha mala no canto do quarto e prontamente me joguei com tudo na minha velha e conhecida cama, fechando os olhos e voltando a reconhecer todos os cheiros, sons e texturas à minha volta. Ao abrir de volta os olhos, vejo minha mãe encostada no batente da porta do meu quarto enquanto me observava, trazendo uma toalha dobrada em suas mãos.

Waiting at your doorstep | Tom HollandOnde histórias criam vida. Descubra agora