Capítulo 26

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Eram 05h40 da manhã do dia 1 de janeiro. Havia passado a virada no apartamento de um tio que ficava a poucas quadras da praia da e, como estava tão perto e não havia conseguido dormir, resolvi caminhar pela orla, onde pessoas ainda muito bêbadas tentavam ir para suas casas ou dormiam pela areia mesmo enroladas em suas cangas. Tom ainda não havia respondido as minhas mensagens que eu havia lhe enviado logo que havia virado o ano em Londres. Eu sabia que, por ele estar com família e amigos muito provavelmente não as veria tão cedo e estava ok com isto.

Era bom respirar o ar úmido da praia e sentir o vento carregar o sal para a minha pele, e eu deveria aproveitar ao máximo essa sensação, já que o meu vôo de volta para Londres partiria na noite daquele mesmo dia, afinal vôos no dia 1 de janeiro costumam ser bem mais baratos.

Estendi a minha saída de praia na areia para me sentar enquanto observava o sol nascer e, com ele, o primeiro dia do ano que começava. Ouço se aproximarem por trás de mim um grupo numeroso de vozes que gargalhavam, comemoravam e uivavam. Antes mesmo de me virar para conferir quem eram os responsáveis por toda aquela farra, um sorriso já brotava no meu rosto, afinal a alegria sem motivo do ano novo era realmente contagiante.

— Ah, mas eu sabia que te encontraria aqui, mulher! – inesperadamente ouço uma voz masculina subitamente brotar ao meu lado na areia, juntamente a um corpo familiar que despencava sentado na areia.

— Bruno?! Que que você tá fazendo aqui?! – sinto meu coração acelerar pura e simplesmente por conta do susto que levei. Minhas narinas são invadidas por um cheiro de álcool nauseante.

— Vim com o pessoal passar o ano novo aqui no Rio! – Bruno passou seu braço sobre meus ombros e com a outra mão apontou para o grupo de uns 6 caras atrás de nós que pareciam estar encontrando certa dificuldade em abrir a garrafa de espumante na mão de um deles – Algum problema?!

— Não, nenhum! – esclareço, sem conseguir esconder minha expressão de impaciência – Mas... como você me achou? – suspiro – Minha mãe, né... ela ainda tem falado com você...

— Ow ow ow ow! – Bruno ergueu as duas mãos na altura de seus ombros, perdendo um pouco o equilíbrio por conta da embriaguez – Dona Lúcia não tem nada a ver com isso! Acho que a sua mãe até me bloqueou, sei lá... não me responde faz tempo!

— Então como você soube que eu estaria aqui? – aproveito o desequilíbrio de Bruno para me afastar dele mais alguns palmos, ao que sou interrompida pelo som da garrafa de espumante finalmente estourando atrás de nós, seguido pelos uivos comemorativos dos amigos de Bruno.

— É que no ano passado a gente passou a virada do ano bem aqui nesse ponto da praia... – Bruno recebeu a garrafa das mãos de um de seus amigos, bebendo um longo gole direto do gargalo, para logo em seguida estendê-la em minha direção, me oferecendo a bebida – Lembra?!

— Não, obrigada... – aceno negativamente com as mãos, me afastando mais alguns centímetros de Bruno – Eu... me lembro sim mas... você estava me procurando, por acaso?

Bruno arregalou os olhos enquanto bebia mais um gole do espumante e acenava negativamente com a cabeça.

— Claro que não! – ele limpou a sua boca com o antebraço antes de estender a garrafa de volta para um de seus amigos – A gente só tava passando por aqui e... eu lembrei que aqui foi a nossa última virada de ano juntos.

Bruno e eu emudecemos. Não havia nenhum constrangimento da minha parte, mas ele parecia um tanto abalado. O que em nada me comovia, mas um incômodo no peito inquietou-me o suficiente para que eu subitamente me levantasse e recolhesse minhas coisas.

— Bom, acho que já tá na hora de eu ir embora... – digo, de maneira quase ríspida, espanando a areia das minhas roupas – Meus pais já devem estar me esperando.

Waiting at your doorstep | Tom HollandOnde histórias criam vida. Descubra agora