Capítulo 17

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— Bela acorda, você não tem trabalho hoje? — Ouvi uma voz do além me tirar do meu maravilhoso sono

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— Bela acorda, você não tem trabalho hoje? — Ouvi uma voz do além me tirar do meu maravilhoso sono.

— O que é Ângela? Por que essa gritaria toda? — Soei ainda um pouco sonolenta.

— Simples meu amor, você está atrasada. — Falou pausadamente a última palavra.

Quando dei por mim já estava esborrachada no chão, pois me levantei com pressa e consequentemente acabei me embolando com a coberta.

— Você não tem jeito mesmo, né? Nem quero saber quantas partes roxas você tem no corpo.

— É culpa sua. Agora me lembrei que o senhor Martilhe me deu esse dia de folga. Falando nele, como cheguei aqui?

— Ele te trouxe, besta. Não tinha lugar melhor para dormir não, ou você queria sentir os músculos do chefinho? — perguntou rindo.

— Até parece que nunca senti — falei sem querer, merda!

— O QUÊ? Me conta isso mulher. — Sentou-se na cama ao meu lado.

— Acho que tem alguém atrasada para o trabalho — comentei como quem não quer nada.

— Poxa! É mesmo. Quando eu chegar, quero saber de cada detalhe. — Pegou sua bolsa e saiu batendo a porta.

Era só o que faltava. Bem, vou procurar um emprego, tenho que aproveitar essa folga no meio da semana.

Abri o guarda-roupa e peguei uma calça preta social bem justa, uma blusa branca godê que marca bem a cintura, com um caimento folgado na manga que vai até um centímetro antes da mão e, calcei um sapato MaryJane que custou bem baratinho em um bazar. Prendi meu cabelo em um coque frouxo e passei uma maquiagem básica, sendo destacada apenas por um batom rosa. Peguei a pasta com o currículo e minha bolsa de couro preto, entretanto, quando estou prestes a sair o meu celular toca, aproveito o momento e atendo a ligação.

— Olá — expressei como se fosse a pessoa mais calma do mundo.

— Bom dia, sou a diretora da escola onde Tomas Martilhe estuda, ele deu o número da senhora para comunicar o ocorrido, pode vir buscá-lo? — Pronunciou calmamente cada palavra.

Não acredito, nem no momento de folga essa família me libera. Qual foi a besteira que essa criança arrumou dessa vez?

— Tudo bem, já estou chegando. — Encerrei a ligação e caminhei para a sala.

— Onde vai assim menina? — falou Dona Linda.

— Procurar um emprego. — Preferir não comentar nada sobre Tomas.

— Mas você tem um. — Pareceu confusa.

— Acho que mereço mais do que ser uma simples babá.

— Não esqueça, nem sempre aquilo que queremos acontece realmente — pronunciou misteriosamente.

— A senhora está jogando praga? — Nesse momento duvidei da sua aparência de boa senhora.

— Claro que não menina, estou apenas te aconselhando. O destino prega peças que nem imaginamos.

Vou sair dessa conversa chata, e ir embora que ganho mais.

— Ok, tenho que sair. — Não dei crédito as suas palavras.

— Não vai comer?

— Como na rua. — Finalizei.

Saio da casa e utilizo o metrô para chegar ao centro. Graças a Deus a viagem foi rápida, em quarenta minutos já estou no bairro esperado.

Quando finalmente encaro o local, observo a grande escola, a melhor da cidade onde apenas os filhos das pessoas mais influentes estudam. Com sua arquitetura em um modelo clássico vitoriano, esbanjando pinturas antigas e abstratas. Quando adentro o pátio central, aproveito a oportunidade e peço informação sobre a localização da diretoria a uma moça que passa no local, já que esqueci o que o vigia me explicou na entrada.

Enquanto ando apressadamente, observo vários alunos passando terrivelmente padronizados, as moças em saias sociais azul-marinho e blusa branca, os meninos nos mesmos padrões, mas com calças.

Avisto uma porta de madeira com a placa escrita coordenação, entro no local e peço a informação a secretaria que informa a minha chegada. Quando entro na sala clássica, ao que parece um escritório. Observo Tomas sentado, tendo as mãos em um movimento frenético como se estivesse apreensivo sobre algo.

— Olá, bom dia. Sou Bela Solano, responsável por Tomas na ausência do pai. — Na minha opinião é melhor esconder nesse momento que sou a babá, pois deve haver um motivo para o menino não desejar a presença do pai.

— Sou Lucero, a nova diretora. Hoje é o meu primeiro dia, e tive um problema com essa criança. — A mulher de aparência franzina com aproximadamente 35 anos apontou sugestivamente para Tomas. — Pelo que fui informada, a inspetora relatou que viu o menino brigando com os colegas e esse relata que isso acontece todos os dias. Peço que o leve para casa, e não se preocupe já tomei todas as providências cabíveis com as outras crianças.

Não pronunciei nenhuma palavra, apenas peguei Tomas que continuou em silêncio e o levei para fora da escola. Tendo em vista que, não sou a responsável dele, logo, se o pai por acaso descobrir sobre o ocorrido a culpa cairá sobre a minha linda cabecinha. Com isso, pretendo ser sugestiva e não me aprofundar em detalhes, já que esse assunto não me compete. Contudo, tem algo que não compreendo, por qual motivo Tomas ofereceu meu contato e não o do pai? E que diretora burra, não sabe que essa tarefa pertence ao responsável? Bom, talvez, somente se o senhor Martilhe tiver um histórico muito negligente para isso acontecer, mas... não quero saber.

— Então, o que você pode me explicar sobre isso? — perguntei seriamente, assim que chegamos no gramado da escola, em frente ao enorme portão branco do lado de fora, tendo em vista, as grandes muralhas cercando todo o colégio, assemelhando a um internato.

— Não tenho nada para falar com você — respondeu na sua costumeira grosseria.

Suspirei, por que ele pediu a minha presença se não quer me informar? Preciso me livrar dessa família. Chamei Paul para buscá-lo, enquanto aguardo em silêncio, observo sua fisionomia, é notável o seu abatimento, mas prefiro não comentar, já que isso não me compete. Contudo, uma coisa é certa, vou pesquisar sobre isso, e ele vai ter que me contar sobre o ocorrido. Quando finalmente o motorista chega, explico que Tomas passou mal por isso a minha presença e a saída do menino. Foi uma boa explicação para ele, então segui o meu rumo.

Passei o restante da manhã distribuindo o meu currículo por vários escritórios. Já são 11h30min da manhã, então, esse será o último currículo que vou entregar.

Entrei no prédio da companhia Compony conhecida por seus serviços de consultoria em direito, contábeis e administração. Com sua estrutura clássica contemporânea, possui um belíssimo edifício, me desejo sorte e sigo ao trabalho.

Mal entro no prédio avisto Clara de longe com mais dois homens e uma mulher, perfeitamente arrumados com roupas sociais. Arregalei os olhos rezando para ela não me enxergar. Ô praga! Essa sorte só poderia ser minha.

O Chefe da MegeraWhere stories live. Discover now