CAPÍTULO 2

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Assim que Ian chegou em seu clã, ele foi logo para a ala médica fazer um curativo nos machucados pelos socos de Rebecca.

"Que mão pesada essa mulher tem", Ian pensou enquanto limpava as marcas arroxeadas de seu rosto.

Sua esposa apareceu pouco depois de ele tapar o vidro de álcool.

-- Meu Deus, Ian! – ela exclamou – O que aconteceu com você?!

-- Nada demais, aquela selvagem me atacou, foi isso que aconteceu... – ele bufou – A gente tenta argumentar e é isso que acontece.

-- Aham, vou até acreditar que você não provocou... – ela dá um sorriso de lado ao perceber que seu esposo está bem.

Natália era uma mulher forte. Seus longos cabelos loiros sempre presos em uma trança. Ela e Ian eram namorados desde que eram apenas adolescentes de 15 anos. Ian a amava, mais do que qualquer coisa no mundo.

-- Talvez... – ele olhou para ela, também com um sorriso de lado – Mas não se preocupe, tudo isso vai ter volta!

-- Ei, ei, ei. Nem pense nisso. – ela segurou o braço dele, séria. – Não comece uma guerra, pelo bem da nossa filha!

Ela olhou profundamente nos olhos de sua esposa, como uma mágica, ela conseguiu acalmar o coração de Ian.

-- O que eu faria sem você? – eles sorriem um pro outro – Você é minha consciência!

Ela ri, abrindo ainda mais o sorriso de Ian.

-- Espero que essa consciência dure muito tempo e que você não faça nenhuma bobagem quando ela se for.

-- Jamais diga isso!

Eles iam começar a discutir sobre como o mundo era perigoso, como a morte batia na porta de todos e como a expectativa de vida havia caído, quando sua filha, Meredith, chegou na sala em que estavam.

A garota parecia um anjo, seu cabelo loiro perfeitamente arrumado pela mão, sua pele macia e seus olhos profundos e azuis davam a menina as características de um anjo.

-- Mamãe, papai! – ela disse, correndo até eles. Os dois se viraram para olhar para ela, que estava ofegante por ter corrido demais.

-- Cuidado com a asma, querida. – a mãe dela disse, com um tom suave.

-- A asma tem que esperar. Eu tô muito feliz! Muito feliz! – a menina exclamava e pulava ao mesmo tempo, fazendo seus pais rirem. – A senhorita Andrade disse que eu sou inteligente demais e preciso pular dois anos na escola!

-- O quê?! – o pai dela se assustou, não estava preparado para sua filha crescer tão rápido.

-- É isso mesmo, Ian. – Natália ri – Sua filha é um gênio!

A pequena deu um abraço nos dois, sorrindo muito.

-- Ok... – disse Ian, enquanto todos se soltavam – Mas todo gênio precisa dormir.

-- Mamãe. Me conta a história dos clãs novamente? Tudo sobre a separação deles. – a menina pedia, animada.

-- Claro, querida. É muito bom que se interesse por isso! – A mulher olhava para sua filha com orgulho. E devia se orgulhar mesmo

A menina era muito inteligente. A ponto de saber física avançada tão pequena. O futuro dela seria promissor se a humanidade não tivesse acabado. Ao menos ela poderia contribuir com seu clã sendo uma médica ou cientista.

Natália levou Meredith até o seu quarto. Ian o havia decorado do jeito que a menina queria, sua cor favorita era azul e seu quarto era exatamente dessa cor. Não só o quarto, mas as roupas, sapatos, laços, até mesmo o lençol da sua cama.

-- Então, mamãe. Pode começar. – disse a menina, enquanto a mãe a embrulhava com o lençol.

-- Bom, há muito, muito tempo atrás. Um país chamado Coréia do Norte e outro chamado Estados Unidos entraram em uma guerra gigantesca que quase dizimou a população. Pode até ter tido um vencedor, mas ninguém ganhou nada com isso...

-- Por que eles entraram em guerra? – a menina perguntou, com olhos curiosos grudados na mãe.

-- Bom, querida, eu não sei. Ninguém nunca falou sobre isso. – a mulher deu um sorriso, apesar de estar decepcionada por não poder responder a pergunta. – Bom, deixe me continuar. A guerra quase dizimou a população, mas tinha um país no qual os Estados Unidos investiu durante a guerra, o Brasil. Muitas pessoas conseguiram sobreviver a radiação, mas jamais conseguiriam aguentar a onda de fome. Por isso, com estratégia, os EUA construiu um campo de agricultura no Brasil que era protegido da radiação. Assim a humanidade conseguiu sobreviver por mais tempo. Os que restaram, se juntaram, mas houve uma grande briga de interesses. Uns queriam leis para voltar a ser como eram antes, outros aceitaram que não podiam mais viver a vida antiga e não queriam leis. A briga perdurou por muito tempo, mas antes que alguém morresse, eles se separaram. E assim surgiu os clãs.

-- E o quê mais? Por que o Brasil? Aquele campo conseguiu alimentar toda a população? Onde eles se juntaram? Como eles conseguiram se unir, já que cada um falava uma língua? Eu preciso de detalhes, mãe! – A menina claramente não se contentava com o final vago da história.

-- Talvez algum dia alguém te dê as respostas que você precisa, mas eu não tenho elas. – a loira deu um beijo em sua filha – Agora vá dormir, amanhã você tem escola.

-- Turma nova!

A animação da garota fez Natália rir.

-- Boa noite, querida. Eu te amo.

-- Boa noite, mamãe. Eu também te amo, mais do que eu amo o papai. – ela riu e sua mãe riu também. – Não conta para ele.

-- Não vou contar. – disse a mãe, após desligar a luz.

Natália saiu do quarto e foi para o escritório, a noite seria bem longa. Com todas aqueles ataques e roubos, eles precisariam racionalizar comida. E era responsabilidade dela resolver esse problema.

-- Malditos sulistas. – disse ela enquanto olhava os papéis.

SobreviventesWhere stories live. Discover now