CAPÍTULO 18

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Ian convocou uma reunião com todos na sala dos discursos. Todos estavam presentes, inclusive o povo de Rebecca. A mulher estava sentada em uma cadeira em cima do palco, enquanto Ian falava o quanto eles estavam avançando em pesquisas e chagando perto de como matar os zumbis.

Via-se vários tipos de pessoas naquela plateia. De crianças a idosos. Todos ouvindo atentamente o que Ian estava dizendo. Até que uma pessoa revoltada se levantou em meio a multidão e começou a questionar.

─ Como nós vamos saber que estão mesmo chegando perto de alguma coisa?! ─ a pessoa gritava.

─ É! ─ outra pessoa se levantou para ajudar ─ Eu não consigo dormir pensando que meus filhos estão no mesmo teto que esses... selvagens!

Ian percebeu que perdeu o controle, quando viu a multidão silenciosa se transformar em uma furiosa que estava gritando e reclamando. Rebecca viu algo que nunca pensou que veria na vida. Ian desesperado. Achou, então, que era fácil tirá-lo do poder. Mas que também não iria fazê-lo.

─ Ok, está bom!

Rebecca se levantou de sua cadeira e foi para onde Ian estava. Pegou o microfone e gritou:

─ Calem a boca!

Mas ninguém a ouviu. Então ela fez o microfone soltar aquele ruído irritante que entra nos ouvidos e mexe com o seu cérebro. Todos se calaram para tapar os ouvidos. Quando o barulho parou, ninguém mais levantou a voz.

─ Bem melhor... ─ a líder falou para todos ─ Vocês são idiotas ou o quê?! Estamos fazendo das tripas coração para transformar esse lugar em um lugar seguro outra vez e vocês ainda reclamam?! Agradeçam porque nós não desistimos de vocês ainda! E se não estiverem satisfeitos, saiam da proteção dos muros e tentem se aventurar sozinhos! Reclamar enquanto estão protegidos é fácil demais! ─ Rebecca dizia sem alterar a voz, mas com autoridade ─ Talvez se vocês ajudassem, a gente já estivesse muito mais na frente com isso.

Ian percebeu com isso que Rebecca tinha um espírito de liderança muito melhor do que o dele. Ela levava muito o jeito para isso. Ele se sentia orgulhoso, não sabia o porquê. Mas ela era uma pessoa que tinha um jeito de falar cativante, era boa de conversar. Ele começou a lembrar da coisa que tirava seu sono a noite, a coisa que lhe atormentava. E em como seria bom desabafar com alguém que não fosse lhe julgar. Ele passou tanto tempo guardando isso para si que talvez fosse a hora de falar com outras pessoas. Ele não ia precisar vê-la novamente, então era a oportunidade perfeita para fazer isso.

Mas uma parte dele ainda estava com um pé atrás em relação à ela ─ dois pés, para ser mais sincera. ­─ Ele não poderia simplesmente parar na frente de sua inimiga de tantos anos e falar de seus sentimentos para ela. Ele não faria isso nem com sua própria filha! Então deixou a ideia para lá e começou a se concentrar realmente no que ela estava falando.

Rebecca passou bastante tempo discutindo com o povo. Na verdade, ela não conseguiu dar os avisos completos, mas conseguiu acalmá-los com sua ideia de que "estava tudo bem" e logo, logo eles iriam para casa. Para sua alegria, percebeu que algumas pessoas haviam ficado meio tristes com a notícia de que a jornada no clã oposto estava chegando ao fim, isso significava que as pessoas estavam começando a se acostumar com as presenças umas das outras e esquecendo um pouco as diferenças e esse era o primeiro passo para a "paz mundial". Quem diria? Algo tão simples faria algo tão grande. Por que as pessoas não param de apontar as diferenças e começam a apontar as semelhanças?

Após muito tempo falando, Rebecca estava quase no fim e Ian já ia assumir a frente do trabalho, porém algo complicado aconteceu. Ian foi atormentado pela coisa mais perturbadora de sua vida. A imagem de sua esposa. Ele se posicionou na frente do microfone e olhou nas expressões faciais de cada um. Uns com raiva, outros neutros. Então, no horizonte, uma luz forte, que o obrigou a semicerrar os olhos, começou a brilhar. E no meio dela, Helena, a loira de olhos azuis mais linda que ele já havia visto, apareceu bem em sua frente. Ela sorria, acenava, como se quisesse passar paz e tranquilidade para o marido. Mas não passou. Pelo contrário, ela o perturbou. Ian ficou paralisado, não conseguia falar e nem ao menos sair do lugar. Apenas observar boquiaberto aquela imagem que só ele conseguia ver.

SobreviventesWhere stories live. Discover now