CAPÍTULO 3

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-- Ok, o que vocês encontraram? – Rebecca perguntava apreensiva enquanto ela e Thomas entravam no escritório improvisado de Rebecca, o único lugar onde ninguém iria interrompê-los.

-- Parece que não é nada, mas... – ele fez uma pausa e olhou para o chão como se estivesse escolhendo palavras para explicar a teoria que as pessoas que encontraram a pista criaram. – Você vai entender quando ver.

Ele ficou de costas para Rebecca e a líder viu ele abrir uma pequena caixa de madeira ornamentada que estava em cima da mesa dela, ele retirou um objeto de dentro, era um colar prateado. Rebecca abriu a boca e seus olhos se encheram e lágrimas quando ela reconheceu o colar.

-- É dela. – ela disse enquanto avançava para pegar o colar. – É da minha mãe. – ela pegou o colar e ficou observando ele. Tinha um pingente em formato de coração, quando abriu, duas fotos eram reveladas, de um lado sua mãe e do outro seu pai. Rebecca ficou acariciando o colar como se tivesse encontrado um animal indefeso. – Ela jamais. Jamais. Deixaria esse colar para trás. Era a aliança de casamento deles. Era tudo que havia restado dele para ela. Se ela o perdesse, nunca deixaria de procurar! A minha mãe pode não ter sido a melhor mãe do mundo, mas ela o amava mais do que tudo. Ela nunca deixaria a única memória dele para trás.

Thomas percebeu o quanto aquilo mexeu com Rebecca, então decidiu abraça-la, para acalmar sua melhor amiga.

-- Thomas, isso quer dizer que ela não foi por conta própria. Ela estava fugindo, ou talvez sendo levada a força. – Rebecca escondeu seu rosto no ombro de Thomas e começou a chorar. – Ela não me abandonou.

-- Ela nunca te abandonaria, Rebecca – Thomas disse – Ninguém em sã consciência abandonaria você.

-- Talvez não abandonem, mas sempre se vão. Meu pai, minha mãe, Clarissa, até meu cachorro. Todos se foram. Eu- eu só tenho você agora.

-- Isso. – ele a soltou e segurou seu rosto para conseguir olhar bem no fundo dos seus olhos. – E você nunca, jamais, vai me perder.

Ela deu um leve sorriso. Passaram algum tempo assim, olhando um nos olhos do outro.

Até que Thomas beijou suavemente seus lábios.

Rebecca esperava por isso, era claro que o clichê do melhor amigo se apaixonando por ela iria acontecer. E ela gostava dele, muito. Mas amar era uma palavra muito forte para o que ela sentia por ele, apesar disso, ela resolveu se entregar àquilo. Afinal, ele era chefe do exército e ela precisava do apoio do mesmo.

O garoto acordou para a realidade e percebeu o que havia feito. Se afastou de Rebecca rapidamente e ficou olhando para ela, totalmente vermelho. Ela riu, enquanto ele tentava descrever em palavras o quão envergonhado estava pelo que acabara de fazer.

-- Está tudo bem, Thommy. – ela se aproximou dele e pôs a mão em seus ombros – Se quer saber, eu acho que você demorou bastante para tomar essa iniciativa.

-- Eu demorei? Você que é essa muralha de sentimentos e eu nunca sei o que você está sentindo. – e, finalmente, eram dois melhores amigos de infância de novo.

-- Você sabe exatamente o que eu sinto, o tempo todo.

Eles riram e Rebecca voltou a prender os cabelos.

Antes que pudessem dizer mais uma palavra, um dos soldados de Rebecca entrou apressadamente em sua tenda, atraindo a atenção de todos os que estavam lá.

-- Líder, desculpe interromper, mas é urgente!

-- Diga, Gabriel, o que aconteceu? – Rebecca disse com um olhar de preocupação. O garoto estava tremendo e muito agitado.

-- Siga-me!

Ele disse e todos saíram correndo para seja-lá-onde o garoto os queria levar.

Ao chegarem, Rebecca só teve um segundo para pensar, de choque tapou a mão na boca para abafar o grito que ameaçava sair de sua garganta. O grito queimou em seu peito e fez com que seus olhos se enchessem de lágrimas.

O motivo de tamanho choque? Ela se deparou com cinco pessoas mortas violentamente, cobertas de sangue e sem alguns membros.

Quando Thomas percebeu que Rebecca estava em choque demais para dizer alguma coisa, ele tomou a frente da situação.

-- O que aconteceu aqui? – ele disse, olhando para o garoto que os tinha levado até lá.

-- Okay, calma. Eu estava na minha caminhada matinal que a Rebecca tornou quase obrigatória para todos os soldados e quando cheguei aqui, eles estavam assim. Cinco pessoas comuns mortas!

Rebecca se abaixou para olhar para uma das mulheres que a ajudou a treinar, seu nome era Kátia. A líder tocou na pele escura da mulher e seguiu um de seus cortes, ela examinava minunciosamente cada centímetro do corpo da mulher enquanto chorava ao lembrar de seus momentos de treino juntas.

-- Sinais de luta. Ela morreu lutando. – Rebecca disse e olhou para eles – Ninguém aqui seria burro para matar pessoas e deixa-las à mostra. Isso foi feito por gente que não tem muito treinamento para matar. Até nossas crianças fariam trabalho melhor.

Thomas respirou fundo.

-- Sulistas. – ele concluiu.

-- Quem mais? – Rebecca olhou para o chão – Eu não admito que mais ninguém venha na minha casa e machuque o meu povo. Da próxima vez que eles atacarem, declararemos guerra.

SobreviventesWhere stories live. Discover now