CAPÍTULO 20

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Meredith sabia que não havia outro jeito de testar seu plano a não ser convencendo Luke a falar com Luke. Ela detestava ter que fazer isso, mas não tinha saída. Era isso ou aguentar garoto amando aquela menina para sempre. Amando não. Meredith estava certa de que ele não sabia o que essa palavra significava. No máximo ele sentia uma leve atração por ela. E, de novo, ela não sabia porque diabos ela se importava.

A loira foi até seu amigo e contou para ele que havia conversado com Luna sobre o crush que ele tinha nela.

- Você o quê?! – Luke gritou com tanta força que todos a um quilômetro de distância ouviram com clareza. Meredith imaginava que ele fosse reagir mal, mas não imaginou que ele queria que todos os sobreviventes da Terra tivessem conhecimento das ações dela.

- Calma, Luke. Ela reagiu bem. Apenas disse que precisa de um homem com atitude para ser seu par para o resto da vida. – Meredith disse, calmamente, com os braços cruzados sobre o balcão que separava ela e o moreno. – Mas você não é do tipo que se arrisca, é?

- Meredith, eu sou do clã do Sul, é claro que eu sou do tipo que se arrisca, mas eu não sei se esse tipo de risco é válido. É só uma garota...

A loira ficou tão feliz ao ouvir isso, que não pode conter o mínimo sorriso em seus lábios, ela o escondeu muito bem e Luke era lerdo demais para imaginar que seu sorriso tinha algo a ver com Luna e ele.

- Por outro lado.. – o sulista voltou a falar – ela foi a única garota que despertou minha atenção em toda a minha vida. Então, talvez, eu deva correr o risco e ir falar com ela. Não tenho nada a perder.

"Droga!", Meredith mentalizou.

- Obrigada, dith! Se não fosse por você, talvez eu nunca pensasse em tomar essa iniciativa!

Ele sorriu em um grande agradecimento. E Meredith retribuiu o sorriso da forma mais forçada possível.

- Para quê servem os amigos, né?!

Ele inclinou a cabeça para ela em mais um agradecimento e saiu, provavelmente para procurar Luna.

Dith ficou olhando para todos os lados. Como ela teria controle da situação agora? Seu plano saiu dos trilhos e estava desgovernado. Ela precisava fazer alguma coisa, talvez conseguir alguém para ouvir as conversas e deixar-lá a par de tudo que estava acontecendo.

Mas ninguém do seu povo sabia espionar. Até que ela lembrou. Ela tinha alguém do clã vizinho que poderia fazer seu trabalho sujo...

Eloise era a peça chave nesse plano. Meredith já havia lhe contado tudo que ela precisava saber. A sulista havia sido treinada arduamente para espionar e se comunicar de forma discreta. Ela era perfeita para o papel, ou pelo menos, era a melhor – e única – opção de Meredith.

- Eloise, querida, sou eu de novo.

Quando a morena ouviu isso, revirou os olhos o máximo que conseguiu. A loira sabia que Eloise não gostava de sua presença, por isso a incomodaria até ela aceitar. Era uma forma de tortura.

- Meredith, o seu pai já não avisou que eu não posso receber visitas? – Eloise disse, com um sotaque falso de doçura – estou na solitária. So-li-tá-ria. Ninguém pode vir falar comigo. Nem olhar para mim. Vocês não são daqueles eu obedecem leis?

- Isso não é uma lei. É uma regra. Que pode ser quebrada em casos de emergência. E eu estou em uma emergência.

Pensando bem, Eloise percebeu que não havia outra alternativa se não ouvir Meredith sem reclamar, quanto mais ela reclamasse, mais a loira ficaria por lá. E há! Como ela queria ficar sozinha!

- Desembucha logo. Já estou na página 337 do meu livro.

- Fala sobre o quê? – Meredith olhou discretamente para a capa que continha o título escrito na língua que ela não conhecia. – Sobre como dessecar animais?

Depois de pronunciar isso, a nortista percebeu a semelhança das suas palavras com as palavras de seu pai. A garota balançou a cabeça rapidamente como uma tentativa de parar de pensar que estava se tornando ele versão feminina dele.

-- Nossa, muito engraçada você... – Eloise força uma risada e Meredith revira os olhos.

-- Enfim, antes que você resolva me ignorar como sempre faz, eu vou te falar o meu plano. – quando Meredith viu que Eloise não fazia a menor ideia do que ela estava falando, lembrou que não havia contado muitos detalhes a respeito – aquele que eu tive enquanto conversava com você. Lembra agora?

-- Nem um pouco, clareie minha mente. Sou uma pessoa muito sobrecarregada e ocupada, sabe? – Eloise falou isso de um jeito tão esnobe que acabou se tornando engraçado.

-- Com certeza, deve estar muito ocupada dentro de uma cela vazia e totalmente isolada do mundo, com apenas um livro para ler. – Eloise revirou os olhos e pensou em ironizar o quanto estava "magoada" pela falta de consideração com as atividades da mesma, mas decidiu ficar quieta – Enfim, como sou uma pessoa muito boa e paciente, vou te contar novamente. – a morena apenas concordou e a loira segurou o riso pelo fato de que a outra não fazia ideia de que o plano nunca havia sido contado – eu sou uma pessoa muito exigente quando se trata de meus amigos namorarem. Apesar de eu nunca ter tido nenhum amigo. Enfim, isso não é importante. O plano que eu bolei foi: Eu iria ajudar Luke a falar com a Luna e, seguindo lógica de que eles dois tiveram a vida toda e nunca deram certo, eles não iriam combinar, Luke ia perceber que todo esse amor era uma ilusão. Vai ficar triste. Eu vou consolá-lo. Todos ficam felizes. Fim.

Meredith abre um enorme sorriso e Eloise mantinha seu olhar de pouca fé focado na menina.

-- Você sabe que esse plano tem milhões de furos e 97 por cento de chance de dar errado, certo?

-- Nenhum plano pode ter 100 por cento de certeza. Pelo menos esse tem três por cento de chance de dar certo.

-- Hã? – a dúvida no rosto de Eloise fez Meredith gargalhar.

-- Você não sabe subtrair, sabe? – ela disse entre risos.

-- E-eu poderia saber! – Eloise tentava manter o nariz empinado – se eu ao menos soubesse o que essa palavra significa.

Isso só fez Meredith rir mais e mais. Eloise não ficou com raiva, apenas ficou vermelha feito um tomate.

-- Onde eu entro nesse plano? – ela tentou mudar o assunto.

Meredith parou de rir e fez uma expressão fofa que só ela conseguia fazer com suas feições angelicais. Ela puxou uma perna para cima do banco da cela, para ficar mais confortável.

-- Eu não posso ouvir nada que eles dizem, mas você minha cara. – Dith fez uma pausa e apontou para ela, fazendo uma expressão maliciosa – você pode! – Ela abaixou o braço e voltou a segurar sua perna – Seu trabalho é vigiá-los para saber se o meu plano está indo no rumo ou eu vou precisar intervir.

-- Minha querida, eu não sei se você percebeu, mas o único som que eu escuto aqui é o da sua voz. Como eu vou escutar a conversa deles dois?

-- Garota de pouca fé... – Meredith disse enquanto se levantava para bater de leve no ombro de Meredith – Você não vê que eu sou a segunda presidente daqui. Eu vou arrumar um jeito de te soltar. Não se preocupe.

Eloise pensou que isso talvez não fosse uma boa ideia. Meredith não podia falar com ela, se a loira fosse pedir para seu pai lhe soltar, ele saberia que a cientista estava falando com a sulista e logo iria castiga-la ou dar uma bronca na menina. Isso se ele não arrumasse um jeito de culpar Eloise. Mas ela não tinha muito o que fazer, tentar impedir Meredith era inútil agora, a garota parecia perseverante em seus objetivos. Isso tinha lá seus defeitos, mas a guerreira não podia notar as qualidades. Apesar de sua pele clara e ossos frágeis, Meredith era uma pessoa forte. Talvez nem ela soubesse isso, mas Eloise conseguiu visualizar o fato por um pequeno instante. E por um milésimo de segundo, a admirou.

-- Então você topa ser parte crucial do meu plano? – Meredith estendeu a mão para a outra garota. Com um sorriso fofo nos lábios.

Eloise apertou a mão dela sem receio algum.

-- Aceito. – disse com firmeza.

A loira deu um sorriso mais aberto e Eloise se permitiu sorrir, um pouquinho.

SobreviventesWhere stories live. Discover now