CAPÍTULO 27

17 1 0
                                    

Passou-se três dias desde que Ian tomou a decisão de mandar o povo de Rebecca para o campo. A líder não fazia ideia do que estava acontecendo quando cinco mulheres foram até ela perguntar como estava a missão que seus maridos foram enviados.

-- Perdão? – Rebecca ficou confusa por não saber de que missão elas estavam falando.

-- A missão, senhorita. Nossos maridos foram enviados a uma missão para descobrir mais sobre os zumbis. Ian disse que a senhorita mandou todos eles para lá na tentativa de conseguir mais informações, porém faz três dias que não temos nenhuma notícia deles. – Uma das mulheres, a única que sabia português, explica para Rebecca o que estava acontecendo.

Aquela explicação ilumina a mente de Rebecca, uma chama de raiva arde em seu peito e, se isso não fosse iniciar uma guerra imediata, ela poderia jogar Ian de um prédio agora mesmo.

-- Ian, não é? – Rebecca diz para as mulheres. – Bom, assim que eu tiver mais informações, falo com vocês.

A mulher que havia falado com ela concorda e passa a informação para as outras, enquanto Rebecca vai – tentando parecer o mais calma possível, para não assustar as mulheres que haviam falado com ela – para a sala de Ian.

Quando ela está perto distante o suficiente das senhoras, ela começa a deixar sua raiva dominá-la. Entra na sala de Ian e bate a porta com toda a força do mundo. Assustando o homem e qualquer um que estava por perto.

-- Você ficou louco?! – ela gritava, sem se preocupar com quem estivesse ouvindo.

Ian revirou os olhos ao perceber o que havia acontecido. Ele estava desenhando em um papel quando ela entrou e não se alterou, mesmo com ela gritando. Continuou desenhando sua árvore no papel.

-- Ainda não... – ele disse calmamente, o que deixou Rebecca ainda mais irritada.

-- Meu Deus! Cinco soldados foram enviados a uma missão suicida! Morrer! – ela andava de um lado para o outro, gritando suas palavras – Eles tinham família, filhos, pessoas que se importavam com eles! Que precisavam deles! Você tem um mínimo de consciência?

-- Rebecca, foi necessário...

-- Necessário? Não venha me falar do que é "necessário" para você! Por que, então, não falou comigo? Por que não mandou seus soldados?

Ian se levantou e, pela primeira vez na discussão, olhou no fundo dos olhos castanhos da mulher, ainda que eles estivessem distantes um do outro.

-- Meus soldados não são fortes e treinados como os seus. Rebecca, eu não falei com você porque, embora você seja ótima em acordos e uma guerreira nata, sua humanidade fala mais alto do que sua vontade de vencer guerras. Você não está disposta a matar pessoas, mas é isso que se faz em uma guerra, morre ou mata.

-- Não me venha falar de humanidade! É verdade, ao contrário de você, eu não vejo a vida de meus soldados como uma coisa descartável, talvez por isso eu tenha tanto a confiança deles e talvez por isso todo mundo te odeie! – Ela abriu a porta lentamente – Principalmente eu.

Aquilo inesperadamente mexeu com Ian. Ele esperava qualquer reação dela. Que ela batesse nele, que ela fosse embora, mas dizer que o odiava, isso ele não esperava. Foi então que ele percebeu, ele não queria ser odiado por ela, ele não podia ser odiado por ela. Porque ele precisava dela, não só para vencer zumbis ou coisas assim, para sobreviver.

-- Você me odeia? – ele disse, com os olhos fixos nela.

Sua voz chamou a atenção dela e a mesma olhou para ele.

-- Odeio. Eu odeio. – ela foi firme e convincente ao dizer isso.

Um pequeno silêncio se instalou entre os dois até que Ian decidiu fazer a coisa mais arriscada de sua vida. Ele tinha que fazer isso, porque a sua mente e o seu coração diziam que era para ele fazer isso.

Ele simplesmente correu para Rebecca e deu um beijo demorado em seus lábios. A líder demorou um pouco para assimilar tudo, porém retribuiu o beijo tão intensamente quanto. Ele encaixou sua mão perfeitamente no pescoço dela e ela segurou as mãos firmes dele. Até que o homem foi separando suas bocas lentamente. Rebecca abriu os olhos e se viu muito próxima a quem até então era seu inimigo. Ela não conseguia dizer uma só palavra.

-- Ainda me odeia? – ele disse enquanto eles ainda estavam com os rostos bem próximos.

Ela balançou a cabeça em afirmação.

-- Eu te odeio, porque eu odeio te amar assim.

Ian riu um pouco.

-- Então você tem um jeito muito estranho de odiar.

Ela riu também.

-- Só para deixar claro, eu ainda estou com raiva de você por ter mandado meu pessoal, mas agora eu vou precisar ir atrás deles.

-- De jeito nenhum! – ele impediu rapidamente. – Você não vai naquele lugar de novo!

-- Eu preciso fazer isso. E você não manda em mim. Só porque me beijou tá pensando que pode me dar ordens?

-- Então eu vou com você.

-- De jeito nenhum! – Ela cruzou os braços.

-- Eu não posso mandar, mas você pode, é? – Ele cruzou os braços igualmente.

-- É. Porque se você for lá e se machucar, eu vou ficar devastada!

-- E como acha que eu vou me sentir? – Ian aponta para ele com as duas mãos. – Se você for, eu vou. Nós dois morremos, eu morro primeiro. Pronto.

-- Ian, eu não vim pedir sua permissão, eu vim avisar que estou indo.

Ian ficou com raiva da atitude de Rebecca em não se importar com o que ele sentiria se algo acontecesse com ela. Ele fechou a cara e deu de ombros.

-- Tá bom. Vai. – ele disse, indiferente.

-- Ian. Não fica assim. – ela foi se aproximando, mas ele se afastou. Isso a magoou.

-- Você não quer ir? Vai.

Ela restaurou sua postura e olhou para ele friamente.

-- Adeus.

E saiu, sem esperar um adeus de volta. Pegou algumas de suas armas e foi sozinha buscar aqueles que eram seu povo. Ela precisava ir, ela se sentia responsável por eles e não podia deixa-los morrer sem dar uma tentativa de salvá-los.

SobreviventesWhere stories live. Discover now