CAPÍTULO 16

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Rebecca se dedicava nesses três dias mais do que em um mês no outro clã. Ela trabalhava dia e noite para encontrar uma solução para o problema dos zumbis. Mas tudo o que conseguia encontrar eram mais perguntas.

Ian entrou na sala onde ela estava cheia de mapas e rodeadas de papéis amassados. Ele até se assustou um pouco com a bagunça, pois era muito, muito organizado.

─ Rebecca, se você precisava de uma lata de lixo maior era só pedir. Não precisava ter jogado tanto papel no chão da minha sala.

O líder ironizou para ver se quebrava um pouco da seriedade de Rebecca no momento, mas a morena nem sequer olhou para ele.

─ Agora não, Ian. Preciso me concentrar. Meu povo vai começar a reclamar se passarmos tempo demais aqui. Pelo menos essa união está surtindo efeitos, ficou mais fácil vigiar e organizar todo mundo junto.

Rebecca falou isso tão rápido, que Ian teve que passar suas palavras duas vezes em sua mente para que conseguisse entender com clareza.

─ Nossa, você está mesmo com pressa de ir embora...

Diz ele, pegando alguns papéis com várias anotações de Rebecca e um desenho que ela fez de um mapa que retratava até onde eles foram na primeira expedição.

─ Eu não sabia que você desenhava... ─ ele diz enquanto olha o papel com traços perfeitos.

─ Há muitas coisas que você não sabe sobre mim.

Ian ri um pouco, considerando que aquilo era verdade.

─ Já descobriu alguma coisa?

Rebecca suspira, cansada. Olha para ele com uma expressão de total desânimo e isso por si só responde a pergunta feita.

─ Você quer a resposta animadora ou a resposta verdadeira?

─ Nossa, está tão ruim assim?

Mesmo falando sério, Ian nunca conseguia passar total seriedade. Isso deixava Rebecca em dúvida do que dizer.

─ Pior. ─ ela respira fundo, revezando o olhar em duas folhas ─ A gente não sabe absolutamente nada sobre os zumbis. Como eles morrem, se eles morrem, como eles se transformam, como funciona a mente deles, quantos são, onde habitam... não tem como resolver um problema se não sabemos como ele é.

─ Bom, juntando os dois clãs, sumiram umas vinte pessoas. Se elas não voltaram, provavelmente se transformaram. Considerando que éramos os únicos vivos na terra, deve ser em torno de vinte zumbis.

Rebecca gostou desse raciocínio.

─ É. Isso pode ser verdade, mas ainda assim não temos certeza de nada! ─ Rebecca cobre o rosto com as mãos e finge estar chorando ─ Eu não aguento mais pensar!

Ela fala com voz de choro e Ian revira os olhos.

─ Não seja tão dramática.

Rebecca olha para ele e fica séria.

─ Você não tem mais nada de útil para fazer não?

Ele sorri.

─ Tenho, mas te irritar é tão divertido.

Rebecca revira os olhos. Estava pegando a mania de Ian de fazer isso toda hora. Mas ela teve que admitir para si mesma. Foi engraçado.

─ Mas apesar de que te irritar é legal. Eu vim aqui para avisar que precisaremos fazer outro discurso. Já começaram as especulações de que não estamos nem perto de descobrir como resolver nossos problemas

Ele diz e Rebecca presta bastante atenção.

─ Não são especulações, Ian, é a verdade. O povo sente quando estamos longe de alguma coisa. O povo sente quando estamos no controle da situação ou não.

─ Eu sei disso. Mas o que você sugere? Que caminhemos até lá, subamos no palanque e digamos para eles que não sabemos de nada?

Novamente, ela não sabia se ele estava brincando ou falando sério.

─ Não. Claro que não. Nós estamos em um momento de crise. Em um momento que não temos nenhuma solução. Não estamos no controle. Mas nós vamos subir lá, sorrir e dizer que está tudo bem. Porque é isso que eles querem ouvir.

Ian prestava atenção em cada palavra. Ele nunca havia imaginado que Rebecca tivesse tanto controle em situações desesperadoras como essa. Talvez ele a tivesse julgado mal, mas se reconfortava ao pensar que ela também deve tê-lo julgado mal.

─ Em tempos como esse ─ ela continua ─ as pessoas não querem ouvir a verdade, as pessoas querem ouvir coisas que as tragam esperança. Porque só assim elas continuam unidas e lutando por um mesmo propósito. A sociedade está viva até hoje, porque nossos líderes sabiam dizer palavras bonitas. E faziam o possível para que essas palavras se tornassem realidade.

─ Eu não sabia que você falava tão bem.

Ian praticamente aplaude ela.

─ Eu já disse, há muitas coisas que você não sabe sobre mim.

Rebecca dá um sorriso irônico e Ian capta a ironia.

─ Talvez eu tenha te julgado mal.

─ Tudo bem. Talvez eu tenha te julgado mal também. Mas fazer o quê? Nossos povos têm esse mal.

Os dois permaneceram em silêncio por um tempo, talvez eles nem tenham percebido que estavam estáticos, sem dizer nada.

─ An... eu tenho que voltar a mapear coisas.

Rebecca diz, balançando uma folha no ar enquanto movimentava suas mãos para ilustrar que iria ter que trabalhar.

─ E eu preciso escrever discursos.

Os dois se despedem um leve aceno e Ian sai da sala.

Rebecca bufa e vai desenhar mapas mais detalhados.

SobreviventesWhere stories live. Discover now