CAPÍTULO 26

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-- Senhorita Andrade, se for para falar novamente sobre como eu não deveria me aproximar de Rebecca, eu quero dizer que nós trabalhamos juntos e ela... – Ian começa a dizer, mas logo é interrompido pela voz rouca da senhora a sua frente.

-- Não, senhor Müller, não é da minha conta o que você e senhorita Walker fazem em seu tempo livre. – Ela balançou a cabeça em negação. – Estou aqui para falar de nossa ameaça. Como sua vice, você sabe que eu sou alguém que precisa estar a par de tudo o que acontece e de tudo o que você sabe.

Ian revirou os olhos. Era o mínimo que ele poderia fazer. Aquela mulher era o seu pesadelo. Ela queria tomar seu lugar no clã desde que ele era uma criança e haviam até boatos de que ela envenenou o pai de Ian e isso foi o que ceifou sua vida, embora uma grande parte de Ian ficasse muito agradecida por isso, a outra tinha raiva da ambição daquela mulher. Ela era como uma sombra para Ian, sempre se metendo onde não deveria.

-- A senhora já sabe de tudo. Eu querendo ou não. – ele deu um sorriso bem forçado a ela. – Agora se me dá licença...

Ian ia caminhando até a porta para deixar o local quando a voz rouca da mulher falou algo que chamou sua atenção:

-- Pare de se enganar, Ian! – ela disse firme.

Ian parou na porta. Ficou paralisado por alguns segundos. Em seguida, fechou a porta e se virou para ela.

-- O que quer dizer com isso?

-- Você sabe. – A mulher cruzou os braços – Ian, você tem soldados agora. Que também são seus inimigos e merecem ser aniquilados.

-- Está sugerindo que eu os envie para lá descobrir mais sobre os zumbis, não está?

A mulher sorriu ao ver que Ian havia lido a mente dela tão rapidamente.

-- Na guerra, é preciso fazer coisas das quais você sabe que vai se arrepender, mas que você também sabe que são necessárias.

-- Eu não posso fazer isso, é uma missão suicida! Rebecca jamais me perdoaria!

-- Dane-se a Rebecca! Dane-se esse povo! Por que você se importa com o perdão dela? – Ian respondeu com o silêncio, porque nem mesmo ele sabia porque Rebecca era uma peça importante na mente dele e não poderia ser machucada dessa forma. Ou por que ele se preocupou tanto com ela quando ela estava chorando ou quase chorando enquanto caia em seus braços. – Ian Müller do clã do Norte. Você sabe o que tem que fazer. Faça. Pela sua esposa morta, pela sua filha viva, pelo seu povo. Faça.

Ian permaneceu sério enquanto a mulher falava isso tudo. Ela o havia convencido ao tocar no nome de sua esposa, afinal, foi o clã de Rebecca que fez aquilo e ele jamais os perdoaria, mas uma parte dele ainda queria recuar. Queria dizer que não era necessário ou possível mandar aquelas pessoas para uma missão que ele sabia que não retornariam, mas também seria uma vantagem contra os zumbis. Os soldados de Rebecca eram fortes, muito bem treinados, talvez eles até conseguissem ir e voltar inteiros. Depois do que aconteceu com Luna eles finalmente descobriram como os zumbis se reproduzem e isso já fez muita coisa valer a pena, imagine se eles fossem até o covil dos mesmos e descobrir mais ainda! Poderia significar a paz de volta!

Ele sabia que precisava fazer isso e foi o que ele fez. Juntou alguns dos melhores soldados de Rebecca – os mais descartáveis, também, para que não fosse uma perda tão irreparável – e os disse que ela e ele haviam conversado e decidiram que essa missão era muito necessária. Claro, Ian não poderia fazer isso sem mentir, os soldados não eram leais a ele, mas deviam suas vidas a ela. Os mesmos foram sem reclamar. Levaram câmeras pequenas instaladas em capacetes e as imagens das mesmas eram transmitidas a um computador na sala de Ian. Ele finalmente iria ver tudo o que acontecia. Ian poderia estar feliz com aquela conquista, ele deveria estar, mas só conseguia pensar em como Rebecca ficaria se descobrisse.

Ele não sabia porque não conseguia parar de se perguntar se ela seria capaz de perdoá-lo, se ela ficaria muito irreversivelmente arrasada. O homem conseguia afastar esses pensamentos algumas vezes, mas passava a maior parte do tempo se perguntando se a coisa iria ficar ruim ou no final iria dar tudo certo. Só restava esperar para ver.

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