CAPÍTULO 23

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Eloise nunca havia corrido tão desesperada em toda a sua vida. Ela também não sabia porque estava tão empolgada. Mas o seu interior entendia, ela nunca havia se sentido uma adolescente que fofocava com amigas. Ela sempre foi a guerreira imparável de seu clã e pela primeira vez era só... A Eloise.

-- Meredith! Você não sabe o que aconteceu! – a garota chegou ofegante no quarto onde a loira estava.

-- O que foi, mulher?! Não me mata desse jeito não! – Meredith começou a sentir seu coração acelerar tanto quanto o de Eloise.

-- Luke. Luna. Beijo. Plano. Acabou – Eloise não conseguia repor seu ar, sentia que ia desmaiar.

-- Aqui. – Meredith pegou o copo de água que deixava na sua escrivaninha. – Bebe um pouco e se acalma. Me explica melhor.

Eloise bebeu aquela água como se fosse a melhor bebida do mundo. Respirou fundo e finalmente conseguiu sentir seus pulmões funcionarem novamente.

-- Luke se declarou para Luna e ela o beijou. Ela também gosta deles. O plano falhou e agora eles estão juntos.

Meredith deu um sorriso, pegou uma almofada na sua cama e abafou o grito que deu logo em seguida.

Eloise gargalhou da reação inesperada da garota.

-- Meu Deus!

-- Como você pode rir de algo disso?! – Meredith parecia indignada – Acabou! Eles estão juntos!

-- E por que você se importa? – Eloise perguntou mais como uma provocação. Ela sabia a verdade.

-- Porque ela não é boa o suficiente para ele! Não é! – Meredtih queria gritar isso, mas se ela o fizesse, todos ouviriam e provavelmente Luke também. – Isso você deveria saber! Afinal, você e ele são amigos desde que se entenderam por gente.

-- Meredith, você está falando rápido demais! Eu não sou tão fluente na sua língua! – a sulista rapidamente agarrou os braços da nortista e a forçou a olhar em seus olhos. – Se acalma.

Eloise falou isso com firmeza enquanto encarava profundamente os olhos azuis de Meredith. A seriedade em sua voz foi tão grande que Meredith obedeceu sem pestanejar.

Quando a morena percebeu que Meredith iria obedecer, a soltou e a garota voltou a andar de um lado para o outro, porém seu tom de voz se estabilizou.

-- Sempre me perguntei por que, no final, a língua universal se tornou o português, sendo que ela sempre foi o inglês. – Meredith riu com o sarcasmo da situação – Parece que o jogo virou, não é mesmo.

A loira se virou para a outra com um sorriso brincalhão.

-- É. Virou. Agora você está me assustando com essa mudança de humor.

-- Ora, ora. – a cientista cruzou os braços de forma sarcástica – Eloise do Sul pode ser assustada.

-- Todos podemos, apenas algumas pessoas têm mais facilidade. – disse a outra e deu de ombros, ignorando a brincadeira.

As duas se olhavam, imaginando o quanto se odiavam e agora estavam conseguindo se comunicar sem sair nos tapas. Até que uma pessoa entrou correndo no quarto de Meredith.

-- Vocês não ouviram o alarme de emergência? Algo sério vai ser discutido agora no salão principal!

Ao ouvir isso, não puderam evitar a expressão de total preocupação. Se entreolharam e depois correram para fora do quarto.

O barulho da sirene era tão alto que elas não entendiam como não ouviram de dentro do quarto.

Estava um caos lá fora. Pessoas correndo para todos os lados, um tumulto sem fim. Talvez porque alguns eram novos por lá e não entendiam o que aquela sirene significava, mas algumas pessoas os estavam guiando aos poucos. Naquele pequeno instante, percebeu-se que a rivalidade entre os clãs estava se tornando um tanto insignificante para algumas pessoas.

Eloise e Meredith correram para o salão principal. Onde Ian e Rebecca estavam esperando no palanque. As meninas encontraram Luke e Luna no meio da multidão e foram até eles. Meredith ficou um tanto desconfortável e Eloise tentou se meter no meio de Luke e ela para que eles não ficassem tão próximos, evitando algum constrangimento. Luke agarrava Luna pelo ombro. Era tão estranho que eles já estivessem tão próximos em tão pouco tempo. Mas era assim que as coisas funcionavam no clã do Sul. Amor era um tanto irrelevante. As pessoas sentiam atração uma pela outra e já imaginavam que estavam apaixonados. Talvez esse fosse o caso de Luke e Luna. Talvez eles só se gostassem com uma amizade profunda e acabaram confundindo isso com amor. Não importava, no final, algo parecido com amor surgiria entre os dois e isso faria com que eles ficassem juntos para sempre.

-- Atenção, por favor. – A voz de Ian ampliada pelo microfone chamou a atenção de todos. – Temos um pequeno problema não previsto e precisamos da ajuda de vocês. As rações acabaram. Estamos sem comida. – Um ruído forte de várias pessoas reclamando ao mesmo tempo dominou o local, até que a voz de Ian chamou a atenção novamente. – Isso aconteceu por causa do aumento populacional imprevisto. Estávamos ocupados com os zumbis e esquecemos da comida não proporcional ao número de pessoas. Precisamos de voluntários para ir buscar mais no meio da floresta. Eu sei que é perigoso e muitos estão com medo, mas morrer de fome é pior.

Luna foi a primeira a levantar a mão, Luke a viu e levantou também por medo de deixa-la ir sozinha, Meredith levantou por causa de Luke e Eloise levantou porque não ia ficar de fora.

Ian revirou os olhos ao ver a mão de sua filha levantada. Mas, como da primeira vez, ele não ia conseguir impedi-la.

-- Só eles? Sério?

O silêncio respondeu por si só. Ian concordou.

"Esses retardados querem deixar quatro adolescentes irem buscar a comida deles. Tudo bem. Se houver escassez de comida, eu não vou dividir", foi o que Ian pensou enquanto deixava o local.

A reunião estava encerrada e todo aquele alarde foi só para isso.

Rebecca foi no microfone rapidamente.

-- Vocês quatro. Na sala do Ian agora.

Ela percebeu que havia chamado Ian de uma maneira muito informal, mas não se importou.

SobreviventesWhere stories live. Discover now