(2)

264 31 289
                                    

"Eu estava a cada segundo que ficava perto dele, mais perto do inferno"

•••••

Eu ainda não conseguia pensar em o que fazer. Saímos da igreja. Padre Raphael e seu pupilo Michael Clifford, do qual eu matava para saber o que passava por detrás daquelas esmeraldas que ele chamava de olhos, disseram que precisavam ir de encontro com as senhoras que cuidam de ajudar a igreja com questões de caridade. Michael disse adeus com um sorriso do qual um leve brilho obscuro resplandecia de seus lábios vermelhos. Céus, isso é tão errado. Provavelmente pode ser coisa da minha cabeça.

Durante o resto do dia, fui andando pela cidade com meu pai, que falava somente sobre negócios e em como achou que Michael aparentava novo demais para ser logo ordenado padre, e em como era triste para um homem tão rico quanto Daryl Clifford não haver nenhum herdeiro para sua fortuna, já que seu único filho decidiu seguir o celibato. As suas palavras se perdiam em minha mente que estava cheia de coisas. Não quero encontrar essa tal garota, não quero jantar nenhum, não quero ser a cópia de Andrew Hemmings, não quero nada disso. Tudo me sufocava, mas não podia lutar contra a corrente. Isso significaria que perderia a proximidade com minha família, teria uma situação desastrosa em casa e nem posso pensar na ideia de meu pai ter chegado a perceber que durante todo o tempo em que se deu depois que Padre Raphael apareceu com o diácono, meus olhos não deixaram de pousar nele. Deus, eu estou tão ferrado!

Andamos apressados, pois meu pai tinha negócios importantes para lidar com alguém que eu nem me dei o trabalho de saber quem era. Meus pés estavam cansados, não sabia porque a mania de meu pai insistir em andar quando podia se locomover de qualquer outra forma que não cansasse as pernas. Estava exausto. Passamos em frente ao Orfanato Saint Mary e lá fora vi Ashton Irwin. Ele era um grande amigo, porém ele cresceu junto com Michael Clifford. E desde a notícia de seu celibato, Ashton não saiu de perto do amigo e vivia sempre onde o melhor amigo estava. O que mais ironicamente sempre era onde Calum também estava. Coincidências demais para meu gosto.

Achei a oportunidade perfeita. Disse a meu pai que iria cumprimentar Ashton e convidá-lo para o tal jantar e que logo o veria no gabinete de quem quer que ele fosse ver. Contrariado, meu pai concordou e eu fui em direção ao rapaz. Respirei aliviado por não ter mais a sombra de Andrew me forçando a andar de um lado para o outro para aprender os ofícios da tal profissão que ele tinha do qual não me interessava nada.

- Luke! - Ashton dizia claramente animado por me ver. Acho que ajudar com o orfanato não seja tão animado assim. - A que devo sua vinda até aqui? - Antes que eu pudesse dizer algo, ele viu Andrew finalmente sumindo do campo de vista. - Vejo que o Sr. Hemmings continua devotando todas as fichas que algum dia você aceite tomar seu lugar.

- Pois é. - Digo sem nenhum ânimo. - Acho que o fato de dois dos três filhos dele terem ido embora para viverem uma vida em outro continente e voltando para visitar ocasionalmente, simplesmente para fugir de tudo isso aqui, - Faço sinal sobre tudo a nossa volta e levanto uma papelada que estava na minha mão. - causou um grande baque nele. Quero dizer, ele acha que eu posso ser quem vai ser aquele que vai substituí-lo.

- Acho que devia dizer a verdade a ele. - Ashton respirava fundo.- Olhe, não é o que você quer, seja sincero. Você já está no lucro de ter nascido homem, por ainda ter certas liberdades que mulheres infelizmente não têm. Use a seu favor.

Eu ia dizer algo quando um barulho alcançou minha audição. Não era a primeira vez que vinha ao orfanato, conheço cada sorriso e cada voz de cada criança e pessoas daqui. Esse som é novo.

- Michael está aqui. - Ashton claramente percebeu minha repentina reação. - Ele gosta muito de crianças, sabe. E depois, ele não se sente a vontade em lugar nenhum além daqui.

Sinner // MukeWhere stories live. Discover now