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“E se isso for errado, então mantenha-me no erro.”

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Sempre me perguntei se algum dia poderia acordar sorrindo e com convicção de que era algo bom, real, e que não houvesse sido um sonho.

Bom, digamos que em partes, esse dia aconteceu.

Minha semana havia sido amena, mesmo com todas as coisas do trabalho e de reuniões com os homens dos quais eu pretendia nunca mais olhar nos rostos em minha vida. Claro, meu pai achava que era mais do que necessário eu conhecer aqueles com quem, segundo ele, eu iria lidar assim que o acordo de casamento fosse feito e metade das posses de Ellie passasse. Para meus cuidados. Obviamente com toda a orientação de Andrew, o que significaria que eu não teria controle nem mesmo de minhas posses e muito menos do que havia sido — injustamente — me entregue.

Além do dinheiro que ele ganharia por me forçar a casar, meu pai também ganharia por ser um tutor e orientador, já que mesmo sendo treinado minha vida inteira para cuidar de finanças e de gerenciamento de negócios, ao seu ver, eu não estou preparado ainda e precisaria de alguém mais capacitado para tal ato. Como se eu fosse um completo inválido.

Minha mãe mantinha-se firme e trabalhando arduamente na organização do casamento. Para ela, o mais importante — mesmo segundo a tradição, ser uma função da família da noiva a festa e organização do casamento —, era que ela cuidasse de tudo e que estivesse perfeito para o meu tão grande dia. As vezes acho que me tratam mais como a noiva do que o noivo desse casamento.

Com certeza seria um grande dia. Um grande dia para me matar ou fugir correndo dessa loucura.

Quase todos os dias a via mandando os empregados buscarem informações com as costureiras, e até mesmo com pessoas de fora do vilarejo, para se certificar de que tudo estaria mais do que pronto paga daqui algumas semanas.

A verdade é que os dias estavam se passando muito rápido e a cada um que passava, menos vontade eu tinha de manter essa farsa.

Ellie me mandou uma carta, claramente escondida, já que mesmo sendo seu noivo ao ver de todos era mais do que inapropriado, uma vez que mulheres não podiam mandar cartas por já serem vistas com maus olhos por todos. Naquela folha rabiscada com sua letra delicada, estava dito todas as coisas rudes e raivosas que inundavam seu coração. Ela me narrou como estava sendo cada vez mais difícil se encontrar com Christopher, seu amante. E eu a entendo bem.

Depois de nosso encontro na cabine de confissão da igreja, Michael e eu nós vimos pouco, mas eram sempre momentos de qualidade, onde ele me perguntava como me sentia e sempre me ouvia, assim como eu também fazia quando, em algum momento, ele estava frustrado.

O único problema era que o tempo era sempre relativamente curto. Geralmente minutos antes ou depois da missa da manhã ou da noite, alguns momentos em que saíamos com Calum e Ashton, onde eles se afastavam para discutir por coisas bobas, ou, quando  simplesmente Michael decidia jogar pedrinhas na minha janela tarde da noite para que eu a abrisse e saísse de lá para conversarmos durante a madrugada no pomar.

Ainda sim, eram momentos preciosos.

Em uma dessas noites, olhando as estrelas, ele me perguntou se eu acreditava em estar no caminho certo da minha vida.

— Eu nunca tenho certeza de nada, na verdade eu só tenho certeza que tenho medo, mas eu espero que esteja. — Foi o que lhe respondi.

A lua crescente banhava o seu corpo com um tom prata e deixava-o com um ar inumano. Era quase como se tudo fosse um delírio e ele apenas fosse um sonho.

Sinner // MukeOnde histórias criam vida. Descubra agora