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“O único pecado do qual me arrependo é o de ser covarde e ter mentido, mentido para mim mesmo”

Ele tocou meus lábios.

Ele me tocou e disse que queria ficar.

Ele sente a mesma coisa. A mesma coisa que eu sinto.

Algo dentro de mim claramente não estava bem, mas ao mesmo tempo, estava. Sentia o corpo tremer e o sorriso em meus lábios não cessar. Sabia que aquela noite não seria como as outras, pois se antes o desejava em segredo e com medo, hoje sei que ele também me deseja e que não é mais um segredo.

Sentia que o sorriso não cabia em meu rosto. Era inacreditável o que vivia; parecia que antes estivera no escuro por tanto tempo, e agora algo faz com que o gélido do meu interior de derretesse tal como cera de uma vela. Minha noite foi passada com um sorriso tão grande e brilhoso vindo de minha parte, até mesmo a minha ama chegou a me perguntar o que havia acontecido.

Nem mesmo as obrigações impostas por meu pai fizeram mudar o fato de meu estômago embrulhar em uma sensação nova e tão boa para mim. Eu estava mais do que feliz.

A sensação de desejar alguém e ser recíproco pela outra parte é tão nova e indescritível... Simplesmente não consigo pensar em nada além disso.

Meu momento de sono foi gasto com momentos dos quais eu não conseguia fechar os olhos, repassando cada palavra, cada sensação que passou pelo meu corpo e foi processada pelo meu inconsciente. Cada detalhe do rosto daquele do qual foi criado em proporções iguais de céu e inferno, de Deus e Diabo, exatamente para minha insanidade.

Ellie estava certa, afinal. Mas em minha defesa, não havia como simplesmente eu ter adivinhando que o Sr Clifford diria aquelas coisas. Definitivamente era um risco do qual eu não poderia correr. Sabia que poderia ter chances? Talvez, lá no fundo, eu soubesse que sim, mas ainda não mudava o fato de ainda não ser e nunca será bem visto em nosso mundo o que fizemos, o que eu quero ter com o Sr Clifford. É uma situação triste, mas infelizmente, as coisas não são simples; poderia muito bem ele ter me renegado e contado a minha família, o que sujaria a minha imagem e a de meus pais. E tristemente, eu me importo mais do que suficiente para me manter controlado e me segurar do que quer que esteja acontecendo.

Durante a manhã, depois de pensar bastante a respeito do ocorrido, percebi que talvez as coisas não fossem tão belas como queria que fossem. Quero dizer, verdade que desejo intensamente o diácono da paróquia como jamais desejei alguma coisa e ele claramente mostrou o seu interesse por mim, mas como poderíamos nos relacionar, se não poderíamos nem mesmo dizer as pessoas próximas? Como viveríamos mentindo sobre o que sentimos e o que somos, se tudo o que eu menos quero é mentir sobre o que acontece? Sei que teria que haver muita coragem de minha parte, já que ainda me sinto novo em todos esses quesitos, mas é o que eu gostaria.

Levantei-me da cama pensando em como tudo é tão bom, mas a invejosa da realidade vem e destrói toda a felicidade daqueles que sonham. Era tão injusto, tão cruel, mas era a verdade. Michael Clifford me deseja e gosta de mim como eu pensei que nunca seria recíproco vindo de sua parte, mas infelizmente, não podemos viver algo do qual não é seguro para nenhum de nós.

E depois, como poderia me relacionar com alguém se a menção de estar com algum ser humano de forma mais íntima me deixa apavorado?  Como poderia estar com o Sr Clifford se mesmo gostando muito do momento compartilhado anteriormente, ainda não sei como lidar com minha recém descoberta sobre ser gay e meu pai ainda se mantém implacável em relação ao casamento? Como posso ser egoísta sobre mim mesmo, quando a imagem da minha família pode ser manchada q partir de minha escolha?

Sinner // MukeWhere stories live. Discover now