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“Não há como consertar o que está quebrado, mas podemos remendar e viver com as cicatrizes.”

“Diga que eu não deveria estar aqui, mas não posso desistir do toque dele.
É ele quem eu amo, é ele.
Não tente me dizer que Deus não se importa conosco.
É ele quem eu amo, é ele que amo.
[...]
Santo pai
Julgue meus pecados
Eu não tenho medo do que eles vão trazer.
Eu não sou o menino que você pensou que queria.
Eu o amo.

(Sam Smith - Him)

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Os dias passavam tão lentos quanto uma brisa preguiçosa no início de uma noite de verão. Talvez ao meu ver, tenha demorado mais por conta de meu estado atual. Não haviam mais machucados expostos, mas sim alguns hematomas escuros, e, ainda sentia em certos horários do dia, dor de cabeça vez ou outra.

As últimas semanas foram simplesmente um pesadelo.

Depois do que aconteceu onde meu pai descobriu a respeito de Michael e aconteceu toda aquela situação, fui instruído a me resguardar. Lê-se fui obrigado a não aparecer em público com a minha cara destruída por conta da surra que levei para não causar fofoca pelo vilarejo e manchar a imagem da família. Se eu já não me chocasse mais com o que vinha dos meus pais, com toda certeza estaria mais do que magoado.

Não que não exista mágoa em meu coração — ainda existe muita decepção e dor para ser superada —, mas às vezes, entendemos que algumas pessoas simplesmente não mudarão ou que simplesmente elas sempre foram dessa forma, mas que não os víamos assim. E antes, eu não queria aceitar que meus pais eram como são.

Sim, ainda dói muito pensar que meu próprio pai me bateu por simplesmente eu ser quem sou, por eu não ser como ele me programou para ser. A dor mental e sentimental sobressaem a física nesse quesito. Nada te prepara ou pode te consolar em ver que nunca será aceito por ser quem é de verdade por pessoas que ama, não há pedaços de carne, ligamentos nervosos e ossos no corpo que doam equivalente a essa dor. O vazio uma vez dentro de você, dificilmente sai.

Os últimos dias foram gastos com sessões diárias de trabalhos e mais trabalhos impostos por meu pai enquanto ainda não estava apresentável ao seu ver para sair do casarão. Eram manhãs e tardes monótonas demais gastas com coisas importante de menos. Nos primeiros dias, Ellie sempre fazia questão de aparecer escondido e me fazer companhia. Provavelmente era algo como para ter certeza de que estava tudo bem. Na primeira vez que ela me vira — Michael estava me abraçando e eu estava no meu estado mais frágil —, nunca a havia visto tão irritada e triste.

Acho que no fundo ela sempre soube o que havia ocorrido no momento de sua partida naquela tarde, mas ver com os próprios olhos era a realização de uma coisa. Muito diferente de somente deduzir. Ainda lembro que ela abraçou a mim e a Michael já que ele nem mesmo se moveu para se afastar de mim. Depois daquele dia, ela tentava sempre que podia — escondida, para não ser mal vista pelos criados e pela sua família —, me fazer companhia e me fazer me sentir menos miserável.

Calum e Ashton também vieram me ver. Meus pais inicialmente não queriam, pois eles se preocupavam muito de algum deles acabar falando para todo o vilarejo que a verdade por trás do sumiço do filho dos Hemmings não era uma intoxicação alimentar que acabou piorando, mas sim porque eu parecia ter sido atropelado por uma tropa de cavalos. Porém, depois de uma educada conversa — Lê-se um intimato e ameaças — de Calum com meu pai, eles foram autorizados me visitarem. Nunca duvidei do poder de assustar as pessoas do meu amigo.

Sinner // MukeOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz