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“Eu devia ter coragem, eu devia lutar contra isso. Eu devia tomar uma posição.”

Os dias se passaram mais rápido do que eu pensei que passariam, pois eu pensava que seriam todos passados comigo tendo que cortejar a minha suposta noiva — do qual descobri que assim como eu, odeia a ideia de podermos nos casar —, e, que por acaso, já mantém um relacionamento escondido. Porém, passamos os dias conversando e rindo. No fim, creio que consegui uma amiga e ela conseguiu um amigo.

E isso era muito bom.

Na verdade era ótimo, pois se não nos déssemos bem, provavelmente estaríamos os dois entediados e eu tendo que ficar entre os homens de negócio, os ouvindo falar elogio mas que  todos sabem que no fundo, estão desejando a cabeça do outro.

Ellie ter se tornado minha amiga foi um grande golpe de sorte.

Foram dias calmos, exceto pelos momentos em que tivemos de fingir que tínhamos interesse um no outro, ou que pelo menos não repudiavamos cem por cento a situação. Quando digo nós, refiro a mim, pois Ellie em nenhum momento esconde seu ódio por esse acordo e essa situação. Já eu, tento ser o mais racional possível.

É errado, já que eu sou tão contra esse casamento quanto ela, porém, dizer isso abriria brecha para coisas e assuntos dos quais ainda não estou pronto para que aconteçam em casa. Não sei como reagir e não sei como seria a reação de meus pais — principalmente Dona Liz —, só ouvir tudo o que realmente tenho a falar. O que ela sentirá assim que meu pai começar a por o nome de meus amigos no meio e ele citar Michael?

Céus, como Michael me verá se descobrir uma coisa dessas?

Um segredo tão pesado...

Como eu vou olhar para todos se meu pai sonhar que eu sinto todas essas coisas quando vejo o diácono, ou se alguém do prostíbulo lhe contar que eu nem mesmo ligo pra as garotas dali, nem mesmo a minha moça fixa?

Não estou nada pronto para levar essas coisas a tona. Principalmente porque coisas ruins nunca vão só; assuntos sérios nunca se conversam um de cada vez, sempre são todos que emergem de uma vez e se derramam sobre todos.

Durante esses dias, me pus a pensar se devia contar para outra pessoa além de Ashton o fato de eu talvez... De eu... De eu, bom... De eu ser gay.

É estranho demais me ver admitir isso, pois eu não consigo aceitar. Eu tento, penso, mas não consigo me ver falando que sou gay. Eu posso não ser, certo? Pode ser como falam, pode ser somente uma fase, pessoas sentem coisas estranhas na adolescência, minha mãe me disse uma vez. Pode ser isso.

Não seja ridículo, você sabe muito bem o que sente quando aquele demônio vestido de batina aparece. Mesmo que Michael não seja um demônio, só um anjo disfarçado.

— Luke? — A voz de Ellie me chama em meio ao silêncio do jardim do casarão. — Você parece que está passando mal, ou ao ponto de sofrer um infarto a qualquer momento. Está tudo bem?

Minha mente trabalhava fortemente em saber o que estava acontecendo e o que ela poderia estar tentando me falar, porém, eu só pensava em como estava ferrado.

— Uh... — Tentava organizar meus pensamentos e dizer algo que fizesse sentido. — Só estava pensando. Tenho muito trabalho para passar a limpo e meu pai provavelmente logo os procurará.

Ela me olhou com seus olhos amendoados claramente jogando na minha cara que não acreditava em nenhuma palavra.

— Você não me engana. — Apontou. — Está pensando no Michael, e não venha me dizer que não.

Sinner // MukeOù les histoires vivent. Découvrez maintenant