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“E se eu queimar no inferno por tentar correr atrás do que eu acredito ser certo, então eu queimarei feliz e agarrado a certeza que uma vez na vida, eu fiz algo que valeu a pena.”

Talvez, eu simplesmente deva tomar uma atitude.

Talvez, eu deva pensar direito em tudo que se passa na minha cabeça. Provavelmente é demais para associar, para ambos associarem, mas não posso somente deixar tudo por acaso. Não posso não pensar nas enormes chances de erro; nos dois lados de uma situação que é tão perigosa e é tão errada, mas que parece tão certo. Eu já estava na mesma a tempo demais e tudo que eu sei é que em algum momento, ficarei louco de vez.

— Você está desde a semana passada assim, meio aéreo. — Uma voz me tira do meio dos devaneios de minha mente. — Se eu não me engano, está assim desde que o você sabe quem teve que...

— Já entendi o que quer dizer, não tem que me lembrar todos os dias desse fato desagradável. — Aquilo parecia alimentar mais as ideias de Ashton, pois depois que disse isso, ele riu mais.

— Como Luke não vê que você é grosso e mal educado? Deveria ser mais gentil, pelo menos comigo. Eu sou seu melhor amigo, padre.

Revirei os olhos.

— Ash, não teste minha paciência. Primeiro, eu ainda sou um diácono e você sabe muito bem disso, e segundo, só porque estamos na igreja não significa que não posso te bater.

— Acalme-se Mike, estamos aqui porque estamos preocupados com você. — Calum se levanta do banco em que estava sentado ao lado de Ashton. — Já tem mais de uma semana que nem te vemos direito a não ser nas missas, ou quando tem que fazer algo da igreja. Você só vai ao orfanato e depois volta ao seu quarto na casa paroquial e ninguém te tira de lá. Estamos receosos com isso.

Seria mais fácil, obviamente, se não tivesse a mente me torturando dia após dia incessantemente com os mesmos pensamentos, com todas as chances e possibilidades a favor e contra ao que eu tentei negar por tempo demais.

Eu realmente achava que suportar Ashton era difícil, porém, Aguentar Ashton e Calum é duas vezes pior.

Como ele começou a andar conosco? Bom, na semana que voltei do seminário e que vim ficar na paróquia para me acostumar com a comunidade da qual vou cuidar assim que ocorrer a ordenação, Calum primeiramente não acreditava que era eu, o mesmo menino que cresceu brigando e discutindo com ele, mas quando ele viu que eu era o mesmo rapaz e ainda me tornaria padre — o que fielmente jurava que eu não seria —, ficou chocado e depois de um tempo, nos tornamos amigos.

Ele fala o tempo todo de como seu melhor amigo Luke —do qual particularmente tenho um carinho especial do qual não me orgulho de ter—, e de sua infeliz vida e obrigações, já que seu pai é ganancioso e egoísta demais para notar que o filho caçula não se sente feliz assim e que a cada segundo do qual obriga o pobre rapaz, é mais um segundo em que ele não só perde mais o próprio filho, como o próprio Luke se perde e se sente inferior e menos suficiente de ser quem ele é.

O que é triste e trágico. Pelo pouco do qual conheci Luke, sabia que ele era singular e especial de uma forma diferente de todos que já conheci.

Não digo somente por aparência —pois nesse quesito Luke provavelmente supera qualquer ser humano conhecido por mim em minha curta vida —, mas como pessoa, em conteúdo, em caráter.

Era evidente que o rapaz não se sentia confortável em estar naquela situação, igualmente como também é evidente que ele não se sente corajoso suficiente para enfrentar o pai. Calum e Ashton me contaram sobre ele muitas vezes, o que me deixou mais triste ainda. Saber de tudo que ele se submeteu para viver uma vida parcialmente mais tranquila. O que sabemos que não é. Luke merecia muito mais do que lhe era dado pela sua família, e era um fato, mas acima de tudo, ele tinha que ver isso.

Sinner // MukeOnde histórias criam vida. Descubra agora