Sinner // Muke

(17)

“Queria poder viver, e viver com ele era mais do que meu maior privilégio”

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Eu nunca pensei que estaria nesse momento, deitado ao lado de alguém que eu realmente me importava e que se preocupava comigo. Nunca pensei que estaria ao lado de alguém como Michael. Nem mesmo nos meus sonhos, eu pensei que estaria deitado ao seu lado como um homem livre que não iria de casar e ele alguém que não seria um padre. Tudo aquilo era demais para mim. O sentimento inundava meu peito. Eu estava tão feliz que estava a segundos de explodir.

Depois de chegar lá, eu ainda não tinha ficado sozinho com Michael. Calum e Ashton fizeram companhia até uma parte da noite e foi algo bom. Estávamos rindo, tomando licor e comendo algo que Calum trouxera de casa, não lembro bem o que era, já que estava mais focado em como estava feliz. Finalmente poderia ser eu mesmo e isso era algo novo, diferente e bom. Muito bom. Michael sempre mantinha seu olhar em mim. Algo caloroso e gentil. Nossas mãos unidas enquanto ouvíamos Calum e Ashton discutindo sobre coisas que eu não sabia exatamente o que era, mas achava engraçado.

Quando ficou mais tarde, Michael me trouxe chá e puxou meu corpo para que dividissemos a poltrona, em frente a lareira que crepitava. Nossos amigos haviam ido embora e com eles, os gritos e o barulho também. Estávamos só nós dois, olhando para o fogo que consumia a madeira, gerando calor para o cômodo em que estávamos. Ele passava o polegar pelas minhas costas e eu estava recostado contra seu peito, a sensação de finalmente poder ficar sem temer voltar para casa para não perder o horário era maravilhosa. A ideia de não ter de preocupar que soubessem e me castigassem era melhor ainda. Me sentia levitando.

— Sinto que vou explodir de felicidade. — Disse baixo contra o seu peito. — Me sinto tão bem. Tão livre.

— E você é. — Michael respondeu. — Você pode fazer tudo o que quiser, meu anjo. Hoje a noite você foi incrível. Eu me sinto orgulhoso por você e pelo o que você se tornou.

A sensação que eu sentia cresceu e espalhou do meu peito para toda a minha corrente sanguínea. Podia sentir fagulhas de felicidade por todo o meu corpo e aquilo era quente, caloroso e gentil.

Depois de ficarmos aproveitando a companhia do outro por um bom tempo, fui guiado para o quarto de Michael que também era o meu quarto (ainda estava tentando lidar com essa informação) e então ele me ajudou com algumas das minhas coisas. Ainda não conversamos sobre o que faremos daqui para frente, mas sabia que a estadia ali seria provisória. Até onde eu sei, a qualquer momento alguém pode vir e Michael sofrer as consequências da denúncia do meu pai. Eu não queria pensar a respeito, não queria me preocupar antes do tempo, mas sabia que tínhamos o tempo curto e contado. Sabia que se tivéssemos de fugir, tínhamos de ser breves.

— Sabe, às vezes, quando ficava aqui sozinho — Michael diz antes de eu poder pensar em formas de como poderiam o levar de mim. Seu rosto estava metade coberto por sombras e a outra parte pela luz da vela. — eu gostava de pensar em todas as coisas ruins que me aconteceram e porque eu sobrevivi a elas. Sabe, ao meu pai, meu tutor, minha mãe que não me amou, ao... Ao abuso. Acho que quando você passa muito tempo sozinho, sua mente gosta de voltar a assuntos do qual você não quer lembrar. Mas a questão é: às vezes, em situações de desespero, ou qualquer coisa, eu gostava de lembrar isso. Lembrar que eu pude sobreviver. Que... Que alguma coisa está esperando por mim, entende? Acho que isso me dava esperança.

Eu não sabia exatamente como responder, porque primeiro, nem era uma pergunta, segundo, eu não sei exatamente como lidar com pessoas abrindo o coração para mim e terceiro, eu não quero dizer a coisa errada e magoar Michael porque eu não sei lidar com momentos assim. Então eu assenti, não sei se ele viu, mas ele tomou meu rosto com a mão.