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“Eu não quero mais temer nada, quero a luz."

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Às vezes, não sabemos qual direção seguir nossa vida.

Às vezes, nem mesmo notamos estar perdidos.

Às vezes, você só vê que algo não dá mais depois que o limite foi estrapolado.

Eu me sinto assim às vezes. Sinto que estava cego, preso em uma espécie de névoa que me cegava do que eu realmente era. O que eu realmente sou. Hoje eu não consigo me ver mais vivendo como eu vivia, com o medo que eu tinha (este ainda existe em mim, não nego), nem mesmo com a situação que eu passava.

Quero exorcizar de mim todas aquelas coisas que não só me levavam para baixo como também quero algo limpo e novo. Um novo eu, uma nova vida. Um novo Luke.

Eu sinto toda a ansiedade no peito só de pensar no que quero fazer, mas sinto que será uma boa causa.

Depois de conhecer a cabana de Michael e nos declararmos um para o outro, ele me mostrou o lugar, mostrou o que amava fazer, os livros que lia, o que escrevia e eu simplesmente me senti mais encantado. A sensação de ter alguém que realmente faz questão de me mostrar sua vida e me quer nela sem nada em troca é tão diferente que nem sabia existir tal coisa.

Passamos a noite conversando do lado de fora da cabana, tomando chá e contando sobre inseguranças. Michael me falou que temia muito eu não o aceitar depois que me beijou na primeira vez que aconteceu. Ele disse que sentia medo de me pressionar. Ele foi sincero sobre seus sentimentos e sobre o que queria, o que pensava.

Aquilo me veio uma sensação de dor no peito. Ele queria me cortejar, me namorar, Michael lutaria para estar comigo. Aquilo era ótimo, mas ainda temia seu bem estar, temia o que um homem tão ambicioso como meu pai poderia fazer a alguém tão bom como ele. Aquilo tirava completamente meu sono. Eu não sabia o que era aquela sensação de proteção àquele que você se importa de forma tão lasciva como sinto ultimamente. As noites às vezes pareciam intermináveis, só por esse sentimento que não saía de mim. Michael era bom, bom demais para toda essa sujeira que eu era.

Mas ele queria ficar. Ele se fez presente. E isso... Isso eu nunca poderia agradecer o suficiente. Poderia ser algo egoísta de pensar, mas se não fosse Michael, eu talvez poderia nem mesmo estar evoluindo como estou. Ele foi crucial para meu crescimento, mental e espiritual. Ele alimentou minha alma com esperança, partilhou o calor de seu coração para que eu não sentisse mais frio, e ele me despiu de minhas vendas, aquelas que me impediram de me ver como eu era e não como meus pais me fizeram para ser.

Eu ainda sou uma massa de argila amorfa, em estado disforme, esperando criar algo belo ou que possa ser desastroso se não bem cuidado. Mas ainda seria eu, Luke. Não o filho que meus pais querem, não o rapaz que passa todos os dias às sombras de homens importantes como se quisesse ser como eles quando na verdade, eu só quero ser eu mesmo. Eu ainda sou disforme, em construção, no caminho de um molde, de uma forma. Porém, eu não quero uma forma, não quero um molde, eu quero ser livre.

E ser livre significa exorcizar todos os meus pesadelos, me livrar de tudo aquilo que me faz andar para trás. Tudo que me segura no molde de alguém que faz o que não quer. No molde de alguém que teme a própria sombra. Eu não quero mais temer nada, quero a luz.

Havia umas semanas desde minha recuperação completa das agressões de meu pai contra mim, já voltei ao trabalho e também a tarefa de rapaz respeitoso e noivo de uma bela moça filha de um homem de boas posses. Eu estava tão esgotado desse papel, de atuar para manter minha pele intacta.

Sinner // MukeWhere stories live. Discover now