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“Jogar com os olhos vendados e em desvantagem era a maior das covardias”
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Uma semana.

Fazia uma semana desde aquele jantar forjado de meu pai, onde a minha noiva se negou a ir, o pai dela veio pedir desculpas no dia seguinte, dizendo que a tal Ellie estava indisposta e que foi algo totalmente inesperado. Eu pessoalmente quis rir naquele instante, pois era mais do que óbvio que a menina queria tanto estar casada comigo como eu queria estar casado com ela, mas não ri porque sabia de como meu pai poderia interpretar e como pai dela era um cara conhecido por não ser tão pacífico.

Michael passou a noite tocando no piano da sala a pedido de Ashton, que ficou a noite toda dizendo dos talentos musicais do melhor amigo enquanto eu o admirava de longe, aproveitando da distração que Padre Raphael e Ashton criaram enquanto o resto dos convidados bebiam vinho e socializavam.

Provavelmente, eu devia me sentir ridículo e envergonhado por ter sido deixado na festa em que oficializaria meu namoro com a menina do qual eu não sabia o nome. Porém, tudo o que havia acontecido aquela noite me provou que não sentia nada. Não era como se tivéssemos um tipo de relacionamento saudável ou se tivéssemos escolha sobre isso, mas também não contrariava aquilo que me irritava. As palavras do Sr. Clifford ainda rondavam minha mente, sobre eu ter o direito de escolher o que era melhor para mim. Óbvio que ele estava mais do que certo, ninguém merece estar sendo obrigado a fazer algo que não quer, mas a verdade, era que eu sou um covarde.

Depois da noite tensa, mas que se tornou agradável graças a Padre Raphael, Ashton e os talentos musicais do diácono, não os vi mais. Já fazia uma semana e desde aquele dia, pensei que a história toda com o pupilo do padre passaria, que o fulgor que percorria meu sistema passaria, que eu pararia de me importunar com pensamentos envolvendo o pobre homem, porém, estava engando. A distância só me fez mais ranzinza e mais incomodado.

Calum dizia que eu precisava ir na casa de veraneio na rua nos fins do povoado, uma forma de falar bordel sem ser feio ou desagradável, mas a verdade era que eu sentia arrepios e repulsa só de ouvir aquilo. Não que eu não goste de mulheres –coisa que eu realmente estou considerando–, mas é que não me sentia nada a vontade indo lá ou me aproximando de lá.

Anos atrás, depois de muita relutância de minha parte, meu pai me forçou ainda assim, a ir a aquele lugar. Sua desculpa era que todo homem devia começar a ser homem de verdade quando fazia seus catorze para quinze anos. Eu achava ridículo, dizia que não queria, mas não mudou nada. Ele disse a mamãe que me levaria em um jantar de negócios para me familiarizar com esse mundo, e na verdade me levou para aquele lugar asqueroso.

O lugar de verdade não era asqueroso, mas eu odiava do mesmo jeito. Odiava como aqueles homens idiotas e babões tratavam aquelas moças como um pedaço de carne ou pior, como se fosse algo sujo que só servia para certa ocasião, mas que depois seria jogada no lixo. Na minha opinião, elas mereciam mais reconhecimento. Para suportar aqueles homens fazendo todas aquelas atrocidades com elas e sendo tão mal remuneradas. Deviam ser beatificadas por padre Raphael.

Por fim, meu pai chamou uma moça jovem, que eu imaginei ser um tipo de prostituta fixa que ele traia minha mãe frequentemente, e disse a ela que precisava que o filho dele se tornasse homem. Nunca odiei tanto essa colocação. Sem sombras de duvidas, eu era muito mais homem que ele só por não agir como ele. A forma que ele falava e tocava a moça, era claro que ela só deixava porque precisava do dinheiro. Eu não faria nada disso.

No fim, não fui perguntado sobre o que eu queria ou não. Como uma filha garota de um rico fazendeiro, ou duque, ou o que seja, fui levado para um quarto na parte superior da casa, haviam duas moças lá. Estava assustado e com medo, eu não queria, mas eu só tinha quase quinze anos, era bem magro e relativamente fraco, e não queria agir de nenhuma forma que pudesse ser interpretado como violência a aquelas mulheres, enquanto as mulheres ali tinham no mínimo uns trinta anos. Nunca me senti tão sujo na minha vida, ou humilhado, ou usado, ou injustiçado. Até para conseguirem que minha intimidade criasse algum tipo de ação, foi a pulso.

Sinner // MukeOnde histórias criam vida. Descubra agora