(16)

127 19 207
                                    

“Talvez assim eu possa finalmente viver em paz com quem realmente se importa comigo.”

•••••

Não podia acreditar no que acabara de ouvir. Meus olhos estavam ardendo e sentia meu peito bater tão forte quanto o marchar de cavalos selvagens, tudo o que acabei de ouvir era tão triste e tão terrível. A única reação que tive foi me virar para ele e beijar seus lábios. O abracei e o apertei contra meu peito e o puxei para mim como se de alguma forma, tentasse tomar tudo aquilo para mim. Fazer de sua dor a minha.

A sensação de ter alguém tão perto que passou por coisas tão terríveis dói tanto quanto uma ferida aberta sem nenhum cuidado. A sensação de descobrir que ele sofreu tão mais do que eu me fez ter o sentimento primitivo de protegê-lo, cuidar dele e impedir que algo assim aconteça de novo. Mesmo que não estivesse em minhas mãos o destino dele e nem o meu. Michael havia lidado com coisas demais ainda muito jovem, e vê-lo comigo enquanto tudo poderia ter sido diferente me faz acreditar na sua força e também no amor que ele tem a aqueles quem ele ama. Assim como sua fidelidade a quem ele era. Aquilo realmente tinha de ser considerado.

Michael envolveu seus braços na minha cintura e afundou o rosto no meu pescoço. Era notável como lembrar daquelas coisas o afetava, mas ele não parecia triste ou ressentido. Ele só não parecia confortável a respeito. Eu o entendia. Entendia perfeitamente como era sentir-se assim. Era difícil deixar-se ser vulnerável, deixar que as palavras saíssem quando elas estavam tempo demais enterradas dentro do seu ser, quando você não tinha que externizar para que o fantasma da realidade tivesse a chance de fazê-la real. Naquele momento, Michael tinha as deixado reais, tinha as colocado para fora, as expulsado da profundidade das suas lembranças e estava entregando para mim a prova de que ele não só confiava em mim, como também a prova de que ele me entregava a parte mais bela dele como também a parte mais obscura, porque ele acreditava que eu o entenderia. E eu entendia.

Eu me movi do seu colo e me sentei no braço da poltrona. Nossos dedos entrelaçados enquanto ele tinha o braço envolto na minha cintura. Ficamos um tempo em silêncio enquanto com a mão que não segurava a sua eu passava meus dedos pelo seu cabelo.

— Seu pai...

— Ele nem sabe o que eu ando fazendo. — Respondeu. — E eu faço questão de não deixar ele saber de mim, exatamente como não quero saber dele. Não me faz diferença.

— Durante esses anos, ele não veio atrás de você?

Ele me olhou nos olhos e negou com a cabeça.

— Quero dizer, ele veio nos primeiros anos. Acho que para ter certeza de que Raphael não estava mentindo. — Michael não parecia se importar de qualquer maneira. — Eu me neguei a vê-lo, mas Raphael me instruiu que era melhor o ver e fingir que estávamos de acordo com tudo o que acontecia. Fingir apoiar um filho padre é muito melhor do que dizer que tem um filho gay. Na segunda vez que ele veio, eu não fui vê-lo. Ele não queria me ver, ele nunca se importou, só estava ali porque queria criar uma imagem. E eu não o daria esse direito, não ia deixar que ele tomasse de mim isso também. Por isso ele não veio mais me ver.

— Mas e a sua mãe?

— Ela não quis me ver desde o dia em que ouviu o que eu disse ao meu pai na sala dele. — A forma como ele disse mostrava que lembrar daquilo doía. Talvez ele ainda esperasse que sua mãe mudasse de ideia. Talvez ele sentisse exatamente como eu me senti quando eu mais precisei da minha mãe, ela também me deu as costas. Aquele sentimento, o de notar que está totalmente sozinho, aquilo não vai embora fácil. — Bom, Raphael disse que ela perguntou sobre mim, mas não sei se ele disse só para não me ver triste, não sei se quero me importar com isso. Quero dizer, eu me importo com ela, ela é a minha mãe, mas é que sempre vai ter a imagem de como ela me olhou assim que ouviu o que eu disse ao meu pai.

Sinner // MukeWhere stories live. Discover now