Pt2: Capítulo 4 - Sob Pressão

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JOSIE POV

Nova Orleans era uma cidade extremamente rica. Cheia de energia, cheia de magia, cheia de gente. Quanta gente... O sangue humano, aquele néctar viciante e hipnotizante corria por todos os lados daquela cidade rústica e turística.

A primeira vez que provei aquele líquido proibido, diretamente das veias de uma mulher que conheci em um pub de Nova Iorque, eu me viciei. foi instantâneo. E agora, com o peito vazio e a garganta ardendo, eu procurava por mais uma vítima, por mais um humano qualquer para me alimentar.

Uma mulher alta, de cabelos loiros que caiam sobre os ombros e olhos azuis profundos caminhava por um canto escuro da cidade carregando sacolas de plástico nas mãos. Seus saltos ecoavam sobre a rua de pedra e ela seguia determinada para algum lugar.

Pulei da sacada do prédio em direção ao chão, sentido o vento correr por entre as minhas roupas. Ela não me viu, não me ouviu e apenas percebeu a minha presença quando a puxei pelo braço, fazendo as sacolas escaparem de suas mãos.

Meus dentes afiados estavam prontos para sugarem tudo o que eu pudesse do seu corpo frágil. Minha sede ardia, queimava... Deus! Como eu estava faminta.

Porém minhas veias arderam, meu corpo inteiro estremeceu, minha visão ficou turva e eu cai sobre os joelhos com as mãos aos ouvidos. tentando fazer aquele zumbido irritante parar, mas não consegui e tudo ficou escuro.

Abri os olhos e encontrei um homem negro, de olhos cerrados e raivosos me encarando. Haviam barras a minha frente e um colchonete duro sob mim, no chão úmido de uma cela pequena em algum lugar daquela cidade... eu acho.

- Quem é você? - minha voz soou como um rosnado.

- Você está na minha cidade - respondeu o homen, que se escondia na penumbra do lugar - você não pode chegar aqui e fazer o que bem quiser, o que bem entende... Temos regras aqui em Nova Orleans, as minhas regras.

- Eu não dou a mínima para as suas regras... - retruquei - Vou perguntar mais uma vez: quem é você e onde eu estou?

- Você atacou alguém importante para mim, alguém que eu amo mais do que a mim mesmo... Você está desligada... Não é Josette Saltzman?

Ele, o rei de Nova Orleans, o grandioso Marcel Gerard, achava que o fato de saber o meu nome iria me fazer ter medo dele, daquela situação. mas eu já passei da fase onde me importava com qualquer coisa, só queria era sair dali e seguir a minha existência.

Desligar a minha humanidade havia sido uma decisão que tomei de forma assustadoramente fácil, me vi em uma situação de perigo, de perda e dor mais uma vez e optei pelo caminho mais fácil, mais divertido... Não foi somente a morte do meu pai que havia feito eu me desligar, foi um acúmulo de tudo de todas as coisas pelas quais já passei, por todo sentimento que enterrava dentro de mim, por toda palavra que deixei que expressar por medo de ser quem eu era de verdade... Agora eh estava livre e isso era exuberante.

- Olha, me deixe sair daqui e eu vou embora da sua tão adorada cidade, é sério...

- Você acha que vai ser fácil assim? Você vem, faz o que bem entende e eu deixo você ir? - Marcel se aproximou e apoiou os braços nas grades - Você só está aqui, nessa cela e não em uma cama qualquer por respeito a Hope. Você atacou a minha mulher, isso não tem perdão.

Deixei o caminho aberto em meus lábios para exibir um sorriso debochado, me deitei novamente no colchetes duro e fechei os olhos, apenas esperando que ele fosse embora.

- Eu sei que fazer você passar fome não vai trazer a sua humanidade de volta. mas vai ser bom para você secar um pouco aqui embaixo por um dia ou dois.

E foram três dias. Três dias sem ver a luz do sol, sem comer. sem beber... Havia sido muito pior do que eu imaginava que seria, meu vício estava latente e ficar sem sangue foi uma tortura, foi a pior coisa que já passei.

Consegui sentir o cheiro daquela bolsa plástica de longe, a metros de distância. Ouvi o som de botas ecoarem pelos corredores estreitos e aromas familiares, lavanda e alecrim...

Hope e Penelope atravessaram a porta de ferro e pararam diante da cela. Pude ver ligeiramente os dedos trêmulos de Hope que seguravam uma bolsa de sangue e conseguia ouvir o coração acelerado de Penelope que me encarava de forma amorosa.

- Então eles enviaram a artilharia... - sorri para elas ironicamente - Pensei que vocês não viriam nunca... Me digam, estão curtindo o relacionamento a dois?

Era de certa forma estranho olhar para elas e não sentir nada, amor, paixão, desejo... nada. Hope e Penelope eram naquele momento somente mais duas pessoas no mundo, possuíam a importância de um estranho que esbarrava em mim na rua.

- Como você está? - perguntou Penelope.

- Faminta. - falei rispidamente.

- Josie... - Hope deu um passo adiante, com o olhar pesado de lágrimas.

- Nem tente, eu sei o que você vai falar, vai tentar recuperar lembranças, momentos... Eu lembro de tudo, Hope, de cada beijo, cada toque, mas eu não dou a mínima, na verdade não podia me importar menos - Hope se afastou, secando as lágrimas e encontrou os braços de Penelope que estavam prontos para ampara-la - Se vocês vão deixar o sangue, deixem e vão, se não, só sumam daqui de uma vez.

E sem falar nada, elas se viraram e saíram pela porta, e estranhamente isso me fez sentir alguma coisa.

Último Recurso - Fic PhosieOnde as histórias ganham vida. Descobre agora