Pt2: Capítulo 12 - Oásis

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JOSIE POV

Ainda não havia tido tempo de me adaptar ao fato de estar de volta, de ter religado a minha humanidade. Com tudo o que aconteceu com Hope e Penelope não houve muito tempo para isso. Naquela manhã eu acordei reflexiva, pensando nas coisas que havia feito, no que havia acontecido e como eu não me conectei com a minha irmã desde que voltei.

Fui até o quarto de Lizzie logo assim que despertei, sentia a queimação na minha garganta e aquela sensação semelhante a fome, mas muito mais insuportável, mas ignorei tudo por hora, já que iria caçar próximo ao Bayou com a minha mãe e Lizzie mais tarde.

Bati na porta duas vezes e Lizzie abriu logo após a segunda batida. Seu rosto pareceu se iluminar quando me viu parada ali, seus braços me sufocaram momentaneamente, mas eu não me importei, pois estava feliz.

- Eu não acredito que você se lembrou que tem uma irmã - ela sorria, deixando suas covinhas em evidência - e olha que somos gêmeas.

- Ah, para de bobagem! - mas eu sabia que ela estava certa, mesmo com as nossas diferenças e desavenças Lizzie e eu compartilhavámos uma vida, uma conexão tão forte que ela acabou morrendo por causa disso - Me desculpe, esses últimos dias foram...

- Eu sei, não precisa pedir desculpas. - seus olhos azuis estavam um pouco mais escuros do que o normal - As coisas mudaram muito nessas últimas semanas.

- Nem me fale...

- Sim, não vamos falar de problemas! - ela se animou e se sentou na cama. Sua pele pálida parecia brilhar sob os poucos raios de sol que escapavam pela cortina do quarto - Onde estão as suas namoradas?

- Elas foram até a casa de Rebekah e Marcel com Freya para ver se eles podem ajudá-los a encontrar alguém que entenda melhor dos poderes da Penelope.

- Aconteceu mais alguma coisa? - perguntou Lizzie.

- Ontem ela teve algo semelhante a uma visão... Ela está ficando assustada com isso tudo.

- E onde está a mãe dela? Ela não pode ajudar com isso?

- Penelope não quer contar a ela porque se o fizer ela e o irmão vão vir da Bélgica para cá e, bem, aqui não é um lugar muito seguro no momento. - Lizzie ergueu as sobrancelhas em concordância - estou ficando preocupada com ela.

- Não fique não - Lizzie segurou minha mão - vai ficar tudo bem. E me diga, como está indo esse seu namoro a três?

- Sério que depois de tudo o que aconteceu você quer me perguntar sobre isso? - Lizzie gargalhou e tombou a cabeça para trás.

- Sim, - respondeu ela ajeitando-se na cama - como eu disse, não quero falar de coisas ruins. O que passou passou, foi péssimo? Foi, mas passou. Você está de volta, papai está de volta, Hope está de volta até o embuste do Landon apareceu... Mas enfim, coisas boas e, além do mais, preciso saber como é ter uma vida amorosa.

- Ah para com isso - retruquei - mamãe me contou que você anda bem próxima do MG, finalmente, devo ressaltar.

O rosto de Lizzie corou um pouco e ela baixou os olhos, sorrindo sem graça.

- Ele é... Legal. Estamos nos entendendo, sou uma nova mulher, Josie. - ela disse esta última frase com o peito inflado de orgulho.

Orgulho, era isso o que eu sentia por ela naquele momento. Nós pensamos que ao se transformar Lizzie iria ficar mais descontrolada do que era antes, mas o que aconteceu foi bem o contrário disso. Ela se ajustou bem a vida de herege e, quando não está ajudando com os refugiados no casarão ela auxiliava meu pai, Freya e Vincent com pesquisas sobre Malivore, feitiços de proteção, de localização e tudo mais o que fosse preciso. Era uma maneira de manter sua mente ocupada, imaginei, mas independente da razão, ela estava melhor.

***

O Bayou estava quente e úmido, não havia vento, mas, ainda assim, o clima estava agradável. Os fios loiros da minha mãe refletiam como ouro no sol. Ela estava atenta aos sons ao nosso redor. Estávamos afastadas da área dos lobisomens, para não correr risco algum de feri-los ou sermos feridas já que, reza a lenda, que a mordida de um lobisomem era algo bem desagradável, e, mesmo tendo o sangue de Hope a disposição, essa não era uma experiência que gostaria de vivenciar.

Meu ouvido captou sons de passos pesados mais ao norte, e pela expressão no rosto de Lizzie e Caroline elas também ouviram. Mamãe nos olhou com um sorriso satisfeito no rosto.

- Vamos!

Seguimos seus passos ágeis e apressados, com a atenção presa nos cascos que batiam no chão de terra. O som estava ficando mais alto e pude sentir o cheiro pesado e agridoce das nossas presas.

Era o nosso dia de sorte, só podia ser, pois parados em meio às árvores, com orelhas atentas e pontudas, havia uma família de três cervos adultos de olhos castanhos esbugalhados. Apesar de atentos eles estavam serenos, quase imaculados, mas a sede ardia em minha garganta, a dor queimava meu estômago, e, deixando o meu instinto falar mais alto, me ceguei para todo o resto e me foquei somente na minha próxima refeição.

***

Limpei o campo da boca deixando o corpo mole do animal caído aos meus pés. Minha mãe e Lizzie estavam sentadas um pouco mais afastadas, rindo de alguma coisa que parecia realmente engraçada. As duas estavam felizes apesar de tudo, estavam bem e isso me fez um bem imenso.

Contudo esse momento de felicidade foi mais breve do que eu gostaria. Um vento quente balançou os fios de cabelo que caiam sobre o meu rosto e trouxe junto um cheiro que encheu minha boca d'água. Era sangue, sangue humano.

Mesmo estando satisfeita eu senti as veias sobresaltarem sob os meus olhos e vi de relance a feição de Lizzie mudar de felicidade para preocupação, mas eu já estava longe, seguindo uma trilha invisível guiada pelo meu mais perigoso instinto.

Em segundos cheguei a beira da estrada, onde um homem trocava com dificuldade o pneu de um carro velho e balança no ar a mão ensanguentada. Meus dentes cresceram ameaçadores para fora dos meus lábios e em menos de um piscar de olhos eu estava sobre ele, com os dentes cravados em sua mão, sentindo o gosto doce do seu sangue puro que me preenchia, me completava. Era viciante.

Senti um baque forte e os cabelos loiros que não soube identificar de imediato de quem era escureceram a minha visão, mas eu lutei, precisava de mais, eu queria mais. Lizzie me prendia com uma força tremenda no chão enquanto minha mãe esfregava sua mão nos lábios brancos do homem. Ela se virou para mim, que ainda estava presa sob Lizzie e quando olhei novamente estava no meio do Bayou, ofegante e com o rosto entre as mãos, algo molhando escorrendo pela minha bochecha.

Minha mente voltou para algumas semanas atrás, e por mais que eu tentasse esquecer ou afastar era inevitável não lembrar dela, era inevitável não lembrar da primeira pessoa que eu matei.

Último Recurso - Fic PhosieOnde as histórias ganham vida. Descobre agora