Capítulo 4

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• Alice Narrando

— Caramba! O que foi isso na quadra?! Derek e Brandon não eram como irmãos? — Ester, minha amiga, perguntou enquanto entrávamos no vestiário.

— É, eles são. Eu não entendi nada. O Derek nunca foi agressivo. Brandon deve ter feito algo bem sério pra merecer aquele soco. — Falei, tirando a roupa pra tomar banho.

— Será que foi por causa de mulher? — Sussurrou, pois tinham muitas garotas ali e a fofoca rola solta na boca delas.

— Improvável. O Derek é desapegado e fica com uma mulher diferente a cada fim de semana. Duvido que brigaria por qualquer uma delas. — Constatei.

Tomamos banho e saímos bem rápido, porque eu já não aguentava mais ouvir as teorias que estavam sendo formuladas, sobre a tal briga, pela mulherada curiosa.

Eu coloquei um jeans com regata e por cima, minha peça favorita: Um casaco de moletom, bem confortável.

Meu cabelo ainda estava molhado, e, só por isso, o mantive solto. Mas assim que os fios secasse, eu voltaria para o meu rabo-de-cavalo.

Enquanto caminhamos pelos corredores, de volta aos nossos armários, pra pegarmos nossas coisas e irmos embora, vi o Derek sair da Diretoria com uma cara amarrada.

Parei de andar e segurei o braço de Ester, pra ela parar também. Eu fiquei observando com atenção meu melhor amigo, vindo com um papel na mão e de cabeça baixa, até que ele finalmente notou que estava sendo observado e também parou de andar.

Ficamos ali. nos encarando por um segundo e eu não sei explicar o que, mas algo estava diferente naquele olhar. Ele finalmente voltou a andar e veio na nossa direção.

— Me espera, que eu te levo pra casa. Vou só tomar uma ducha rápida. Tudo bem? — O seu tom foi seco e ele olhava no meus olhos de um jeito intenso e que me deixou nervosa, porque ele nunca tinha me olhado assim. O que tava acontecendo com ele?

— O que rolou lá na quadra, cara? Você me deixou preocupada, sabia? — Perguntei irritada. — Desde quando você resolve as coisas no soco? — Botei as mãos sobre meu quadril, como eu sempre fazia, quando dava esporro nele, mas vi ele aproveitar meu movimento pra olhar para o meu corpo. Foi bem sútil, mas eu reparei e estranhei.

— É complicado, eu te explico no carro. Você pode me esperar ou não? — Ele parecia irritado comigo e eu não sei porquê.

Eu bufei, mas concordei. — Tá, eu espero! Mas vai logo que eu tenho muito o que estudar. — Puxei o braço da Ester pelo corredor, pra pegar minhas coisas e aguardar o estressadinho no estacionamento.

Ele não demorou. Na verdade, parecia que nem tinha se secado direito, pra ser realmente rápido. Seu cabelo pingava e sua blusa tinha algumas partes molhadas.

Entramos no carro em silêncio e ele tinha a testa enrugada, enquanto que os nós dos seus dedos estavam mais claros, revelando que ele segurava o volante com uma força excessiva.

Liguei o som, pra tentar quebrar o clima chato e talvez acalmar seus ânimos. Não sei se foi a música, mas ele respirou fundo e pareceu finalmente estar relaxando, até enfim falar alguma coisa.

— Levei uma suspensão. Segunda não vou poder entrar. — Pra mim era óbvio que isso aconteceria, ele socou um aluno. Mas não quis irritá-lo mais.

— Que droga. Não se preocupe, que eu te passo a matéria que você perder. — Ele riu sem humor.

— Não é com isso que eu to preocupado. — Falou quase em um sussurro.

• Derek Narrando

Eu sempre senti o cheiro do perfume dela e isso nunca me afetou. Não como estava me afetando agora, enquanto eu dirigia com ela do meu lado.

— Então o que te preocupa, Derek? Você tá agindo estranho. Porque você socou o Brandon? Tudo bem que ele é o Rei dos Babacas, mas ele não era seu amigo? — Ouvi-la chamando ele de babaca me aliviou e eu até ri um pouco.

— Digamos que ele foi babaca além da conta, hoje. Mereceu o soco. E fica tranquila, eu to bem. É só que esse dia está sendo... atípico. — Eu falava olhando pra rua, mas conseguia ver, pela minha visão periférica, que ela me encarava cheia de dúvidas.

— Atípico? — Ela queria que eu fosse mais específico, mas eu não queria falar sobre o joguinho idiota, que tinham metido ela. Isso só a chatearia. Eu acabaria com essa palhaçada assim que falasse com a Melissa, então a Alice não precisava saber.

— É. Acho que acordei com o pé esquerdo. — Desconversei, mas sei que ela notou.

— Hum... — Ela cruzou os braços, meio irritada. — Então não vai me contar o motivo do soco? — Céus! Como ela é insistente!

— Ele falou sobre você e eu te defendi. Satisfeita? — Decidi ser sincero nessa parte, já que isso contaria a meu favor e de quebra a afastaria ainda mais do Brandon.

— Me defendeu? — Ela falou com um ar de indignação e eu fiquei confuso, olhando por um segundo pra ela antes de voltar a olhar pra rua. — Desde quando eu preciso de você socando os caras, que falam coisas escrotas sobre mim?! — Seu tom de voz se alterou.

— Como é?! Você tá reclamando?! — Agora eu também estava falando mais alto.

— Lógico, seu idiota! Você tomou suspensão por um motivo ridículo. Era só ignorar o Brandon, como qualquer pessoa com cérebro faria. — Eu freei o carro, porque não podia acreditar que ela tava se voltando contra mim.

— Deixa eu ver se eu entendi. — Olhei pra ela. — Você tá dizendo que prefere ser comentário no meio dos homens, ao invés de eu dar um soco no maldito que fizer isso? — Perguntei devagar, pra ela perceber o quão ingrata estava sendo.

— SIM! — Ela gritou. — O que tem isso? Todas as meninas falam de você. — Ela apontou pra mim com uma das mãos.

— É bem diferente, Alice! — Bati com força a mão no volante. — Pelo amor de Deus, você acha mesmo que é a mesma coisa? — Ela me olhava com uma das sobrancelhas arqueadas, como se disse "sim" e eu ri irônico, negando com a cabeça.

— A diferença está que você tira proveito desse tipo de atenção e eu vou apenas ignorar, porquê não é do meu interesse. Você não pode sair socando um cara, só porque ele fez comentários sobre mim. Pois são só isso. Comentários. Fora que foi só UM cara que me achou atraente. Deixa de ser louco. — Eu gruni ao ouvir aquilo, porque eu sabia que não era só "UM" cara que estava achando isso, depois do alongamento exagerado dela, hoje. E eu era um deles.

— Pra quê você ficou se alongando daquele jeito? — Falei entredentes.

— É o que?! — Ela gritou de novo. — Você não pode estar falando sério. — Agora era ela que ria com sarcasmo.

— Eu to, Alice! Você não sabia que tinha um monte de cara atrás de você, antes de ficar igual um avestruz de cabeça pra baixo e bunda pro alto? — Gesticulei.

Ela ficou vermelha e eu não sabia dizer se era de vergonha ou de raiva. Talvez os dois.

Senti meu rosto arder com um tapa forte, tão rápido e inesperado que me deixou assustado.

— Parabéns, você conseguiu o posto de Rei dos Babacas. Superou o Brandon. — Falou com a voz falha, de quem estava prestes a chorar e saiu do carro.

Jogo do Amor - Uma amizade que se transformaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora