Capítulo 9

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• Alice Narrando

No caminho até o carro, eu olhei para a Ester, que estava calada, mas ainda de braços dados comigo.

— Você tá bem? Eu te procurei pela casa e demorei pra te encontrar. — Questionei, preocupada e ela mordeu o lábio, com nervosismo, antes de responder.

— Hum, eu fui no banheiro e depois fui na cozinha. — Ela falou rápido e eu sabia que tinha mais coisa, que ela não estava me contando.

Talvez fosse a presença do Derek que a inibiu de falar. Eu perguntaria de novo, depois.

Escutei o barulho do carro destravando e o dono dele passou na nossa frente, abrindo a porta do carona e segurando-a, como se esperasse eu entrar.

Eu fiquei olhando pra cena e meus batimentos aceleram só por ter que sentar do lado dele.

Céus! O que deu em mim, hoje?! Nunca mais eu vou beber.

Eu olhei pra Ester e vi uma luz no túnel. — Eu vou atrás com ela, pra não deixá-la sozinha. — Sorri nervosamente.

Derek estreitou os olhos e arqueou uma sobrancelha, para a minha desculpa esfarrapada.

— Eu não sou motorista particular, Alice. A Ester pode ir na frente se preferir. — Ele falou num tom irritado.

— Pode ir na frente, amiga. Eu vou atrás sozinha. Relaxa. — A ruiva falou, antes que eu pudesse argumentar.

Ela soltou meu braço e caminhou para o carro, entrando na parte de trás. Respirei fundo e entrei, sentando no banco do carona. Derek fechou minha porta e deu a volta no carro pra entrar e levar a gente dali.

O caminho foi silencioso. Olhei pra trás e vi que Ester tinha cochilado contra o vidro da janela. Olhei para o Derek e ele parecia longe, pensativo.

Então passei a observar as casas, nas ruas que passávamos e só quando vi que já estávamos próximos de chegar, que puxei o ar, pra falar alguma coisa.

— Foi mal não ter dito que eu ia. A gente decidiu em cima da hora. Não foi nada planejado. — Eu não sei porquê, mas eu senti que precisava me explicar pra ele.

Ele assentiu de leve, mas continuou calado. É isso me deixou angustiada. Eu não queria ele chateado comigo.

— É que experimentamos as roupas da irmã da Ester e nos empolgamos na brincadeira. — Ri, tentando melhorar o clima.

Ele não falou nada. Nem riu comigo. E agora eu já estava começando a me irritar. Isso já era exagero da parte dele.

— Olha, eu sei que você não gostou. Eu só não entendo a razão. Você mesmo, já me chamou, algumas vezes, pra festas como essa. Qual o problema de eu ter, enfim, ido em uma? Eu estava curtindo, até você aparecer. — Bufei, mas fiquei satisfeita, ao ver que minha provocação o fez abrir a boca, finalmente.

— Você estava se divertindo, né? — Debochou — E desde quando você se diverte assim, sendo o centro das atenções? — Ele riu irônico. — Você nem tem roupas, como essa que está vestindo, agora. Está usando roupa dos outros, tomando atitudes dos outros. Nada disso é você, Alice. Você não é assim.

Ele falou com uma arrogância, que só quem me conhecia muito bem, poderia falar. Ele não estava errado. Mas eu não ia dar o braço a torcer.

— As coisas mudam, amiguinho. Eu gostei de como me senti hoje. — Isso não era, totalmente, mentira. Gostei de ser admirada pelas pessoas.

— Ah, é? — A expressão do seu rosto suavizou e uma sobrancelha se ergueu, junto à um sorrisinho torto, que se formou em seu rosto. — Então você gostou de tudo o que sentiu, hoje? — Ele perguntou com um ar de malícia.

Meu rosto corou e senti minhas mãos suarem, com a vergonha que senti, ao entender ao que ele estava se referido.

Droga! Derek percebeu, o que eu achei que tinha disfarçado tão bem, naquele abraço, forçado por ele. Maldita bebida. Nunca mais eu vou beber.

— De quase tudo. — Respondi, um tanto depressa e desesperada demais. — Algumas coisas, eu não pretendo sentir mais. — Era verdade, também.

Eu não queria olhar pra ele, com segundas intenções, de novo.

Fora que eu tinha certeza que, assim que eu acordasse amanhã, sóbria, eu já não sentiria mais essas coisas estranhas por ele.

— Oh! Ok. — Ele riu de mim e eu olhei rápido pra trás, pra ver se a sua risada tinha acordado a Ester, mas ela ainda estava apagada.

— E você está enganada. — Ele ganhou minha atenção, novamente. — Eu gostei de você ter ido. Gostei do vestido. Gostei da dança. — Ele falou pontualmente, com um sorriso largo. — Eu só não gostei de você não ter ido comigo. — O sorriso diminuiu, mas não sumiu. — Eu gostaria de ter te levado, se tivesse me avisado, baixinha. — Ele não parecia mais irritado.

— Entendi. — Eu sorri, vendo que as coisas estavam mais calma, entre nós, outra vez. — Bom. Então, eu te aviso na próxima. — Garanti.

Ele foi parando o carro e, só então, eu percebi, que já estávamos na nossa rua.
— E vai ter uma próxima? — Ele riu incrédulo e olhou pra mim, assim que parou o carro, em frente à minha casa.

— Provavelmente, não. — Confessei, rindo com ele. — Mas se tiver a mínima chance, disso se repetir, eu prometo: Você será o primeiro a saber. — Brinquei, ainda rindo, mas parei aos poucos, quando notei que ele estava admirando minha risada.

Ficamos em silêncio por um segundo, apenas nos olhando, até ele balançar a cabeça, desviando os olhos dos meus e olhando pra Ester, que roncava baixinho.

— Tá na hora de acordar a bela adormecida. — Ele riu dela e eu, também.

Eu a acordei, com certa dificuldade, mas logo caminhamos pra dentro de casa. Ela entrou primeiro e antes de eu fazer o mesmo, eu dei uma última olhada para o meu amigo, que também estava prestes a entrar na sua casa, ao lado.

— Boa noite, vizinha. — Ele piscou, com um sorriso sexy, que me fez unir as pernas.

Eca, Derek. Para de ser atraente!
Preciso cortar o clima romântico.

— Boa noite, vizinho. — Fiz uma careta, envesgando os olhos e mostrando a língua, fazendo o rir e entrar, negando com a cabeça.

• Derek Narrando

Entrei em casa, mas meus pensamentos continuavam com ela. Se eu ainda tinha alguma dúvida, de que as coisas tinham mudado entre nós, hoje eu tive certeza.

Seria impossível ignorar como o meu corpo passou a ficar, quando estou perto do dela.

Eu nunca vi a Alice ficar com ninguém e ela nunca me contou se rolou, em alguma viagem ou algo assim.

Agora o que eu precisava saber, era se ela estava sentindo a mesma coisa por mim. Ao menos eu já sabia que ela sentiu algo, hoje. Mas não sei como vai ser amanhã. Hoje pode ter sido só a bebida.

Mas tudo bem. Eu teria paciência pra conquista-lá. Valia a pena o esforço. Pois pela primeira vez, eu sentia que queria algo além de sexo. Com ela eu queria fazer tudo diferente. Porque ela é diferente.

Ela é, esquisitamente, perfeita pra mim. Posso ter demorado pra perceber, mas agora que eu descobri, eu sei que não vou sossegar, até conseguir tê-la.

Jogo do Amor - Uma amizade que se transformaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora