Capítulo 23

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• Alice Narrando

Mal sentamos em nossos lugares e eu já estava buscando saciar a minha curiosidade.

— Se você não vai dizer, eu preciso perguntar: O que eu perdi sobre você e Brandon? O que foi aquilo? Você toda preocupada e protetora com o Rei dos babacas. — Ela arregalou os olhos, se revelando surpresa e um tanto constrangida, com o meu questionamento.

Sua reação só me deixou ainda mais desconfiada de que algo tinha acontecido.

— Você não perdeu nada, Alice! Eu só não gosto de violência. — Deu de ombros e abriu o zíper de sua mochila, que estava sobre o seu colo. — Eu faria o mesmo por qualquer outra pessoa, que se sentisse ameaçada, pelo seu amiguinho. — Explicou com hostilidade, tensionando o maxilar.

— Sei. E por que você achou que o Derek seria violento com o Brandon? — Mudei um pouco o foco, já que ela não parecia disposta a assumir o que estava claro.

— Brandon me falou que ele poderia ser. Ele estava com medo de tomar um soco dele. — Estreitei os olhos pra resposta estranha.

— Medo? — Carreguei minha voz de deboche. — Derek não sai socando os outros por aí, do nada. Se Brandon estava com "medo", certamente, aprontou alguma merda, não é? — Deduzi, tentando descobrir se ela sabia de mais alguma coisa, sobre essa história entre eles.

— Ele estava com medo, porque ele já tomou um soco desse doido, antes. Mesmo sendo amigo dele. Acho que já é motivo suficiente. — Defendeu Brandon. Mais uma vez.

Ela pode negar o quanto quiser, mas ela está gostando dele. Ester nunca defende ninguém, além de mim.

— Não que justifique, mas o Brandon tomou um soco daquela vez, por ter sido um grande babaca. E o Derek não vai mais agir assim, eu te garanto. — Afirmei com convicção, mas no fundo, eu ainda temia que ele se descontrolasse, de novo.

— Como pode garantir atitudes que não são suas, Alice? — Desdenhou, me olhando com descrença e tédio, enquanto tirava o caderno da mochila e colocava sobre sua mesa.

— Porque eu o conheço desde criança e sei que ele não é violento. Ele pode ser estressado, implicante, irresponsável e muitos outros adjetivos negativos. Mas ele não é violento. Ele teve sim, uma atitude violenta. Pra me defender. Mas nós já conversamos e ele não vai mais agir assim. — Foi minha vez de defender o meu cara.

Também peguei meu caderno, no piloto automático e um pequeno silêncio se instalou entre nós. Ela parou de me olhar, colocando sua mochila nas costas da sua cadeira e se virou pra frente, concentrando-se no quadro ainda vazio.

Ester preferiu não se pronunciar mais a respeito, pra não esticar a discussão. Mas eu sabia que ela não confiava no que eu afirmava sobre o Derek.

— Se eu não tivesse certeza do que eu estou te falando, eu não estaria num relacionamento sério com ele. — Colocando minha mochila no chão, entre minhas pernas, eu segurei o sorriso sabendo que a informação, dita sem cerimônia, a surpreenderia.

E como eu imaginava, no momento que a notícia foi jogada, rapidamente, ela se virou de volta pra mim, alarmada.

— O que?! Como assim?! Quando foi isso? — Ela me interrogava histérica e eu dei uma olhada em volta, pra confirmar que ninguém estava ouvindo.

Como sempre, seguíamos sendo invisíveis para o resto da turma e então eu sorri, sem conseguir esconder mais a minha felicidade.

— Foi ontem! — Resumi, mas contei tudo.

Contei sobre nossa pegação na hora que fomos estudar. Sobre as mensagens de Greg, chegando num momento inconveniente. Sobre o ataque de ciúmes de Derek, que resultou numa briga. E por fim, contei sobre a nossa reconciliação, quando ele acabou com a dúvida que pairava sobre a minha mente.

Não. Nós não somos só amigos, que se beijam.
Nosso envolvimento é sério.

— Caramba! Vocês são tão fofos, que me dá nojo. — Ester fingiu que ia vomitar, botando o dedo na garganta, quando eu terminei meu relato e eu ri com o drama. — Fico feliz por você, mas no seu lugar, eu teria ido ao cinema. Só pra provocá-lo. — Falou com ar de superioridade e com um sorrisinho diabólico nos lábios.

— Sério? Mesmo sem vontade de ir, você iria, apenas pra provocar? — Franzi a testa, sem entender o raciocínio dela.

— Mas é lógico! Seria im-pa-gá-vel, assistir o Brandon se morder por ciúmes. — Sorriu com olhar perdido, imaginando a cena e mordeu o canto do próprio lábio, de fato se divertindo com a hipótese.

Ah, minha amiguinha sardenta! Você não se policiou o suficiente e acabou de deixar transparecer o seu segredinho (nada secreto).

— Brandon? Mas quem falou em Brandon, aqui? — Sorri maliciosa e ela me olhou assustada, notado que falou demais e ficando mais vermelha que o seu cabelo ruivo.

— Vo-você! — Gaguejou. — Você quem falou... — Neguei com a cabeça, já rindo muito com o nervosismo dela. — É que eu estava defendendo o Brandon e você estava defendendo o...

Ela tentou argumentar, mas eu a interrompi, completando a sua frase, da minha maneira. — O meu namorado. — Arqueei a sobrancelha, com humor e ela comprimiu os lábios, enfurecida. — Eu estava defendendo o meu namorado e você defendeu o seu. — Provoquei.

— Que namorado, Alice? Para de ser idiota e vira essa boca pra lá! Eu não quero ter nada com esse garoto, quem dirá um "namoro". Que absurdo. — Se exaltou, perdendo o pouco de paciência que ainda lhe restava.

Ela poderia tentar, mas não adiantava mais. Já tinha acontecido. Ester se distraiu e deixou escapar, o que ela nem conseguia disfarçar.

E eu estava me divertindo muito com aquilo.

Ester Green, a senhora "homem só dá dor de cabeça", finalmente, tem um crush.

Ester e Brandon, embaixo de uma árvore, se beijando! Se beijando! — Cantarolei a cantiga infantil, batendo palmas e dando pulinhos na cadeira.

— Para! — Bateu a mão na própria mesa, fazendo o lápis e caneta rolarem para o chão e eu ri alto, enquanto ela recuperava o seu material caído, fazendo algumas pessoas nos olharem, curiosas.

— Ei! Eu quero rir, também! — Brandon surgiu do nada, sentando atrás da Ester.

Pensei que era impossível, mas ela conseguiu ficar ainda mais vermelha. Mais um pouco e ela teria explodido. Tenho certeza.

Eu estava tão entretida em implicar com ela, que nem reparei quando os meninos entraram na sala.

— O que foi tão engraçado? — Derek sentou atrás de mim, rindo apenas da minha risada, mesmo sem saber o motivo por trás dela.

— Bom... — Pigarreei, fazendo os três me olharem. Os meninos curiosos e a ruiva, apreensiva. — Eu acho que a Ester poderia explicar melhor. — Ela me deu um olhar de "eu vou te matar", que não me deu medo algum. Apenas me fez rir, mais uma vez.

Sua sorte foi que o nosso professor entrou logo em seguida, silenciando a turma e a salvado da necessidade de elaborar uma desculpa rápida e convincente, para as minhas risadas.

Como é bom, ver que eu não sou a única apaixonada, nessa história.

Bem-vinda ao time, minha amiga!

Jogo do Amor - Uma amizade que se transformaWhere stories live. Discover now