Capítulo 30

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• Alice Narrando

Acordamos bem cedo naquela manhã e vestimos os nossos biquínis assim que saímos da cama. O DJ tocava só as músicas mais ouvidas do momento e nós estávamos nos divertindo muito na piscina.

Enquanto brincávamos, rindo alto e jogando água uma na outra, ouvi uma série de cliques próximo de nós e logo avistei uma fotógrafa registando o nosso momento.

— Não, não, não! Continuem. Finjam que eu não estou aqui. São fotos pra revista. — Se tem uma coisa que eu odeio é que tirem foto minha. Mas eu guardei a reclamação pra mim, quando vi como minha mãe estava radiante e por ela eu continuei.

— Agora podem fazer algumas poses juntas! — E lá se foram mais uns 10 minutos naquela tortura, ouvindo a fotógrafa dar suas ideias de pose e a minha ainda sugeria mais algumas, inspiradas nas que ela já tinha visto na internet. Depois de bastante fotos nossas, enfim a fotógrafa partiu para outras duplas de mães e filhas.

Mas os registros fotográficos daquele dia estavam longe de terminar. Enquanto a minha mãe fazia uma posição complicada de yoga em grupo com outras blogueiras que, como ela, não sabiam nada de yoga, eu tirava ainda mais fotos delas.

Sem exagero. Eu já tinha tirado umas cinco mil fotos dela só naquela manhã. Quanto espaço um celular pode ter? Será possível que o dela não tivesse limite?

Durante a minha divagação, Melissa, que estava sumida, surgiu no palco pedindo para o DJ parar a música. O susto do silêncio repentino fez a posição de yoga delas ir para o espaço e elas caíram uma por cima da outra.

Não perdi tempo e mesmo em meio as minhas risadas, eu tirei foto daquilo, também.
Expectativa x Realidade.

— Boa tarde, meninas! — Meu olhar voltou para o palco, quando a voz da Melissa saiu das caixas de som. — Eu acho que já chegou o momento de contar sobre um jogo que vocês estão participando, mas ainda não sabiam! — Ela logo conseguiu a atenção de todas.

Algumas já apontavam seus celulares pra ela, mas minha mãe estava tão atenta que nem se lembrou de pegar o seu comigo, pra gravar aquilo.

— Nós da WOMAN, decidimos oferecer um espaço na revista, para uma das duplas, entre vocês. A dupla terá um contrato conosco de cinco anos e uma coluna, que tratará, semanalmente, sobre temas relacionados ao convívio de mãe e filha. Estamos acompanhando vocês nesse evento, em busca da dupla que mais se encaixa na nossa equipe. Mas não existem perdedoras nesse jogo. Todas sairão estampadas na nossa próxima edição. Continuem se divertindo, que essa noite anunciarei as grandes vencedoras!

Todas explodiram em alegria. Mães e filhas, pulando e se abraçando. Aparecer numa revista como essa, lhes renderiam muito mais seguidores do que elas já tinham. Mas minha mãe parecia muita mais interessada na vaga de emprego que poderíamos dividir juntas.

— Meu Deus! Seria meu sonho sair daquela empresa de seguros, maldita! — Ela estava extasiada pela possibilidade.

— Mãe, calma. Tem um monte de duplas de mãe e filha aqui, não dá pra saber quais os critérios que eles estão usando pra nos avaliar. — Tentei trazê-la pra realidade. — Vamos só nos focar em ficar feliz por aparecer na próxima edição. Que tal? Se ganharmos, será mais um motivo pra comemorar. Como Melissa disse, não tem perdedoras. Mesmo que a gente não ganhe, você vai estar na próxima publicação da WOMAN! Isso não é demais?!

Apertei as mãos dela, mas ela negou com a cabeça.
— Agora que eu sei que tenho essa chance, eu não vou conseguir pensar em outra coisa, filha. Não posso me contentar com menos. — Falou esperançosa, apertando minhas mãos de volta. — De todas aqui, nos somos a dupla mais unida, mais divertida, mais companheiras. Além de você estudar com Melissa. E ela falou que era minha fã! Por Deus! Tenho certeza que seremos nós.

Ela já estava me deixando preocupada. Minha mãe sempre foi sonhadora. Ela ter engravidado de mim tão nova, atrapalhou muito dos seus planos, mesmo que ela negue. Mas ainda, sim, ela nunca deixou de sonhar alto. Por isso, pela primeira vez, eu guardei a minha sensatez pra mim e sorri pra ela, tentando me mostrar tão confiante quanto ela.

— Então vamos comemorar! — Eu sempre fui bem pé no chão e sabia que ela, possivelmente, estava enganada. Mas ainda assim, eu comemoraria com ela por pelo menos algumas horas, os seus sonhos se tornando realidade. E se mais tarde o resultado a decepcionasse, eu também estaria com ela, para consola-la.

Eu nunca dancei tanto na minha vida, quanto naquele dia. Até beber escondido com ela, eu bebi. Fizemos competição de pulo na piscina, mesmo quando já tínhamos trocado o biquíni pela roupa de festa.

Nossa maquiagem ficou toda cagada, nosso trabalho em fazer chapinha uma na outra foi por água abaixo (literalmente), mas as nossas risadas continuaram vivas o dia todo.

Nós só saímos da piscina porque começou a esfriar e por isso vestimos os roupões que estavam no nosso banheiro, antes de voltarmos pra festa. Éramos as mais mal vestidas e a minha mãe fazia stories de todos aqueles nossos momentos, se divertindo muito com isso.

Em algum momento, depois de dançarmos bastante (de roupão mesmo), sentamos juntas numa das mesas, pra descansarmos, até que ouvimos a música parar. Minha mãe olhou rápido na direção do palco e vimos a Melissa pegando o microfone.

Trocamos um olhar mais uma vez, e ela tinha um sorriso confiante em seu rosto. Eu apertei a sua mão sobre a mesa e fechei os olhos, arriscando uma tentativa de oração silenciosa, mesmo não sendo religiosa.

Oi, Deus. Alice Stone, aqui. Eu sei que eu não sou de orar. Na verdade, eu nem sei como faz isso. Mas por favor, se existe algum pedido que o senhor possa me conceder, eu gostaria muito de ver a minha mãe realizando o seu sonho hoje. Por favor.

Quando voltei a abrir meu olhos, encontrei minha mãe fixa na Melissa, parecendo ter prendido a respiração, de tanta tensão. Ela não piscava, acompanhando cada movimento da morena alta e magra, que andava pelo palco, sorridente.

— Bom, chegou o momento que todas esperavam. — Todas gritaram e bateram palmas, animadas. Mas eu e minha mãe continuamos em stand-by, apenas aguardando o resultado. — É com muito gosto, que anuncio a dupla de mãe e filha, que farão parte da nossa equipe! Elas que animaram essa festa e que espero que animem a redação da nossa revista, também. Sejam muito bem-vindas a WOMAN...

Jogo do Amor - Uma amizade que se transformaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora