27.

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A smurfete olha para mim e sorri.

— Vamos ter de te arranjar uma arma, loirinho. — ela vira-me as costas e abre uma porta. Entramos e o meu queixo cai com a quantidade de armas penduradas na parede. — Serve-te.

Passo os dedos mas várias armas, sem saber qual escolher, já que não percebo nada de armas.

— Então, quais são os testes que vou ter de passar? — pergunto enquanto passo os olhos pelas facas de aspeto ameaçador.

— Não sei quais vão ser os testes, mas três características vão ser testadas: inteligência, capacidade física e manuseamento de armas. Se não tiveres qualquer uma das três, estes testes vão fazer com que acabes no cemitério.

— Nada que já não tenha enfrentado antes — respondo, escondendo o pânico que ameaçava tomar conta de mim.

— Não, estes testes não são como nada que já tenhas enfrentado, loirinho. Eu quase não consegui sobreviver. Aliás, se não fosse a tua amiguinha, a Sky, nunca teria sobrevivido. Eu treinei com ela para me preparar para estes testes, tu não tens treino nenhum. Ainda.

— A Skylar treinou-te? — a pergunta escapa-se dos meus lábios antes que eu me possa conter. A rapariga dos cabelos azuis olha para mim com interesse.

— É por causa dela não é? É por causa dela que estás a fazer isto tudo? O amor é uma emoção perigosa, loirinho. Mais perigosa ainda quando envolve um membro de um gang.

— Ouve, Smurfette, eu não preciso de lições de moral. Preciso de uma arma.

— Okay, okay, guarda lá as garras! — ela diz e ergue os braços, em sinal de rendição, enquanto solta uma gargalhada trocista — Já mataste alguma coisa? Claro que não, pergunta estúpida.

Ela aproxima-se de mim e o seu olhar observa cada pormenor do meu corpo.

— Alto, não muito corpulento, mãos grandes e fortes...

De repente, ela atira-me uma faca relativamente curta. Apanho-a no ar antes que ela me atingisse.

— Reflexos rápidos... Como é a tua pontaria?

— Eu jogo basket, por isso não é terrível...

— Hmm... Estás habituado ao contacto portanto...

— Como se chama esta... Coisa? — pergunto, apontando para a arma que repousava na minha mão direita. A rapariga foca o seu olhar em mim.

— Essa é uma Kunai.

— Tipo as Kunai de Naruto?

— Isso mesmo. Como te sentes com ela na mão?

Giro a lâmina na mão e treino alguns golpes. A Saphira olha para mim com um olhar satisfeito.

— Bastante confortável. Para alguém que tem uma arma ninja na mão.

— O fundamental é escolher uma arma que sintas confortável na mão para depois aprenderes a lutar com ela mais facilmente. Mas, para já, o combate com armas não é o principal. — ela tira-me a Kunai da mão e pousa-a — Primeiro, a tua estratégia, capacidade de tomar decisões rápidas e de decifrar enigmas vai ser testada. Se a estratégia que delineares não for boa o suficiente, tu morres. Se demorares mais um segundo a decidir, tu morres. Se fores incapaz de decifrar seja o que for...

— Sim, sim, já sei... Eu morro.

Ela sorri para mim, descontraída, e eu retribuo o sorriso.

— Estás com prisão de ventre? — parece que o meu sorriso descontraído não saiu tão descontraído assim. — Tem calma, loirinho, com a minha ajuda as tuas chances de sobrevivência sobem um bocadinho.

— Tu queres ajudar-me?

— O que é que eu posso fazer? Sou uma alma caridosa, sempre pronta a ajudar.

Quando dou por ela, tenho uma espada apontada à minha garganta. Solto um grito de surpresa e ela ri-se.

— Regra nº1: Por favor, não grites. Vais chamar a atenção de todos os teus inimigos e, mais importante do que isso, não me pagam o suficiente para a consulta de otorrino se me rebentares os tímpanos — fecho a boca e sinto-me corar. Ela larga a espada e os meus músculos relaxam.

Grande erro.

A rapariga, com um movimento rápido, imobiliza-me no chão.

— VAMOS LOIRINHO! Estou a prender-te os braços e a pressionar-te a zona lombar com o peso do meu corpo. Como te libertas?

— Eu... Eu... — tento pensar em alguma forma de me libertar, tento fazer força, mas a verdade é que, da forma que ela me estava a prender, não conseguia sair. — Eu... Eu...

— MORTO — ela finalmente liberta a pressão que estava a exercer em cima de mim. — Entraste em pânico, loirinho. Regra nº2: Nunca, NUNCA, baixes a guarda. Relaxaste o corpo, logo não estavas pronto para o meu ataque. Regra nº3: Observa todos os pormenores. A forma como o teu oponente se move, a sua estrutura física, os seus pontos fracos e os seus pontos fortes. Se conseguires antecipar os meus movimentos vai ser mais fácil de te desviares.

Desta vez mantenho-me alerta.

— Vamos lá, analisa os meus movimentos, concentra-te. — a Saphira prepara-se para me atacar. Eu observo a sua postura corporal e os seus movimentos. Ela é ágil e rápida, mas é leve. Se eu a conseguir...

Vejo a perna dela mexer-se rapidamente e mal tenho tempo de me desviar do seu pontapé mortífero. Ela sorri de lado e aproveita o meu desiquilíbrio para me voltar a imobilizar no chão.

— MORTO! Tens de pensar rápido! Mais rápido! És um Angel of Fire ou és um homem morto? VAMOS AUSTIN!

Ela atacou-me 25 vezes e, nas 25 vezes, eu acabei caído no chão, completamente imobilizado. A Saphira estava apenas ligeiramente ofegante enquanto que eu aparentava ter acabado de correr a maratona.

— Acabamos por hoje. Continuamos amanhã — ela diz enquanto limpa o suor. Ela vira-me as costas para sair e eu semicerro os olhos.

Sem pensar, desato a correr o mais rápido possível mas sem fazer muito barulho. Ela vira-se surpreendida e eu, usando o meu peso e força, agarro nos seus braços e empurro o seu corpo com o pé, destabilizando-a. Ela equilibra-se rapidamente e trata de fazer uma sequência rápida de movimentos que me metem no chão em questão de segundos, completamente alheio ao que se tinha acabado de passar.

— Nada mal, pelo menos aprendeste a regra nº2 e usaste-a contra o teu oponente. — ela liberta ligeiramente a pressão e eu giro-a rapidamente, ficando eu por cima dela a prendê-la. Ela olha para mim com um sorriso divertido e rapidamente se consegue libertar. — Já estás a aprender, mas ainda tens um longo caminho à tua frente. Um caminho que eu não vou facilitar.

Ela começa a sair da sala, desta vez mantendo os músculos do seu corpo tensos.

— Saphira? — ela para mas não olha para trás — Obrigada. — ouço o seu riso leve e ela sai, deixando-me sozinho naquela sala cheia de armas.

Something BadWhere stories live. Discover now