28.

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Saio do bar, sentindo os olhares dos membros do gang nas minhas costas.

Caminho por entre as árvores até chegar ao local onde tinha deixado o carro do Hunter. Entro no carro e conduzo até casa.

Assim que chego, vou ao meu quarto mudar de calças e tirar a camisa para poder estar mais à vontade. Volto a descer as escadas e começo a afastar a mobília para abrir espaço no centro da sala. Os meus músculos contraem e os meus sentidos ficam mais aguçados.

— Ok, Austin pensa. Se te atacarem o pescoço o que fazes? Se conseguires perceber que o alvo é o teu pescoço baixa-te e ataca as pernas porque a força e os reflexos mais rápidos estarão concentrados nos membros superiores. — respiro fundo e treino alguns golpes que poderia usar. — Se já não conseguires escapar do ataque ao pescoço, o que fazes?

Quase sem pensar ergo as mãos para o sítio onde estaria a cara do oponente e empurro-a para cima. Logo a seguir, ergo a perna de forma a que esta atingisse de lado no joelho do meu oponente. Imagino-o a perder o seu equilíbrio e a libertar a pressão no meu pescoço. Agora só tenho de fazer uma coisa. Derrubá-lo. Rodo rapidamente o meu corpo 90º e utilizo o meu peso do corpo para o atirar para o chão.

Limpo o suor da testa e sorrio satisfeito. Vou tomar um banho e atiro-me para a cama, adormecendo logo a seguir.

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Acordo cedo, tomo um duche e enrolo-me na toalha. Vejo o meu abdómen coberto de nódoas negras do treino de ontem. Passo a ponta do dedo pelo lado esquerdo e cerro o maxilar para não deixar o gemido de dor sair.

Visto uma roupa prática e entro no carro. Enquanto conduzo em direção ao bar, revejo as várias formas que tinha para me libertar dos golpes da Saphira. Estaciono e, depois de caminhar uns minutos, entro no bar.

— Ora, ora, ainda não desististe? — olho para o meu lado direito e vejo a rapariga dos cabelos azuis encostada à parede. Ela dá um pequeno sorriso e aproxima-se de mim. — Vamos, temos muito que fazer hoje.

Eu sigo-a em direção a uma porta que nunca tinha visto. Ela abre-a e eu vejo que é uma espécie de ringue. Ela salta e olha para mim. Os seus olhos cintilavam com um brilho ameaçador e desafiador.

Subo também e o meu corpo fica inconscientemente numa pose defensiva. Ela endireita o corpo, fazendo-me acreditar que não ia atacar.

Estava errado.

Ela dá uma pequena corrida, simula um salto mas, em vez disso, ela baixa-se e ataca as minhas pernas. Caio no chão e vejo um sorriso convencido aparecer na cara dela. Aproveito a sua pequena distração e faço uma rasteira. Ela desequilibra-se e eu aproveito o momento para me levantar.

Fui demasiado lento porque ela em poucos segundos já se tinha recomposto e agora encarava-me com um olhar feroz.

Treinamos mais uns golpes e eu tento assimilar todos os conselhos que ela me dá. Depois de 2h paramos para descansar. Estou completamente encharcado em suor, cheio de dores e tenho a certeza que tinha aberto o lábio. A Saphira senta-se ao meu lado, apenas ligeiramente ofegante e com a pele a brilhar pelo suor. Bebo um gole de água e quase cuspo tudo quando vejo o Aiden a entrar.

Cerro os punhos e sinto a raiva a tomar conta de mim. Ele assassinou o meu melhor amigo.

— Hey Saph! — ele dá um sorriso e aproxima-se dela. Ela sorri de volta e corre na sua direção. Eles abraçam-se e ele despenteia os cabelos azuis dela, fazendo com que o rabo de cavalo dela quase se desmanchasse.

Os olhos dele param em mim e ele fita-me, algo incerto.

— Austin, não é? — quando dou por mim, ele está no chão e eu estou em cima dele, uma mão no seu pescoço e a outra a mover-se em grande velocidade em direção ao rosto dele.

Ele não reage, apenas fecha os olhos e cerra o maxilar enquanto eu lhe bato vezes e vezes sem conta. Sinto as lágrimas a escorrerem-me pela cara mas ignoro.

Quando paro para respirar, limpo a cara e olho para o rapaz à minha frente.

— Desculpa... — ele sussurra e, depois tosse, limpando o sangue que saía da sua boca. — Eu só estava a cumprir ordens e... — acerto-lhe com mais um soco e ele solta um grunhido de dor.

— CALA-TE! CALA-TE! TU MATASTE-O. TU MATASTE O MEU MELHOR AMIGO! SEU CABRÃO! TU MATASTE O HUNTER!

Vejo uma lágrima escorrer dos seus olhos e algo me diz que não é de dor, mas sim de arrependimento.

— Eu sei... Eu matei-o... Ouve Austin, eu estava a obedecer ao James e não sabes o quanto me arrependo. A Sky... — ele engasga-se no sangue e eu tiro a mão do seu pescoço, permitindo que ele virasse a cara e cuspisse o sangue para o chão. — A Sky é quase minha irmã. É a minha família. O Hunter significava imenso para ela, por isso também significava imenso para mim.  Por isso bate-me, mata-me. Eu não quero saber. Eu mereço, por tudo o que fiz. Por tudo o que te fiz.

Ele fecha novamente os olhos, como se esperasse um novo golpe meu. Puxo o braço atrás para lho dar. Mas a imagem do Hunter a sorrir, a jogar comigo, a rir-se das suas estúpidas piadas com baleias, surge na minha mente. Deixo cair o braço e as lágrimas saem violentamente, acompanhadas de um soluço.

Sinto uma mão suave nas minhas costas e vejo a Saphira. Também ela chorava. Olho para o Aiden, que continuava de olhos fechados e agarro-o.

Ele abre os olhos, surpreendido e eu ajudo-o a levantar.

— Obrigada... — ele sussurra e eu vejo admiração nos seus olhos quando ele me observa.

Largo-o e saio dali.

Something BadWhere stories live. Discover now