XVII - Filme francês ruim

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Então ficamos sozinhos, eu e Jorge, vendo um filme que era muito, muito ruim.

Tão ruim que não tinha quase ninguém no cinema, era só a gente, mais um casal nos fundos da sala e outro casal bem na frente.

"Fernanda escolheu esse filme sabendo que ninguém ia assistir pra nos dar mais privacidade", pensei comigo mesma.

Os dois começaram a demorar muito, depois de 10 minutos, Jorge quebrou o silêncio.

"Filme legal né?"

"Na verdade, estou achando ele um lixo.", respondi rindo.

Jorge sorriu e seu rosto fez uma feição de alívio.

"Que bom, eu também não tô gostando, só falei isso porque a Fernanda disse que você gostava desse tipo de filme."

"Então você mentiu pra mim?", perguntei com um tom de brincadeira.

Jorge ficou sem graça.

"Desculpa, acho que esse foi um péssimo jeito de começar um assunto."

Depois dele falar isso, percebi algumas coisas: primeiro, Fernanda mentiu pra ele, provavelmente pra justificar a escolha de um filme ruim e consequentemente, estar numa sala quase vazia, segundo, ele quis puxar assunto comigo, quer dizer que ele gosta de mim? Ou só está entediado e quer se distrair conversando? Bom, só tinha um jeito de descobrir.

"Eu pedi pra Fernanda escolher uma sala vazia pra que eu possa ter mais privacidade com você.", abri o jogo, apesar de estar mentindo, eu nunca pedi nada pra Fernanda, mas queria ver a reação dele.

"Oh sério?", Jorge olhou pra mim, com um misto de surpresa e felicidade.

"Isso é um bom sinal", pensei.

"É que eu queria te conhecer melhor, saber quem é o cara que me perdoou por ter sido uma escrota, eu te devo isso.", eu disse.

"Eu também queria conhecer melhor a vilã de novela que me envergonhou na frente de todo mundo.", Jorge respondeu, em um tom de ironia, o humor dele geralmente é assim, quase babaca, mas adorável o suficiente pra não deixar ninguém com raiva dele.

"Me bate logo", respondi rindo.

Jorge deu um sorriso, eu fiquei séria, me aproximei mais e o beijei.

Nosso primeiro beijo, de muitos.

Muitos mesmo.

Ele não esperava por essa.

E eu adorei.

Nos beijamos por uns dez segundos até que eu me dei conta do que tinha feito, parei e me virei botando a mão no rosto. Eu estava vermelha.

"Desculpa! Eu não devia ter feito isso, me desculpa! Ai meu Deus ,que vergonha!", eu disse.

Eu estava me levantando para ir embora, ele segurou o meu braço.

"Não precisa se desculpar, eu gostei do beijo.", respondeu.

Assim que disse isso, eu me sentei de novo, depois disso não dava mais pra esconder e antes que ele falasse algo, eu comecei a contar tudo, que eu gostava dele, que a Fernanda estava tentando nos aproximar e que esse rolê todo era apenas para nós ficarmos juntos.

Depois que contei tudo, já estava vermelha de vergonha, Jorge estava com uma expressão serena, quase calmo demais, eu não conseguia ler a sua reação nesse momento.

"Bela história.", disse ele, calmamente. "Que bom que você me contou isso, eu iria morrer sem ter coragem de expressar os meus sentimentos por você."

"Como assim?", perguntei.

"Eu que dei a ideia desse encontro pra Fernanda, pra podermos passar alguns momentos juntos."

Quando ouvi isso, sentir meu corpo todo se aquecer, por dentro estava dançando, por fora, estava me controlando pra não imitar a parte de dentro. O garoto que eu gosto, também gosta de mim, parecia um tipo de sonho realizado. Mas eu queria ter 100% de certeza.

"Quer dizer que você gosta de mim?", perguntei bancando a Joana-sem-braço.

"Sim, Esther, eu gosto de você.", respondeu meio desconcertado por achar que eu não tinha entendido.

Assim que ouvi essas palavras, eu dei o maior sorriso da minha vida, e ele sorriu de volta.

"O que a gente faz agora?", Jorge me pergunta.

"Acho que devemos namorar, esperar pra quê?", disse pra ele.

"Sério? Você não se incomodaria de namorar um bocó como eu?", ele pergunta, talvez ainda um pouco intimidado com a possibilidade de namorar uma celebridade.

"Você não é um bocó, na verdade, eu te acho muito perfeitinho.", assim que ouviu essas palavras, Jorge tentou disfarçar, mas seu sorriso bobo estava bem evidente.

"Ah, então eu topo...namorar...com você.", ele diz pausadamente.

"Então tá.", digo brincando.

Eu viro e continuo assistindo o filme, com um sorriso de canto de boca. Jorge também vira, com uma mistura de alegria e nervosismo.

Eu estendo a mão pra ele, Jorge olha para a mão como se não soubesse o que fazer com ela, mas depois ele a segura de volta, entrelaçando os seus dedos com os meus. Nossas mãos estavam suadas, mas nenhum de nós soltou a mão do outro.

O filme não acabava.

Jorge vira pra mim.

"Quer ir embora?"

"Quero."

Saímos do cinema de mãos dadas. Procuramos Fernanda e Carlos pelo shopping, mas não os encontramos e eles não atendiam o telefone, provavelmente estavam se divertindo sozinhos.

Como eu morava muito longe de lá, Jorge se ofereceu para me levar em casa. Ele propôs que nós fossemos até casa dele, que era bem perto e ele emprestasse o carro da mãe dele para me levar em casa.

Era isso ou andar de ônibus, nunca andei de ônibus (e agora, não posso andar mais, triste), então topei na mesma hora.
Esse foi o início do meu melhor capítulo da minha curta existência: meu relacionamento com Jorge.

Olá, Eu Morri | COMPLETOWhere stories live. Discover now