XXXV - O sonho de Jorge

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Eu ainda não tinha idade pra começar a auto escola, então pedi pra Jorge me ensinar o básico.

Ele é um ótimo motorista, mas um péssimo professor.

"Aí você coloca a marcha assim e pisa aqui, quando sentir que tem que mudar a marcha, você muda, entendeu?"

"Sim, amor", respondo eu, sem entender nada. Eu não posso exigir muito dele, aprendeu a dirigir bem cedo com a mãe, prestava atenção nela dirigindo e conseguiu entender grande parte do que tava sendo feito, então sua habilidade de direção se deve mais a observação e memória muscular do que aprendizado. Tanto que não fez auto-escola, comprou logo sua habilitação.

O sonho de Jorge era ser piloto, mas sua mãe não apoiava esse sonho, achava que ele tinha capacidade para conseguir uma profissão de prestígio, como médico ou advogado. Quando se formou, Jorge começou a fazer medicina, mais por sua mãe do que por vontade própria.

Eu sempre fiquei aflita com a situação dele, principalmente porque eu mesma nunca pensei no que queria ser na vida, porque eu já tinha o emprego dos meus sonhos.

Uma vez, consegui uma audiência pra ele com um patrocinador de corridas estaduais, mas ele não foi, não por não querer - até porque, ele estava com muita vontade de ir -, mas para não decepcionar a sua mãe, já que ele era tudo o que restava pra ela.

Eu entendo, mas nunca deixei de me sentir triste por ele.

Olá, Eu Morri | COMPLETODove le storie prendono vita. Scoprilo ora