Olá, Eu Morri | COMPLETO

XXXII - Industria tóxica

Admito que gosto muito do que faço, ser atriz é um trabalho difícil e cansativo, não é apenas decorar meia dúzia de falas e falar elas na frente de uma câmera, temos ensaios, reuniões, entrevistas, e agora com o meu cargo de produtora, ainda tenho mais coisas para fazer, nunca trabalhei tanto quanto agora, e isso está sendo muito legal.

Se não fosse meu destino trágico, acho que começaria a investir mais no meu trabalho atrás das câmeras.

É que eu sei o quanto é instável essa vida de atuação, uma hora você é o ator/atriz do momento, no outro, você tem que fazer 200 testes por mês pra conseguir um papel de coadjuvante. Como eu sei que eu não sou nenhuma Fernanda Montenegro da atuação, sei que o meu estrelato acabaria um dia, então ter um certo conhecimento de outro cargo atrás das câmeras poderia me ajudar mais pro futuro.

Assim eu não precisaria transar com algum figurão do estúdio pra conseguir um papel de destaque.

Parece ser uma piada de mal gosto, mas tenho conhecimento de alguns atores e atrizes que tiveram que fazer isso pra conseguir um papel. Por incrível que pareça, isso aconteceu mais com homens, mas as pessoas não ligam pros caras, na verdade, as pessoas não se importam com ninguém de verdade, eu fico boba com o tanto de situações que as pessoas fingem se importar.

Mulheres sofrendo assédio na indústria, as pessoas fazem a maior campanha contra, mas na realidade, ninguém lá dentro liga. Os homens que sofrem assédio, coitados, além de serem ridicularizados na indústria, não podem falar nada, já que ninguém dá a mínima, a situação é horrível pra quem passa por isso.

Você deve estar se questionando o porquê de eu continuar nesse meio, é que sempre tem o outro lado.

Enquanto existe muita toxicidade na indústria, também existe muitas pessoas profissionais e genuinamente boas. Eu tive a sorte de trabalhar pra um estúdio que me respeitava tanto como mulher, quanto como atriz, e isso é ótimo, conheço vários atores e atrizes que não tiveram a mesma sorte.

Por isso eu não largo esse meio, não por medo ou algo do tipo, é que eu amo o que faço e não me deram motivos pra não continuar fazendo.

Eu garanto que, se caso algo assim acontecesse comigo, eu largaria tudo na mesma hora, uma das melhores coisas que a minha mãe me ensinou é saber quando eu devo tomar decisões difíceis, e essa decisão eu tomaria, eu nunca vou me tornar brinquedinho de ninguém.