CAPÍTULO 22 - Barquinho

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Por mais que Müller achasse que tudo seria fácil, sua promessa não era tão simples assim de ser cumprida.

Josh havia sido obrigado a voltar a morar com o pai homofóbico devido ao "péssimo comportamento" de sua irmã, o que foi a fagulha que faltava para que o juiz acatasse o pedido liminar feito por William, na ação que ele estava movendo para manter a guarda do garoto, para que ele tivesse a guarda provisória dele até o fim do processo.

Certo, todo mundo sabia que essas ações de guarda geralmente davam preferência para os pais, com aquela ideia de manter o ciclo familiar e tudo o mais, mas existiam limites, certo? Haviam razões bem específicas para que um pai perdesse a guarda do filho e ser homofóbico e violento com um adolescente gay, com toda a certeza, era uma delas — e Calleigh, a advogada de Verônica neste processo, concordava.

Porém, de alguma forma, o fato de Verônica viver era um péssimo exemplo para o adolescente, para que assim um juiz a impedisse de acolher o irmão na sua própria casa e achasse que o melhor interesse dele, enquanto menor, estava em residir com o pai e não com sua irmã.

Agora o que uma diretora executiva, rica, bem sucedida e que dá a melhor educação possível para o irmão — que por sinal, não é mais nenhuma criancinha —, têm de errado que um pai homofóbico não tem.

Segundo a Dra. Garling, o "mau comportamento" de Verônica, algo extremamente retrógrado para a Corte ter acolhido, não seria nada se conseguissem provar o que acontecia dentro das paredes da casa, entre Josh e William — e era aí que residia o problema: eles não conseguiam provas contundentes sobre suas atitudes, tudo era meramente circunstancial. Não havia provas de que ele era abusivo, violento ou homofóbico e foi por isso que ele conseguiu a liminar e era por isso que Verônica estava preocupada e assustada.

E se eles não conseguissem provar? Josh ficaria preso àquele homem horrendo até que ele finalmente conseguisse matá-lo?

Aparentemente, ninguém acreditava que um ex-policial condecorado não fosse totalmente limpo. Tudo o que havia contra ele eram os depoimentos de Verônica (que não valia tanto assim desde que ela tinha saído da casa do pai, era sabido que eles não se suportavam e ela tinha quebrado o nariz dele com um soco não a tão pouco tempo assim) e o de Josh.

O problema? Eles só seriam ouvidos quando houvesse designação da audiência, e isso ainda não tinha acontecido, então...

O que deixava Jake ainda mais irritado era o fato de que William não gostava do filho e fazia aquilo pelo simples motivo de ver o circo pegando fogo e os punir de algo que ninguém entendia o que era.

De toda forma, Jake havia prometido que iria lhe ajudar e seria isso que faria: deixar tudo bem.

Abriu a porta do escritório de Verônica devagar. Ela estava de costas para ele, sentada entre a viga da parede e um arquivo, e observava a luz da cidade lá embaixo enquanto as lágrimas escorriam por sua bochecha e caiam na manga do seu blazer.

Ele pensou em ir embora. Se a conhecia bem, ela iria surtar e dar uma resposta atravessada que o deixaria sem graça e o faria cogitar sua existência naquele mundo se ele sequer abrisse a boca. Nos últimos tempo, pelo menos, ele definitivamente se sentia uma ameba prepotente e rastejante todas as vezes que ela voltava aqueles olhos verdes para ele, como se seus problemas não fossem nada perto do que ela estava passando, mesmo que, no fundo, no fundo, ela jamais tivesse demonstrado qualquer coisa assim, na intenção de lhe deixar mal.

Todavia, Jake fechou a porta atrás de si e se aproximou, sentando ao seu lado e abraçando os joelhos da mesma forma que ela fazia.

— Quer falar sobre isso, vizinha? — Questionou baixo e ela negou, fazendo os cabelos balançarem conforme mexia a cabeça.

Vizinhos, vizinhos, amores à parte.Where stories live. Discover now