CAPÍTULO 23 - Raiva

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Jake tinha muitas qualidades e Verônica sabia disso, mas se tinha algo que ele não era bom em fazer, era cozinhar.

Ashford se poupou de comentar sobre sua desastrosa performance e sentou na bancada da cozinha enquanto ele despejava o macarrão com o molho levemente queimado para tigela e Verônica erguia a taça de vinho. Ela observou enquanto ele se sentava e se aprumava, se servindo como se aquilo estivesse maravilhosamente delicioso.

— Não vai comer? — Jake perguntou com um meio sorriso nos lábios. Ele sabia muito bem que ela havia duvidado das suas habilidades culinárias quando o viu jogando ketchup em meio ao molho com uma cara nada animada. — Está traumatizada com a questão da linguiça no molho ainda?

— Não estava, mas agora que você tocou no assunto... — Ergueu as sobrancelhas em sua direção e ele riu, mas se serviu animado e ela fez o mesmo. Jake ergueu a taça em sua direção e eles brindaram rapidamente antes de a mulher dar a primeira garfada na gororoba estranha. Por incrível que pareça, estava excepcionalmente gostoso. — Meu Deus, isso ficou...

— É, eu sei. — retrucou convencido e ela se poupou apenas a comer o que havia servido para si.

Apesar de claramente ainda precisar direcionar toda a sua raiva para alguma coisa não potencialmente destrutiva – como um saco de areia ou algum lutador fortão que estivesse no galpão de Edgar e também disposto a brigar com ela —, a gororoba absurda de Jared tinha melhorado um pouquinho seu estado de ânimo, ainda que ela jamais fosse realmente admitir isso para ele.

Jared Müller realmente não precisava de mais nada que inflasse seu ego.

De todo modo, após comerem o macarrão de Jake, foi a vez da sua mousse, a qual ela pegou na geladeira e serviu em duas taças que encontrou no armário e ela tinha certeza que não eram destinadas a servir sobremesa – ela realmente não estava disposta a procurar onde as malditas taças de doces estavam e Jake podia lidar com isso.

Verônica entregou a taça improvisada e entregou-a a Jared junto com uma colher. Ele enfiou a colher no doce, futucando a mousse de chocolate com uma feição desconfiada.

— Você serviu na taça de vinho por que a textura é a mesma? — Jake perguntou, encarando aquilo com a mesma expressão que ela tinha feito para seu macarrão com linguiça extremamente duvidoso. — Eu não sou especialista, mas acho que mousse não é para beber.

— Isso ficou, tipo, vinte minutos no congelador, óbvio que não iria ficar com a consistência dos mousses feitos pelos chefs da mansão Frost-Müller — Verônica se defendeu, pegando uma colherada e enfiando na boca.

— Nós não tínhamos chefs em casa! — Jake disse após também experimentar o doce. Aquilo tinha potencial. Verônica ergueu as sobrancelhas, claramente sem acreditar nele. — Jean Pierre é quase da família!

A mulher sorriu convencida.

— Como eu fui me envolver com um tipinho feito você, Jared? — ela questionou, negando com a cabeça.

— Eu sou o seu vizinho bonito, rico e legal, era inevitável — ele respondeu com uma das sobrancelhas erguidas. — Além disso, você ama o meu sabre de luz.

Verônica mal podia acreditar que estava ouvindo algo como aquilo de novo. A sensibilidade de Jake pela sua situação triste era realmente tocante e ela precisava mesmo começar a fazer amigos melhores.

— Acho bom você terminar essa mousse logo, ou eu vou ter que descontar minha raiva no seu nariz e acho que você não vai ser tão bonito quando ele estiver na sua nuca — disse ela.

— Ainda bem que eu sou rico e posso comprar um nariz novo — Jared respondeu, fazendo Verônica bufar. — E vai ser bem rápido esse mousse, já que eu literalmente posso beber.

Vizinhos, vizinhos, amores à parte.Onde histórias criam vida. Descubra agora