Capítulo 9

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Eu não tinha pregado os olhos por uns minutos sequer na noite passada, vi o sol surgir através da janela aberta e constatei minhas olheiras fundas através do espelho enquanto escovava os dentes e criava a devida coragem para o que estava prestes a fazer.


Não foi uma decisão consideravelmente fácil, não foi pensada de uma hora para outra também. Remoí essa dúvida por quase três semanas desde a conversa com as garotas, e nesse meio tempo o meu corpo dava sinais explícitos de que eu precisava aprender sobre sexo, não lendo ou pedindo opiniões, eu queria praticar. Talvez fosse só a curiosidade, mas não importava, eu não queria ser mais virgem e ponto. Tinha pensado e analisado bastante antes de estar agora batendo na porta dos Herrera.


Ok. Eu estava nervosa, confesso. Tão nervosa que nem mesmo dei bola para as reclamações de Jesse quando roubei uma torrada de seu prato antes de sair correndo. Não tinha tempo para preparar o meu próprio café. Por sorte, mamãe e papai cuidavam juntos do jardim e eu consegui sair sem que eles vissem, precisei me abaixar entre os arbustos e correr rápido até o outro lado da rua. Eu precisava fazer logo de uma vez antes que a coragem acabasse.


— Any? – Foi a tia Ruth quem abriu a porta para mim naquela manhã. Sempre solicita com seu sorriso habitual, fiz um esforço para sorrir também e não demonstrar meu nervosismo – Bom dia, querida, entre.


— Bom dia, tia. – Entrei assim que ela me deu passagem. Passei os olhos pela sala, as mãos nervosas parando nos bolsos de trás do meu short jeans.


— Eu estou de saída, mas você pode ficar à vontade. – Só então reparei que ela ajustava a bolsa sobre um ombro – Estou indo ao mercado, a Maite ainda está dormindo.


— Eu sei. – Nós duas demos risada. Já era um costume eu vir até aqui e acabar despertando Maite de seu sono até tarde nos sábados. – Mas eu vim aqui pra falar com o Poncho.


Tia Ruth estava pronta para responder quando o barulho de passos vindo da escada chamou nossa atenção. A vi sorrir como se dissesse “ai está ele” assim que Alfonso surgiu no topo, descendo os degraus calmamente. Pelo visto, tinha acabado de sair do banho, os cabelos úmidos e o aroma da loção evidenciavam.


— Bom, eu vou indo, até mais tarde, meu amor. – Tia Ruth deixou um beijo estalado em minha bochecha antes de sair, sorri acenando e fechei a porta, recostando-me sobre a mesma, para observar Alfonso descer as escadas ainda sem notar minha presença.
Durou segundos, apenas. Logo seus olhos alcançaram os meus, e então um sorriso sem dentes desenhou seus lábios. Não sei explicar a sensação de ter o estômago revirando que senti no mesmo instante.


— Bom dia, garota. – Ele disse – Hoje é sábado. Caiu da cama?


— Na verdade eu não preguei o olho a noite inteira. – Soltei um riso nervoso, com uma careta, e ele se aproximou para deixar um beijo em minha bochecha.


— Você não costuma ter insônia. – Disse, convicto. Então seus olhos esquadrinharam meu rosto. – Estava ansiosa para alguma apresentação de ballet que eu não sei, garota?


— Não, nada disso. – Neguei prontamente, só então notei o quanto estávamos próximos.


Logo os pensamentos da noite passada retornaram e meu nervosismo pareceu triplicar. Meus olhos captavam os dele, e então seus lábios.


Vamos lá. Coragem, Anahí, não dá para voltar atrás agora. ”


Eu repetia a mesma coisa mentalmente somente para a coragem não se dissipar de uma vez. O que eu perderia se caso ele não aceitasse afinal? E se só invés do ‘não’, ele me desse um ‘sim? ’

O Preço de um SonhoWhere stories live. Discover now