Capítulo 13

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Anahí


O local era arborizado e consequentemente bastante ventilado, a entrada se dava por meio de uma trilha natural de eucaliptos, a terra estava úmida e Sophia reclamava sem parar da sujeira no próprio tênis. O colégio havia se responsabilizado na montagem das barracas, e todo o espaço fora dividido entre a acomodação masculina e feminina para evitar que ambas as alas se misturassem. As refeições seriam servidas em conjunto, e a limpeza e organização contaria com a ajuda de todos os alunos.


Dividi a barraca com Sophia, que naquele ano ficara maior pela falta de Maite, que de longe era a mais animada em todos os anos, e nesse, em especial, a vida havia se encarregado de mudar seus planos, afinal não conseguiria se divertir com o constante mal-estar causado pelo início da gravidez.


Nos acomodamos entre travesseiros, edredons e alguns livros, tudo com intuito de deixar o pequeno espaço o mais parecido possível com nosso quarto. Jesse e Alfonso certamente dividiriam a mesma, mas eu bem sabia que como em todos os anos, seria o último lugar que iriam ficar durante a noite.


– Não é a mesma coisa sem a Mai. – Constatei, enquanto organizava os objetos de higiene pessoal.


­– Fico tão preocupada, mas ela simplesmente não atende e nem retorna nenhuma das duzentas ligações que faço por dia. – Sophia respondeu, reorganizando o que eu havia acabado de organizar.


– Ela precisa de um tempo, não é fácil. – Defendi, e puxei minha escova de cabelos da mão dela. – Deixa minhas coisas. – Protestei.


– Escova de cabelo não pode ficar perto da escova de dente. Deixa isso aqui. – Tomou o objeto da minha mão e colocou dentro do nécessaire.


– Chata, chata, chata, mil vezes chata. – Mostrei a língua irritada.


Discutimos o resto da tarde, e cheguei a pensar dez vezes na possibilidade de procurar outro lugar para dormir. Sophia estava estranha, parecia tentar desviar de todo e qualquer assunto mais sério, não me olhava nos olhos, sem contar na inquietação extrema. Logo eu que estava ansiosíssima para contar-lhe que não era mais virgem, e se quer tive oportunidade de iniciar o assunto, uma vez que ela mal terminou de organizar as próprias coisas e saiu afirmando que seguiria a atividade de ciclismo, que eu me lembre ela nunca gostou de acompanhar os passeios e nunca aprendera a andar de bicicleta. Bizarro.


Caminhei até uma espécie de praça improvisada, os bancos eram tocos de árvores, lembrava cena de filme, a sombra das folhas propiciava um clima agradável, então me acomodei e ajustei os óculos, e imergi logo em seguida na terceira tentativa de concluir o livro. Era um romance, e como já havia dito, não é dos meus preferidos. Mas fora indicação da Soph, e eu bem sabia que não me deixaria em paz até que finalizasse, essa foi a motivação necessária.


As horas passaram arrastadas, pude ouvir o burburinho dos demais alunos, o som de violão seguido de vozes desafinadas, o encontro seguia animado. E então pensei em Alfonso, normalmente nós mal nos encontrávamos nesses dias, só sabia por alto dos banhos de cachoeira, da bebedeira no luau improvisado, a única coisa que não fazia, era dormir, diferente de mim. E pela primeira vez fiquei curiosa para saber onde ele andava e o que fazia.

O Preço de um SonhoWhere stories live. Discover now